Em Destruição

Capítulo 82: Acho que estou ficando louco.

Encontramos Laís, Amber e Sawyer na saída do túnel dos esgotos. As duas tentavam conter o sangramento de Sawyer, enquanto ele resmungava de dor toda vez que alguém tocava a linha da sua clavícula. Cold ajudou Sawyer a avançar pelo caminho, porque precisávamos sair dali antes que o presidente enviasse soldados atrás de nós.

—Certo, isso foi interessante. —Laís comentou, ofegante, enquanto andávamos pelas ruas de uma cidade, tentando nos esconder nas ruínas que havia por ali, avançando muito lentamente. —Agora Gates é nossa única ligação com o complexo.

—Pelo menos estamos vivos. —Amber rebateu, soltando um suspiro pesado. —Eu estou cansada.

O céu estava nublado naquele momento e pequenas gotas de chuva já caiam sobre nossas cabeças. Eu estava cansada e com meu corpo doendo, porque estávamos caminhando a horas sem parar. Cold sabia a direção que o Ponto de Iniciação ficava, mas chegar lá andando levaria muito tempo.

—Agora todo mundo vai saber que você é o Traidor. —Laís comentou, olhando para Cold e ele ficou em silêncio. Sawyer parecia perdido, nos ouvindo falar aquelas coisas com uma expressão que era uma mistura de surpresa e incredulidade. —Vamos precisar de um bom plano de ataque se ainda quisermos tirar o presidente do topo.

—Primeiro precisamos chegar em casa. —Falei, pensando no quanto aquela frase me agradava. Mas ainda havia algo me incomodando. Minha mãe tinha ficado para trás. Ela ainda estava com o presidente e ele certamente usaria isso contra nós.

A chuva aumentou consideravelmente naquele momento e não tivemos alternativa a não ser achar um lugar para nos abrigarmos, enquanto víamos a noite chegar. Entramos no que parecia ser um antigo mercado e nos escondemos nos fundos. Um lugar em que teríamos várias saídas se fosse necessário fugir.

Amber e Laís estavam sentadas próximas a uma janela, junto com Sawyer, observando os trovões no meio da noite. Laís tentava responder as poucas perguntas confusas que Sawyer fazia, sobre o Traidor, sobre Gates estar do nosso lado e sobre tudo que aconteceu no meio disso. Eu estava no outro canto, sentada ao lado de um Cold silencioso demais.

—Você está bem? —Questionei, depois de alguns minutos em silêncio, porque não aguentava mais tudo aquilo. —Não gosto quando fica quieto.

—Por que não? —Indagou, soando tão cansado, como se deixar o complexo pra trás o tivesse feito desabar.

—Porque não. —Dei de ombros, sem saber bem o que dizer, ao mesmo tempo que tinha tantas coisas que eu queria que Cold ouvisse. —Gosto quando conversa comigo como se nos conhecêssemos a anos. Quando me chama de cérebro de gelatina ou faz alguma provocação para tentar me irritar ou me incitar a ser melhor. —Abri um sorriso olhando para minhas mãos, quando percebi que Cold havia virado o rosto para me observar. —Gosto da forma como curva os olhos quando te respondo atravessado. E também o jeito que fecha os olhos de forma lenta, quando está impaciente.

—Eu faço isso? —Assenti com a cabeça. —Suas bochechas costumam ficarem vermelhas quando a provoco. Mas nunca tenho certeza se é porque está com raiva ou tímida.

—Raiva, com toda certeza. —Afirmei, vendo os lábios dele se abrirem em um sorriso.

—Bom saber que notou tudo isso em mim. Posso dizer que fiz o mesmo em relação a você. —Cold trouxe a mão até a minha, me fazendo encarar as duas quando ele entrelaçou nossos dedos. —Lembro de quando a vi pela primeira vez naquela noite de fogos. Você parecia hesitante e tão curiosa, como se estivesse ansiosa para descobrir tudo sobre o mundo. Então eu a vi de novo caída no chão do setor 1. Você parecia um bicho encolhido contra a chuva e completamente apavorada.

—Eu não estava apavorada. —Retruquei, lançando a ele um olhar afiado que o fez sorrir mais ainda.

—Eu disse "parecia". De qualquer forma, notei tudo em você aquele dia e nos que se seguiram. Até a forma como você segurava a arma quando ia atirar. —Afirmou, fazendo minhas bochechas queimarem e eu soltar uma risada baixa.