Capítulo 16: Torre de segurança.

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Segui Cold pelos corredores, incomodada com o silêncio dele. Parecia que uma bomba estava prestes a explodir na minha cabeça, com o quão tenso o clima estava entre nós dois. Não havia decidido se era pior enfrentar Gia, ou um Cold muito furioso comigo. Mas pelo menos ele não estava apontando uma faca para a minha garganta.

Entramos em um elevador e eu me cuidei para não cair em cima de Cold toda vez que ele mudava de direção, me deixando sem equilíbrio por alguns segundos. Ele não olhou pra mim em nenhum momento, saindo do elevador com a mesma expressão determinada que havia entrado. Quase tropecei nos meus pés quando vi Neo no final do corredor, de guarda em uma das portas.

—Providencie um carro, Neo. —Cold afirmou, fazendo o loiro assentir, me lançando um olhar demorado antes de puxar um comunicador e fazer o que Cold havia mandado. —E eu quero o Tyler.

—Sim, senhor. —Neo respondeu, antes de se virar e abrir a porta de metal, depois de digitar um código no painel ao lado dela. Cold foi na frente, sem perceber o olhar mortal que eu recebi do soldado quando segui atrás dele. Não tinha dúvidas que logo Thalia e Gia iam ficar sabendo sobre minha saída dali com Cold.

Eu e Cold saímos em um tipo de estacionamento, porque haviam milhares de carros para todos os lados que eu olhava, de diferentes tipos. Nunca tinha visto um tão de perto, assim como nunca tinha andado em um. Aquilo me deixou ansiosa, porque tinha certeza de que isso significava que iríamos sair lá fora.

—Seu irmão já acordou. —Cold falou depois de alguns segundos, parando de andar e se virando pra mim, enquanto eu absorvia aquela informação como se estivesse recebendo um choque elétrico no meu coração. —Ele está muito melhor. Eu teria te avisado antes, se você não tivesse resolvido fugir das aulas de treinamento e me evitado esses dois dias.

—Eu posso ir vê-lo? —Indaguei, e teria sorrido se a expressão no rosto dele não fosse tão séria quando ouviu minha pergunta. Ele nem mesmo precisava responder para que eu soubesse que aquilo significava um não. —Por que vamos a cerca de contenção? O que tem lá?

—Porque quero saber o quão longe você iria para sobreviver. —Afirmou, me fazendo unir as sobrancelhas quando não entendi o que aquilo significava. —Você pegaria numa arma e atiraria em alguém se isso fosse salvar sua vida?

—Se fosse uma situação real? Sim, é claro. Não pensaria duas vezes. —Respondi sem hesitar, sentindo minha boca ficar seca quando algo passou nos olhos dele, antes de desaparecer quando ele inclinou a cabeça de lado, me analisando. —Mas isso não é uma situação real. Estamos apenas treinando, não é?

—Você acha? —Ele continuou me olhando, mesmo quando eu desviei os olhos e encarei o carro preto que se aproximava, parando bem atrás de Cold. —Vamos descobrir se isso é treinamento ou vida real então.

Ele abriu a porta do carro, indicando com a cabeça que eu entrasse. Hesitei, sentindo o nervosinho borbulhar nas minhas veias quando pensei no que aquilo poderia significar e o que Cold pretendia fazer comigo. Mas quando ele ergueu as sobrancelhas, parecendo estar perdendo a paciência, entrei no carro e me sentei, com a respiração presa na minha garganta.

—Passe o cinto. —Ele bateu a porta do meu lado, me fazendo estremecer de susto.

Minhas mãos estavam soando quando me virei e procurei o cinto, até encontrar a faixa grossa que eu imaginava ser ele. O puxei, passando ao meu redor, sem saber bem onde o prendê-lo. Não estava mentindo quando havia dito que nunca havia andando em um. Sabia que todos os usavam no antigo mundo. Mas aqui, apenas aqueles no poder os usavam.

Me assustei quando mãos seguraram o cinto, erguendo a cabeça para encontrar o rapaz que estava sentado no banco da frente e eu nem havia notado. Ele se inclinou pra trás, puxando o cinto com cuidado até prender no suporte que estava bem ao meu lado. Só então ele ergueu a cabeça. A expressão parecendo perdida quando encarou meu rosto por um segundo tão longo e interminável, antes de se virar e se ajeitar no banco da frente quando Cold entrou e se sentou ao meu lado.

—Torre de segurança norte, Tyler. —Cold passou o cinto, enquanto eu me dava conta de que esse provavelmente era o outro colega de dormitório de Ethan, que Eliot afirmou não ser um problema.

Na mesma hora ergui a cabeça e olhei para o espelho no meio do carro, o pegando me observando por ele. Ele desviou os olhos, que eu notei ser de um tom castanho apagado. Seus cabelos negros estavam bagunçados em várias posições diferentes, como se ele tivesse corrido pra chegar até ali, ou não tivesse tido tempo de arruma-los. O rosto fino e a expressão cautelosa ao dirigir era quase familiar, me fazendo pensar que ele provavelmente tinha a mesma idade que Ethan.

Me virei para Cold, observando ele olhar para a janela, onde passávamos pelo meio dos outros carros, até passar por um imenso portão, antes de sairmos para as ruas. Meu coração disparou ao ver todos aqueles prédios enormes que cercavam as ruas, enquanto alguns soldados caminhavam por elas segurando armas, como se vigiassem cada centímetro daquele lugar.

—Sabe quantas pessoas eu já matei? —Olhei de novo para Cold, percebendo que ele estava falando comigo. —Milhares. Um número improvável de se lembrar. —A voz dele estava suave quando me encarou. —E provavelmente vou matar mais milhares até eu morrer de velho ou com um tiro no meio da cabeça.

—É fácil assim pra você matar? —Indaguei, não aguentando a curiosidade que tomou conta de mim, mesmo que aquela informação me chocasse. —Não se incomoda com isso?

—A primeira vez foi estranho. —Ele piscou muito lentamente, soltando um suspiro enquanto analisava meu rosto desprovido de qualquer emoção. —Mas agora é tão fácil como respirar. —Seus olhos se desviaram de mim para a rua. —E você vai precisar aprender o mesmo.

—Por que está me dizendo isso? —Questionei, com um nó se formando na minha garganta quando ele não me respondeu, se limitando a me lançar um olhar carregado de coisas, que me deixou sem fôlego.

[...]

O carro parou quando chegamos até o enorme muro que cercava todo o complexo. No meio da área onde estávamos, havia uma torre, onde eu podia ver os soldados caminhando, olhando pro lado de fora como se esperassem que fôssemos atacados a qualquer momento. Cold desceu primeiro, enquanto eu puxava o cinto para soltá-lo, observando onde ele estava preso.

Não fiquei surpresa quando Tyler se inclinou pra trás e o soltou, me fazendo entender como aquilo era simples e fácil de entender. Ergui os olhos quando ele se ajeitou no banco da frente de novo, me olhando pelo espelho no meio do carro, enquanto eu via Cold dando a volta pela frente, antes de abrir a porta pra mim.

—Obrigada. —Falei para Tyler, não recebendo resposta dele, mesmo que sentisse seus olhos em mim quando desci do carro, encarando o céu nublado. Nunca havia saído durante o dia, já que sempre estava noite quando éramos liberados para o pátio. Ver todos aqueles prédios, o céu e as nuvens, me deixou absolutamente perdida em meio a várias sensações que ameaçavam transbordar do meu coração.

—Pode descer também, Tyler. Talvez eu precise de você lá em cima. —Cold bateu na porta dele, o fazendo descer, enquanto tocava meu cotovelo com a mão coberta pela luva e me levava em direção à entrada da torre.


Continua...

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