Os olhos de Cold escureceram de surpresa, enquanto os soldados erguiam as próprias armas e apontavam pra mim. Tyler pareceu assustado pela primeira vez, dando um passo na minha direção. Mas Cold já estava erguendo a mão, fazendo ele parar, ao mesmo tempo que eu hesitava ao me dar conta do que estava fazendo.
—Abaixem as armas! —Mandou, e os três soldados o olharam com espanto, abaixando as armas quando Cold os lançou um olhar furioso. Tyler ainda parecia assustado, olhando pra mim como se não soubesse se deveria intervir ou não. —Parece que você resolveu mostrar as garras.
Fiz uma careta, sentindo a arma oscilar nas minhas mãos, lembrando que havia uma única bala ali e ela seria o suficiente para matar Cold se eu atirasse na sua cabeça. Eu não ia fazer isso, mas também estava com raiva e frustrada por ele ter feito isso com Tyler, agindo como se fosse algo normal na sua rotina. Eu só queria que ele sentisse um pouco da sensação de ter alguém apontando uma arma pra sua testa, como ele fez com Tyler.
—Não é legal quando alguém aponta uma arma pra sua cabeça, né? —Sibilei, me inclinando pra perto dele, com meus braços doendo pela força que eu usava para apertar a arma nas minhas mãos. Fiquei ainda mais irritada quando Cold abriu um sorriso, como se estivesse orgulhoso de mim e não com raiva por eu estar fazendo aquilo com ele.
—Está com raiva por que eu apontei a arma pra cabeça dele? Isso te deixa com vontade de atirar em mim, Hawking? —Questionou, com aquele sorriso soando tão sarcástico que algo queimou dentro do meu peito. —Muita gente quer atirar na minha cabeça. Então sugiro que pegue uma senha e entre na fila.
Ouvi a risada dos outros soldados, enquanto Tyler permanecia sério, olhando de Cold pra mim, como se estivesse pronto para intervir se a coisa saísse do controle. Quando não puxei o gatilho, Cold arrancou a arma da minha mão, jogando-a sobre a mesa. Meu corpo se sobressaltou com o som do baque dela sobre as outras, enquanto a frustração devorava meu estômago.
—Eu estava mesmo me perguntando como você poderia ser filho do presidente. —Sussurrei, apertando meus lábios com força quando vi que aquelas palavras o acertaram como um tapa no rosto. —Mas agora isso faz muito sentido.
Passei por ele e segui em direção a porta, que Tyler fez questão de abrir pra mim, como se quisesse que eu sumisse dali. Desci as escadas sem olhar pra trás, sentindo o calor das lágrimas nos meus olhos quando me dei conta do que havia acabado de fazer. O sentimento de raiva, frustração e constrangimento ameaçando me partir ao meio naquele instante, por eu não fazer uma única coisa direito.
Não notei que Cold estava vindo atrás de mim até o momento que alcancei o carro, engolindo as lágrimas para não chorar na frente dele quando o senti segurar meu braço. Seus olhos buscaram os meus quando ele me puxou contra si, me obrigando a ficar de frente pra ele, enquanto sua mão segurava meu queixo e erguia meu rosto. O calor dos seus dedos causando um calafrio por toda minha pele fria.
—O que foi, Hannah? Estava achando que eu era uma boa pessoa? Está decepcionada comigo? —Questionou, com as palavras soando como facas sendo cravadas no meu peito. Tentei desviar os olhos, mas sua mão apertou ainda mais meu queixo, com seus olhos queimando minha pele. —Eu quero que você entenda uma coisa, você não está mais nas zonas de contenção. Isso aqui é a merda da vida real. Se você não pegasse naquela arma e atirasse, não iria servir de nada para o complexo! —Exclamou, com o rosto tão próximo do meu que eu podia sentir sua respiração descontrolada contra a minha. —Isso aqui é a sua vida a partir de agora. Se não aprender a lutar, você não serve pra eles e é descartada. Então simplesmente me agradeça, porque eu acabei de salvar a sua vida. E faça um favor pra nós dois e lute, Hannah, porque eu não quero ver você levando a porcaria de um tiro na cabeça.
—Me solte! —Pedi, observando toda a raiva e frustração no rosto dele quando me ouviu, sentindo o calor se concentrar nas minhas bochechas quando ele inclinou o rosto para mais perto de mim.
—Por que você não usou toda essa raiva para apontar uma arma na cabeça de Davenport quando ela te ameaçou com aquela faca? —Questionou, fazendo meu sangue gelar, enquanto uma respiração fraca escapava pelos meus lábios. Tinha certeza que Cold podia ver a surpresa exposta no meu rosto. —É, eu sei sobre isso. Achou que eu não estranharia o jeito que você estava agindo? Parecendo um bicho acuado? —Ele balançou a cabeça negativamente, a mão que segurava meu braço aliviando um pouco a pressão, mesmo que ele não fizesse menção nenhuma de se afastar de mim. —Deveria ter demonstrado essa raiva toda que demonstrou comigo, com ela. Deveria ter rebatido quando ela te ameaçou.
—Eu sou uma covarde, como pode ver. —Sussurrei, me sentindo prestes a me desmanchar na frente dele. —Não consegui pensar em nada a não ser em me esconder no dormitório.
—Não, você não é covarde. Você apontou uma arma pra minha cabeça. —Afirmou, a raiva se desmanchando no seu rosto à medida que ele olhava pra mim, como se pudesse me ver de verdade. —E sabe o que me deixou mais furioso, Hannah? Não foi você ter apontado a arma pra mim. Foi o fato de que você não fez o mesmo com ela. Você a deixou pensar que era fraca. A deixou pensar que estava com medo!
—Mas eu estava com medo! —Exclamei, fechando meus olhos com força, porque não suportava mais encarar aqueles olhos verdes. —Também estava com medo de você, mesmo que não parecesse. Mas também fiquei com raiva.
—E por que não ficou com raiva dela? —Quando não respondi, ele me soltou aos poucos, me deixando respirar aliviada. Quando abri meus olhos e ousei encara-lo, vi tantas coisas naquelas íris verdes e naquele rosto, que não sabia de verdade quem era Cold Andrews. —Entre no carro e me espere!
Fiz o que ele mandou, observando-o se afastar de volta para a torre, com o meu coração tão apertado dentro do peito que chegava a ser insuportável. As coisas que ele disse giravam na minha cabeça como uma nuvem, se juntando com outra e mais outra, se transformando em uma tempestade que eu não fazia ideia de como controlar. As vezes eu gostaria de saber quem ele é de verdade e em outras achava melhor não saber, porque sentia que isso poderia me destruir por dentro. Nunca mais vê-lo e não saber quem ele era teria sido muito melhor pra mim.
Me assustei quando Tyler abriu a porta da frente e se sentou, passando o cinto. Fiz o mesmo, me lembrando de como ele havia feito e conseguindo prendê-lo no suporte. Tyler não disse nada, mas eu sentia seus olhos em mim pelo espelho, mesmo que eu encarasse minhas mãos sobre meu colo. Não queria olhar pra ele, porque a lembrança de Cold apontando uma arma pra sua cabeça ainda pesava na minha cabeça.
—Ele ia mesmo atirar em você? —Indaguei baixinho, rezando para que a reposta aliviasse um pouco do peso no meu peito, assim como a confusão dos meus pensamentos. Mas quando Tyler demorou para responder, minha respiração falhou e eu ergui os olhos para o espelho, vendo a resposta marcada no seu rosto.
—Obrigada. —Respondeu por fim, fazendo um buraco se abrir dentro de mim. Desejei ser engolida pra dentro dele quando Cold voltou para o carro, evitando olhar para mim o caminho inteiro de volta para o centro de treinamento, onde eu me afastei o mais rápido que conseguia dele, finalmente sentindo raiva de Gia por ter me feito passar por tudo aquilo.
Continua...
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Em Destruição
Ficción GeneralO mundo sucumbiu as guerras e os países se tornaram ruínas. Agora, décadas depois, as pessoas precisam viver em zonas de contenção no subsolo, impedidas de ir além dos muros que cercam o complexo em que vivem. Cada um tem um papel crucial nessa nova...