Capítulo 09

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Uma vez que Kathy fora deitada na maca para ser examinada, Emma ficou de pé ao seu lado segurando sua mãozinha para que não sentisse medo. O médico se aproximou devagar, a expressão de seu rosto dava a percepção de um homem bastante tranquilo.
MD– Oi, Kathy – disse ele tão logo se aproximou da maca. – Eu sou amigo do seu vovó Killian, meu nome é Wilian. O pessoal do hospital costuma me chamar assim. Mas como você é minha amiguinha, pode me chamar de Dr. Will. Agora diga-me, onde está o seu dodói princesa?
Com olhinhos tristonhos Kathy olhou do médico para o Mãe. Emma beijou sua mãozinha como se dissesse que estava tudo bem. Ela tornou a olhar para o médico e, por fim, falou.
Ka– Tá dodói na baíguinha. Muito, muito dodói – disse ela com a voz chorosa. Seu rostinho era o reflexo da dor que estava sentindo.
MD– Vamos ver – murmurou o médico passando a examiná-la cautelosamente, deixando barriguinha por último. Assim que apalpou a barriga, Kathy soltou um grito desesperado de dor, ato esse que fez Regina saltar da cadeira com o coração acelerado, indo rapidamente para perto da maca.
Bastou apenas uma olhada a filha deitada na maca e o mundo se tornou pequeno. Naquele momento os olhos de Regina se deparou o rostinho da filha tomada pela dor. Foi inevitável e, sem que se desse conta, lágrimas se acumularam em seus olhos. Entorpecida pela angustia que aquelas dor causaram, ouviu a voz do médico soar como se estivesse distante.
MD– Me desculpe anjinho – disse o médico –, eu precisava mesmo pegar em sua barriguinha – lançando um olhar breve para Regina, ele completou. – Pode vesti-la mãe.
Regina não rejeitou o tratamento dado pelo médico. Pelo contrario, aquilo fez seu coração se aquecer com uma emoção só sentida do nascimento de Kathy. Discretamente, passou os dedos no canto dos olhos limpando as lágrimas.
O médico voltou a sentar e Emma o acompanhou. Enquanto ele mexia no computador, Emma apreensiva aguardava pelo diagnostico.
Ali, no lado oposto onde eles estavam, REgina cuidava de Kathy como se estivesse cuidasse do cristal mais valioso de todo o mundo. Com muito cuidado ela a colocou sentadinha na maca. Kathy gemeu sentindo dor, imediatamente Regina afagou sua barriguinha. Os olhinhos Verdes, cheios de lágrimas, estavam vidrados na mama Gina.
Até então o consultório estava em silêncio, apenas o som do teclado do computador emitia um pequeno barulho enquanto o médico digitava algo no prontuário.
Mas a audição materna se aguçou ao ouvir a voz dele quebrando o silêncio.
MD– Vou passar um exame de sangue e um ultrassom de abdômen apenas por desencargo de consciência. Mas estou certo de que é uma crise de apêndice. Pelo que estou vendo é necessário interná-la para uma pequena cirurgia.
Suas palavras deixaram Emma ainda mais preocupada, espantada.
E– Cirurgia – repetiu Emma, ainda não acreditando que fosse mesmo verdade. – Ela passou por um checkup completo há pouco mais de um mês. Fora a anemia e está um pouco abaixo da linha de crescimento está perfeitamente normal.
MD– Não se preocupe, é algo bem comum – tranquilizou o médico. – Não sabemos explicar qual o processo que leva o apêndice a inflamar, mas acontece e é imprevisível. Se houver vaga a operamos ainda hoje, e depois de amanhã já terá alta. Faremos um procedimento por laparoscopia. Três cortes pequenos. Claro que em toda cirurgia há riscos, mas este é um procedimento bem seguro e temos a melhor equipe de cirurgia pediátrica da região. Cuidaremos bem de sua filha. Sua garotinha estará em boas mãos. Pode ficar tranquilo.
Com semblante assustada, tentando reagir ao choque que o diagnostico lhe causou, Regina sentou na cadeira ao lado de Emma, com Kathy no colo. Ela era o reflexo do desespero. Ainda com bastante dor, Kathy estava amuada no colo da mama “Gina”, algumas vezes passava as mãozinhas na barriga, com muxoxos de choro.
MD– Aguardem um minuto – comunicou o médico, enquanto chamava uma enfermeira.
Com olhar consternado Emma acarinhou os cabelos finos de sua filha, imaginando a luta que seria para realizar os exames. Kathy tinha parvo a agulhas.
Não levou mais que alguns segundos, uma enfermeira entrou no consultório trazendo os papeis necessários para que fosse realizado o procedimento médico.
Ef– A senhora pode assiná-los, por favor – ela pediu.
Angustiada, Emma  afastou a mão que acarinhava os cabelos da filha, para poder receber os papeis. Antes de assinar, ela olhou brevemente para Regina, que estava com semblante preocupado, concentrada, dando carinho a Kathy.
Ef– Vocês podem me acompanhar, por favor – comunicou a enfermeira.
MD– Nos encontramos em alguns minutos – avisou o médico.
Emma  e Regina angustiadas ficaram de pé ao mesmo tempo. Regina encostou a cabecinha de Kathy ao seu ombro, lhe fazendo afago nas costas em uma tentativa fracassada de lhe dar um pouco de alivio no desconforto que a dor lhe causava.
A enfermeira os conduziu pelos corredores até um quarto, onde entregou uma roupinha do hospital para que vestissem em Kathy. Os olhos de Emma arderam com acumulo de lágrimas ao segurar aquela roupa. Não era pra ser assim. Não podia ser assim, foi o que pensou ela.
Regina desejou poder mudar aquela cena, quis poder trocar de lugar com a filha. Faria qualquer coisa para não vê-la sofrer. Não era justo que tão pequena tivesse que passar por isso. Tudo isso lhe deixava impotente, totalmente fracassado.
Mais uma vez, Regina trocou a roupinha de Kathy com todo cuidado do mundo. Era uma tarefa bastante incomoda considerando que a Kathy estava sentindo fortes dores abdominais.
A primeira luta foi o exame de sangue. Kathy tinha pavor a agulhas era um verdadeiro sacrifício quando tinha que toma vacinas no primeiro ano de vida.
Bastou ver a enfermeira se preparando com a seringa na mão, para Kathy entrar em pânico.
Ka– Não. Gula não, mamãe. Gula não... – implorou em meio ao choro.
Emma engoliu em seco, lutando contra o aperto que se formava no peito, ao ouvir a filha implorando para que não usassem agulhas. Ela sabia, que a filha tinha medo sempre que envolvia agulhas.
Cuidadosamente, ela a retirou dos braços de Regina e sentou na poltrona com ela no colo.
E– Mamãe não vai mentir amor, dói. Mas é bem pouquinho. É só um furinho e acabou. Ninguém vai te machucar. Mamãe vai ficar aqui com você o tempo inteiro. Não tenha medo anjinho.
Ka– Não mamãe. Gula não. Não... – mais uma vez Kathy implorou, com os lábios tremendo, pendendo em um beicinho. O medo aterrorizante cravado em seus olhinhos.
Emma olhou resignada para a enfermeira e então avisou:
E– Vou ter segurá-la.
E foi exatamente o que ela fez. A enfermeira foi rápida e agiu no procedimento, mas, mesmo assim, Kathy se esperneou, gritou e se contorceu nas mãos de Emma. Regina abraçou o próprio corpo sentindo o desespero de Kathy tomar conta de seu coração. Apertou o tecido da blusa, no lado esquerdo do peito, sofrendo junto com ela. Queria consolá-la, desejava protegê-la. Queria obrigá-los a parar com aquilo, mas não podia, era um mal necessário.
Mesmo com o coração apertado, Emma se manteve firme segurando seu anjinho contra a vontade dela.
Depois de muita luta, a enfermeira colocou um acesso no bracinho dela e de lá retirou um pouco de sangue. Injetando em seguida um analgésico e um antitérmico receitado pelo médico.
Em meio a toda aquela luta, choro e gritos, o celular de Emma tocou. Não tendo como atender, pediu ajuda a Regina.
E– Regina – ela a chamou, a morena levou alguns segundos para perceber que Emma a chamava. A dor de sua filha havia se tornado sua dor. Estava mergulhando no sofrimento de Kathy sem que pudesse evitar. – Regina – ela insistiu. Regina a olhou parecendo bastante assustada, confusa também. – Atende pra mim, por favor. Se for minha mãe explique a ela o que está acontecendo – Emma indicou com a cabeça, o celular dentro da bolsa. Ela não tinha duvida que Marian tinha avisado sua mãe sobre o estado de Kathy. Regina enfiou a mão na bolsa, alcançando o celular.
Levando o celular ao ouvido, ela saiu do quarto.
Alguns segundos depois, o analgésico começava a fazer o afeito temporário, Kathy tinha parado de chorar, exausta, encolhida no colo de Emma.
Ela estava distraída, pensando em tudo que estava acontecendo em sua vida, quando Kathy chamou a sua atenção.
Ka- Ade a mama Gina?
Emma sabia o quanto Kathy havia desejada conhecer Regina, Ela sempre disse que a Kathy que Regina a amava e que quando ela tivesse pronta ela voltaria e faria parte da vida dela e apesar de ter apenas 19 meses quase 20, ela entendia isso. Mais o que ela não sabia era se Regina estava preparada para ter um  relacionamento com sua filha. E se ela não tivesse. Ela Não conseguia imaginar uma forma de dizer isso a Kathy agora que a conheceu sem despedaçar seu pequenino coração.
E– Filha... – Emma pareceu buscar as palavras certas para falar. – Não sei se a mama vai ficar com você.
Ka- Polque, ela não gota de Kathy
E-Claro que ela gosta meu amor. Lembra que a mamãe disse que a mama Regina amava você, mas que ela tinha uma coisa muito seria pra resolver e só quando ela resolvesse ela voltaria pra você.—Kathy apenas assentiu.- então eu acho que ela ainda não resolveu esse problema, mas ela ama muito, muito você. Intende?. —Kathy afirma novamente.
Ka- Pobema de aulto, mas mama Gina ama Kahty. – Diz com a vozinha sonolenta.
E- É isso ai meu amor mama Regina ama você.—Da um beijo na testa da filha.
Emma não se deu conta disso, mas, Regina voltara, ainda com o celular na mão, depois de ter esclarecido a situação toda com Mary e, antes de abrir a porta, acabou ouvindo parte da conversa entre ela e Kathy. Por um momento ela se viu sem reação. Pode quase sentir todo o amor e cuidado nas palavras ditas por Emma.
Antes de girar a maçaneta respirou fundo sabendo o que tinha que fazer. Nunca esteve tão certa sobre seus sentimentos. Estava prestes a entrar naquele quarto e implora se for preciso, pra que Emma a deixasse fazer parte da vida de sua filha. Mas não teve tempo. Assim que girou a maçaneta, uma enfermeira apontou no corredor, pedindo licença ao passar por ela, entrando no quarto. Regina entrou logo atrás, e naquele momento soube que era hora de mais um exame.
Os olhinhos tristes de Kathy capturaram imediatamente sua presença.
Ka– Mamãe Gina, você vai embola?
Regina se aproximou e entregou o celular a Emma. Depois estendeu a mão para tocar os cabelos escuros de Kathy, sendo tomada por uma forma de amor só sentida por uma mãe.
R– Não. Eu vou ficar com você princesinha.
Os olhinhos de Kathy brilharam com a resposta que recebera. Ela virou o rostinho, buscando o olhar por Emma.
Ka– Ela não vai embola mamãe. A mama Gina vai fica.
Emma afagou a mãozinha dela.
E– É amor, ela vai ficar... – murmurou, mesmo não tendo certeza de que ela realmente ficaria. Regina vinha se mostrando imprevisível e isso a assustava, porque não queria que sua filha se magoasse.
Educadamente a enfermeira, mais uma vez, pediu que elas a acompanhasse. Dessa vez para a sala de exames onde seria realizado o ultrassom abdominal. Ela verificou o acesso no bracinho de Kathy antes de liberá-la, e Emma a levou no colo.
Já na sala de exames, pediu que ela a colocasse na maca. O médico já estava na sala à espera delas, e educadamente os recebeu.
Ka– Não, mamãe – Kathy pediu apavorada, tentando levantar da maca. – Mama, mama... Mamãe.
E– Não vai doer meu amor – sussurrou Emma. – Não tenha medo filha. Mamãe vai ficar aqui com você o tempo todo.
Regina se aproximou da maca tocando o bracinho de Kathy, fazendo um afago, lhe confortando.
R– Não precisa ter medo bebê – murmurou Regina, com a voz suave. – É só um gelzinho gelado na sua barriga para que o médico possa ver dentro do seu corpinho. Ele precisa ter certeza do que está lhe causando o dodói.
Mesmo não querendo ficar na maca, ela aceitou. Regina ficou o tempo inteiro fazendo carinho em sua mãozinha. Emma estava ao lado, observando as duas, implorando aos céus que sua filha não saísse magoada. Ela olhou para o rostinho de Kathy e percebeu que os olhinhos dela estavam vidrados em Regina.
O exame foi rápido logo Regina sentou na beirada da maca, tentando consolá-la, fazendo carinho nos cabelos, lhe sussurrando palavras de conforto.
Os exames confirmaram o diagnostico. O exame de sangue indicou uma melhora considerável na anemia. A cirurgia foi marcada para as vinte horas daquele mesmo dia.
Kathy foi levada de volta ao leito onde aguardaria o momento da cirurgia. Depois dos resultados confirmados, Emma ficou ainda mais quieta e preocupada.
Regina sempre ao lado de Kathy, cuidando e lhe dando carinho. Às vezes se pegava olhando para Emma, e tentava decifrar o que ela estava pensando. Aquela Emma a intrigava e causava sentimentos que ela não sabia explicar.

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