21. KALEL

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Não entendo quando Alana se afasta e volta pra pista de dança ignorando o que acabou de acontecer. Tento ir atrás dela mas sou impedido pela minha irmã.
- Estou te procurando cara.
- Agora não Jô - me apresso em dizer.
- O quê foi aquilo na pista de dança? Você a Alana e o Pedro?
- Pedro é ex namorado dela. Eu não sabia e quando vi eles se beijando - torci os lábios - Eu não pensei direito, só cheguei falando um monte de merda - dou um suspiro.
- Tá, mas por quê ela beijou ele? Eles estão juntos?
- Não, ele é um otario.
- Eu avisei que deveria ter outros pretendentes - ele bebe o líquido transparente em seu copo.
- Cala a boca - reviro os olhos.
- E depois?
- Eu a beijei.
- Você o que? - ela quase engasga.
- Eu não consegui me controlar eu precisava sentir o beijo dela, saber se ela iria corresponder.
- E...
- Ela correspondeu. Na verdade foi o beijo mais intenso que já dei na vida e tenho certeza que pra ela também. Não sei explicar apenas sinto.
- E cadê ela agora?
- Voltou pra pista de dança - volto meus olhos para a pista e a vejo dançando com Derik ‐ QUE PORRA É AQUELA?
- O quê? - Jô olha na mesma direção que eu - Calma, respira é só uma dança.
- Calma o caralho, essa garota tá brincando comigo - ameaço ir até lá mas sou impedido pela Jô.
- Vai fazer o quê?
- Vou quebrar a cara daquele idiota.
- Você não pode fazer isso Kalel.
- Quer apostar?
A olho intensamente e caminho em direção aos dois. Quando chego mais perto vejo que Alana está tentando se desvencilhar de Derik, então chego afim de intimidar o cara.
- Você não ouviu o que ela disse? Caí fora - o empurro.
- Calma cara, a menina tava toda soltinha comigo e agora fica se fazendo de santa - ele sustenta um sorriso cínico nos lábios e isso me dá ainda mais vontade de quebrar a cara dele.
- EU NÃO... - Alana ameaça ir pra cima de dele mas eu a detenho enquanto ele se afasta.
- Porque fez isso? - tento manter a calma.
- Fiz o quê? - ela ajeita o vestido em seu corpo.
Aliás ela está extremamente gostosa. Até então só a via de jeans ou moletom, mas hoje ela tirou o dia pra me deixar excitado e irritado.
- Dançar daquele jeito com um cara que você nem conhece.
- Para de estragar minha noite - ela diz irritada.
- Como? se você não para de estragar a minha? - Eu passo as mãos pelos cabelos, pela milésima vez só essa noite.
- Eu tentei ir embora você se lembra ?
- Não faz isso - eu praticamente rosno.
- Fazer o que?
- Jogar pra mim como se fosse minha culpa você se esfregar em um desconhecido. Primeiro beija um cara comprometido e agora isso - balanço os braços diante de meu corpo mostrando toda a minha irritação.
- Você não pode estar falando sério -  ela da uma gargalhada debochada.
- Interrompo? - Katarina se aproxima de nós. Eu conheço aquele olhar e sei que boa coisa não é.
- Claro que não Katarina - ela revira os olhos.
- Ei Kalel dança comigo - ela passa os braços em volta do meu pescoço e começa a se movimentar lentamente.
- Eu não quero - retiro seus braços.
- Por que não?
- Não estou afim.
- Só um pouquinho - ela me surpreende com um beijo que não estava na minha lista de afazeres hoje. Apoio minhas mãos em seus ombros e a afasto. Quando olho ao redor não vejo mais Alana. Olho por toda parte, estou perturbado de mais para conseguir encontra lá. Tem muitas pessoas e isso está me deixando ainda mais irritado.
- Por que fez isso Katarina? - quase grito.
- Porque você é meu e já cansei desse joguinho.
- Não tem joguinho nenhum. Quando eu terminei com você, não era joguinho, era sério - passo as mãos pelo rosto e respiro fundo - ela deve estar me odiando agora.
- Eu espero que sim - Katarina abre um sorriso.
Quero falar tudo o que está engasgado aqui dentro pra Katy, mas esse não é o lugar e nem a hora. Se eu deixar toda a raiva sair, essa festa vai por água abaixo e apesar de ter sido um desastre pra mim, minha irmã parece feliz e não merece que eu acabe com tudo tendo um ataque de raiva. Olho para Katarina com indiferença e simplesmente me afasto.
Subo pro meu quarto retiro a camisa, me sento a beira da cama e ligo pra Alana, mas só dá caixa postal. Tento mais um monte de vezes e nada.
Olho a hora no celular e já são quase cinco da manhã. A festa segue animada lá embaixo enquanto estou aqui pensando se deveria bater na casa dela a esse horário, mas logo me lembro que nem sei o número de seu apartamento.
- Claro, como não pensei nisso antes - digo a mim mesmo.
O pai dela trabalha pro meu, com certeza seus dados estão em algum lugar.
Corro até o escritório do meu pai e acesso seus e-mails e lá está, todos os dados de Marco. Anoto tudo em meu celular e volto pro meu quarto.
Visto a mesma blusa que estava e jogo uma jaqueta por cima.
Passo por todos os convidados e minha irmã me segura pelo braço.
- Aonde você vai?
- Preciso ver a Alana.
- Kalel, agora são cinco da manhã.
- Eu sei que horas são.
- Não pode ir atrás dela agora.
- Não só posso como vou.
- Vai bater na casa da garota as cinco da manhã?
- Bom, se tiver uma ideia melhor.
- Que tal ligar ao invés de ir até a casa dela?
- Bom, se essa fosse uma opção viável eu não estaria indo até lá.
- Tá bom - ela suspira.
Dou um beijo em sua testa, pego meu carro e dirijo até a casa de Alana.
Estaciono um pouco a frente e tento ligar pela milésima vez, mas novamente caí na caixa postal.
Desço do carro e confiro a hora, já são seis horas, tenho certeza de que o pai dela ainda não acordou e de que provavelmente ela está apagada a essa hora, mas não êxito e toco o infernofe.
- Quem é? - a voz sonolenta do outro lado pergunta e sei que é ela.
- Ah, oi - respondo sem jeito - sou eu, Kalel.
- Que horas são? - Posso imagina lá coçando os olhos ao me perguntar isso.
- Agora são seis da manhã. Você está bem ?
- O quê você está fazendo aqui a essa hora?
- Seu telefone só dava caixa postal e eu precisava falar com você.
- Descarregou - ela responde com indiferença.
- Você sumiu ontem a noite e...
- E aí resolveu vir aqui na minha casa? - ela me interrompe.
- Sim - limpo a garganta - desce, preciso falar com você.
- Desculpa, mas não vou.
- Por favor Alana.
- Você ouviu o que eu disse?
- Sim. Tudo bem vou sentar aqui no meio fio esperando até a noite se for preciso.
- Qual é o seu problema?
- Meu problema? Nós temos um problema e precisamos resolver.
- Não temos que resolver nada. Você me beijou e depois beijou Katarina. É isso.
- Vai fugir de tentar resolver as coisas? Não pensei que você fosse assim - a desafio.
- Idiota - ela rosna - Já estou descendo.
Aguardo por alguns instantes e ela aparece usando o mesmo vestido de ontem, um moletom azul, tênis e os cabelos amarrados do jeito que gosto.
- Fala logo o que você quer?
- Chegou bem ontem a noite? Fiquei preocupado com você.
- Eu estou bem. Pedro me trouxe ontem a noite.
- Ele o quê? - meu humor muda e sinto aquela raiva vir a tona.
- Me trouxe..
- Como você pôde? O cara namora porra.
- Ele me trouxe em casa só isso - ela responde tranquilamente.
- Só isso Alana?
- Sim, só isso. E de que isso importa pra você? Se é pela sua amiga Karen não se preocupe não curto homens comprometidos.
- Não foi o que pareceu quando você beijou ele - a provoco.
- Eu não sabia - sua raiva fica evidente - Agora você - ela faz uma pausa - tem uma e fica vindo atrás de mim.
- Ela não é minha namorada.
- Bom, você beijou ela.
- Ela me beijou.
- E você correspondeu.
- Não correspondi caralho - me altero - Você não deveria ter vindo com ele, eu iria trazer você.
- Você estava beijando a Katarina, queria que eu fizesse o que? Esperasse você terminar pra me trazer em casa?
- Ela me beijou e quando me afastei você já tinha sumido. Eu te procurei mas não encontrei.
- Pra quê? O que você quer comigo?
- Conversar sobre ontem - solto um suspiro - Podemos entrar aqui está frio.
- Não.
- Então vamos tomar um café?
- Não sei se deveria sair com caras comprometidos.
- Haha... entra no carro e vamos logo.
- Você não manda em mim sabia ?
- Por favor?
Ela respira fundo e olha pra trás para se certificar de que seu pai não havia acordado - Um café e nada mais.
Faço que sim com a cabeça e vamos em direção ao meu carro.
Rodamos pouco e encontramos uma padaria próxima de sua casa.
Entramos no estabelecimento ainda vazio, fizemos o nosso pedido e sentamos em uma mesa mais pro fundo da loja.

Entramos no estabelecimento ainda vazio, fizemos o nosso pedido e sentamos em uma mesa mais pro fundo da loja

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- Posso te perguntar uma coisa? - ela apoia os cotovelos sobre a mesa e me encara.
- Claro.
- Por que você quis a minha ajuda no trabalho de inglês se você é fluente ?
- Só queria passar um tempo com você.
- Por que?
A garçonete se aproxima com nosso pedido nos interrompendo por um breve momento. Elas nos serve e logo em seguida se afasta e o silêncio toma conta do nosso pequeno espaço.
- Não vai me responder? - ela me pressiona.
Dou um gole no meu café e a encaro - Eu só queria um tempo a mais com você pra tentar entender o que estava acontecendo comigo.
- E conseguiu?
- Sim, mas depois do beijo de ontem eu ...
- Ok, já entendi.
- Entendeu o que garota? Eu nem terminei - a observei encarar a porta evitando me olhar - aquele beijo, não sei explicar mas eu nunca senti aquilo antes. Não consegui parar de pensar em você e quando vi que você tinha ido embora, a festa não tinha mais sentido pra mim.
- Acho que podemos parar por aqui - ela ameaça sair.
- Não, por favor - a impeço.
- Você tem aquele lance com a Katarina, eu não posso estar no meio disso Kalel.
- Não tenho lance nenhum com ela. Eu juro que acabou.
- Então porque ela está sempre te rodeando?
- Porque a gente cresceu junto, ela foi minha primeira... - faço uma breve pausa- bem, você sabe e tem a questão dos meus pais com os dela.
- Quais questões?
- É sobre nossa família de querer que eu e ela...
- Não entendo - ela balança a cabeça.
- Eu também não, coisa de gente velha sei lá. Eu nunca quis namorar aí você apareceu. No início fiquei confuso, precisava de um tempo só nós dois pras coisas ficarem mais claras pra mim e então...
- Acho que já deu por hoje.
- Me escuta Alana - seguro uma de suas mãos - isso tá me sufocando e eu preciso por pra fora - a encarei - quando vi você beijando o Pedro meu coração disparou. Tentei ignorar mas quando percebi eu já estava lá falando com vocês. Eu não sei se consigo mais ficar sem você, a ideia de te ver só na faculdade me sufoca.
- Você nem fala comigo perto dela e dos seus amigos.
- Porque se eu me aproximar eu vou querer te abraçar e te beijar. Conversar não é o suficiente. Eu te quero, é isso - digo tudo de uma só vez.
- Uau - ela parece surpresa.
- Eu te falo tudo isso e você me responde com um "uau" ?
- É que eu realmente não sei o que dizer.
- Pode começar por me dizer como se sente em relação a isso. Por favor..
- Eu não sei, quer dizer estou confusa.
- Por que ? Só quero saber se é recíproco.
- Desculpa. E..eu não posso - ela se  levanta mas eu a seguro pela mão.
- Por favor - imploro.
Ela respira fundo e volta a se sentar - Eu não sei o que sinto por você.
- É o Pedro, você ainda o ama ?
- Não, não é isso é que eu apenas não sei.
- Tudo bem.
- Mesmo?
- Claro que não! Eu praticamente me declarei pra você pra ouvir um não sei e você me pergunta se está tudo bem ? - abro um sorriso carregado de decepção - quer saber? esquece!
- Kalel as coisas não se resolvem assim eu só não sei exatamente o que pensar sobre tudo isso.
- Vamos vou te levar pra casa.
- Mas eu não acabei meu café - ela aponta para o copo em cima da mesa.
- Tudo bem, pode ficar, estou indo.
Me levanto e saio pela porta a deixando sozinha. Estou quebrado de mais para estar ali com ela dividindo o mesmo espaço sem poder ter ela da forma que quero. Eu a beijei e sei o que ela sentiu porque senti o mesmo. Fomos conectados através daquele beijo e ela sabe, mas não está pronta pra mim. Não sei como digerir tudo isso de forma saudável. Preciso dela mas aparentemente ela não precisa de mim.
Entro em meu carro e jogo a cabeça pra trás pensativo.
Eu deveria voltar lá e me humilhar para que ela veja o quanto preciso dela, mas sou orgulhoso de mais pra isso. Respiro fundo e dou a partida em meu carro fazendo o caminho de volta pra casa.

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