Eliot arrancou o papel da mão de Ethan quando meu irmão o abaixou, olhando pra mim como se não acreditasse no que tinha lido. Eu o entendi perfeitamente, porque também havia demorado a processar todas aquelas informações.
—Estava em uma caixa no escritório de Cold. Os pais de Ryder e a irmã dele estão listados como mortos. Mas o rastreador está marcado como pertencendo a Ryder e a família dele. —Falei, engolindo em seco. —Se Ryder for mesmo líder dos rebeldes, então Amara não estava mentindo pra nós dois.
—Cold não viu você pegar essas coisas? —Ethan indagou, parecendo pensando muito nas palavras que iria usar comigo. Balancei a cabeça negativamente, pronta para explicar que eu estava sozinha, mas Ethan pareceu entender isso. —Então ele sabe que nossos pais tinham ligação com os rebeldes.
—Sabe. —Abaixei minha cabeça, sentindo aquela verdade abrindo um buraco dentro do meu peito. —Talvez Eliot estivesse realmente certo. Talvez eles nos trouxeram pra cá pra saber se tentaríamos entrar em contato com Ryder. Nos usando como uma ponte até o líder dos rebeldes.
—Você acha que Cold se aproximou de você só por isso? Só para tentar chegar aos rebeldes? —Ethan questionou, e de novo aquelas palavras me machucaram, porque se elas fossem verdade, então tudo que passei com Cold era uma grande mentira. Cada momento que dividimos juntos era uma farsa.
—Eu não faço a menor ideia. —Dei de ombros, pensando que Cold e eu nos conhecemos antes de tentarmos fugir. Antes de Ryder e todo o resto. Ele havia colocado meu nome naquela lista porque tinha se interessado por mim. Porque queria me ver de novo. Então eu não fazia ideia do que pensar. Eu não sabia qual das situações eu deveria levar mais em conta.
—Bom, eu meio que avisei sobre isso. —Eliot murmurou, olhando de canto dos olhos para Ethan, como se esperasse que meu irmão ficasse irritado com o comentário dele. —Agora a questão é, o que vamos fazer com essas informações?
—Amara disse que eles entrariam em contato com a gente e que tinha mais coisas que precisávamos saber. —Afirmei, me aproximando de Ethan. —Não sei o que está acontecendo, Ethan. Mas não quero ficar no escuro esperando eles decidirem quando entrar em contato com a gente.
—Amara ainda está presa aqui. —Ethan encarou meus olhos, como se nós dois estivéssemos pensando a mesma coisa.
—O que está pensando? —Eliot curvou os olhos em confusão, enquanto fazia uma careta. —Você quer ir falar com ela? Tipo, lá na prisão?
—Eu não quero. Eu vou. —Ethan afirmou, soando tão determinado que Eliot não escondeu a surpresa. —Vamos até lá e perguntar o que ela sabe. Ela não é namorada do tal líder? Se Ryder é mesmo o líder, então ela vai ter todas as respostas que precisamos.
—Eu não dei certeza sobre ela ser namorada dele mesmo. É só um boato. —Eliot rebate, e Ethan balançou a mão, deixando de lado o que ele disse.
—E se ela não quiser falar? —Indaguei, porque Amara não havia sido tão gentil quando nos encontramos no corredor da Zona Agronômica aquele dia. Não tinha tanta certeza de que seria diferente se fôssemos atrás dela.
—Primeiro vocês vão ter que chegar até ela. —Eliot soltou uma risada e arqueou as sobrancelhas, como se aquilo fossem impossível. —Vocês já viram como é o sistema de segurança da cadeia? É difícil entrar lá. Difícil, não, é absolutamente impossível!
Eu e Ethan trocamos um olhar demorado, como se não soubéssemos o que fazer. Então encarei Eliot, com uma ideia surgindo na minha cabeça, antes colocar as mãos na cintura e caminhar até parar na frente dele. Eliot me encarou desconfiado quando percebeu o sorriso enorme que estava no meu rosto naquele momento.
—Então você usa seu dom para fofoca e descobre como podemos entrar lá sem arrumarmos problemas. —Eliot soltou uma risada e exibiu uma expressão que era uma mistura de presunção e descrença quando dei um tapinha no seu ombro.
Nós três nos assustamos quando o alarme da Zona Militar acionou de novo. Agarrei o papel e o rastreador, enfiando no meu bolso de novo, porque não achava uma boa ideia deixar os dois ali, onde Gates poderia encontrá-lo, ou qualquer outro soldado que entrasse no dormitório. Depois iria achar um lugar onde poderia esconder ou me livrar dos dois.
Fomos até o corredor ouvindo a voz de Kallie no auto-falante, chamando todos os soldados para o pátio externo. Soltei um suspiro pesado e troquei um olhar demorado com Ethan, porque não estava com a cabeça no lugar para ir a outra missão ou qualquer coisa parecida naquele momento.
—Uma ajudinha aqui? Eu não ando rápido com essas coisas. —Eliot resmungou, mostrando a perna machucada e aquelas muletas que estavam sempre o atrapalhando quando alguma coisa importante acontecia.
—Você não acha que está com isso a tempo demais, não? —Ethan andou até ele e o ajudou a andar mais rápido.
—Como é? E tu acha que eu estou fingindo, é? —Eliot exclamou, revirando os olhos como se estivesse incrédulo. —Eu vou no setor 1 toda semana. Se quiser conversar com o meu médico para acelerar o processo, vá em frente. Estará me fazendo um grande favor.
Ethan puxou Eliot em direção ao corredor cheio de soldados, enquanto eu olhava ao redor tentando entender o que estava acontecendo, porque eles estavam ocupando todo o corredor, impedindo a passagem de todo mundo. Comecei a empurrar todos eles, tentando passar e chegar ao pátio externo, mas aquilo estava virando uma confusão. Eram luzes vermelhas piscando em cima de nossas cabeças. Soldados gritando e conversando alto. E eu no meio de todos eles, sendo empurrada e esmagada em cada canto.
—Ouvi dizer que o presidente está aqui para conversar com a rebelde que foi presa. —Ouvi um dos soldados dizer no meio da confusão, enquanto eu passava por ele. Meu corpo ficou rígido no mesmo instante, enquanto eu parava para ouvir o que eles conversavam.
—Acha que vão matá-la? —O soldado ao lado dele indagou, me fazendo engolir em seco, sentindo meu coração disparar. Sabia que se isso fosse acontecer, seria Cold quem daria um tiro em Amara. Era sempre ele quem limpava as coisas para o presidente.
—Ele está reunindo todos nós, não é? Não duvido nada que vamos ver aquele filho da puta matar mais um com um tiro na cabeça. —Retrucou, fazendo o outro soldado soltar uma risada, enquanto meu sangue gelava dos pés a cabeça.
Os soldados começaram a se empurrar e resmungar tentando sair daquele corredor lotado. Meu corpo estava sendo espremido, recebendo cotoveladas e pisões nos pés de todos os lados. Fui empurrada com tudo, percebendo tarde demais que meu corpo já estava indo para o chão junto com outros soldados. Meus cotovelos bateram contra o chão quando tentei evitar que minha testa se chocasse contra o chão, ou contra as pernas e o corpo dos outros soldados que haviam caído.
Mas o som de um objeto caindo no chão chamou minha atenção, porque o rastreador havia caído no meu bolso, saindo deslizando pelo chão em meio a todos os soldados que estavam ali, até parar sobre os pés de alguém. O sangue latejou na minha cabeça quando ergui os olhos lentamente, sentindo o medo devorando meus ossos quando observei o presidente se inclinar e então pegar o rastreador.
Continua...
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Em Destruição
Fiksi UmumO mundo sucumbiu as guerras e os países se tornaram ruínas. Agora, décadas depois, as pessoas precisam viver em zonas de contenção no subsolo, impedidas de ir além dos muros que cercam o complexo em que vivem. Cada um tem um papel crucial nessa nova...