Capítulo 5: A convocação.

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Eu nunca mais ia o ver depois desse dia. Ele era um soldado e eu uma civil do setor 2. Seu olhar confiante e encorajador foi o que me deu coragem pra fazer isso, mesmo sabendo que Ethan me mataria se descobrisse o que eu estava fazendo naquele momento. Mas eu só ia viver uma vez e não queria passar o resto da vida naquela zona de contenção, ser tem me arriscado em algo uma vez na vida.

—Tem certeza que não vai dar problema? —Indaguei, subindo as escadas de metal atrás dele, observando suas costas largas e os braços fortes, de alguém que provavelmente passava horas treinando. Seus olhos encontraram os meus por cima do ombro, enquanto sua boca estava curvada em um pequeno sorriso.

—Tenho absoluta certeza. Já fiz isso várias vezes, não se preocupe. —Afirmou, voltando a olhar pra frente. Estávamos atrás de um dos prédios ali, longe dos olhares de todo mundo. Andrews não parecia nem um pouco preocupado, enquanto eu estava sendo consumida pelo nervosismo, mesmo que não estivesse nem um pouco arrependida. —Já parou pra pensar no que existe lá fora? Atrás dessas paredes de metal e desses muros?

—Já sim. Vivo me perguntando como era o mundo antes dele acabar no que é hoje. —Falei, percebendo que estávamos chegando no final das escadas, porque ele parou sobre uma plataforma de metal, onde uma escada estava grudada na parede, levando até o terraço do prédio. —Mas acho que nunca vou ter a chance de descobrir.

—Talvez um dia tenha. Nunca se sabe o que pode acontecer no futuro, não é? —Falou, me lançando um olhar demorado antes de subir aquelas escadas e desaparecer lá em cima. Respirei fundo, olhando lá pra baixo, sentindo meu coração chegar a boca quando percebi o quão alto era, antes de subir as escadas.

O terraço do prédio estava vazio. Não havia nada ali. Mas ele tinha uma vista perfeita de todo o complexo, onde eu podia ver perfeitamente os muros que delimitavam cada zona de contenção. No horizonte, a cerca que delimitava nosso complexo, antes de tudo ser tomado por árvores e construções antigas. Toda essa visão me fez correr até uma das laterais do prédio, me inclinando sobre o parapeito para observar a copa das árvores no horizonte.

—O mundo é grande demais, não é? —Ele se aproximou até parar ao meu lado, cruzando os braços sobre o parapeito enquanto observava o horizonte. Era noite, mais ainda era possível ver a sombras das árvores, por conta das luzes do completo. —Mas nunca podemos conhecê-lo de fato, porque estamos presos aqui.

—Uma prisão, não um lar. —Sussurrei, percebendo que ele havia escutado quando virou a cabeça e olhou pra mim, parecendo perdido nos próprios pensamentos. Mas só de sentir seus olhos em mim, meu corpo se aqueceu por completo, com aquela faísca querendo dar lugar a algo mais forte. —Mas vocês podem sair, não é?

—Algumas vezes sim. Temos algumas missões lá fora. —Concordou, voltando a olhar pro horizonte, o que me deu a chance de olhar pra ele e analisá-lo. Sua altura, o porte e como seu rosto parecia algo de outro mundo. —Mas é tudo sempre tão complicado quando saímos, que não existe a menor possibilidade de aproveitarmos um único segundo.

—O que quer dizer? —Indaguei, vendo-o girar o rosto e olhar pra mim. Ali, a luz quase não chegava, seus olhos pareciam dois cristais verdes, que me deixavam sem fôlego. Seu sorriso foi hesitante, mas ele balançou a cabeça negativamente.

—Apenas pensando longe, esqueça. —Ele continuou a olhar pra mim, enquanto eu me sentia confusa com o que ele havia dito, me sentindo curiosa pra saber mais dele, mas sem saber ao certo o que perguntar, sem soar um pouco invasiva demais. —Você gostaria de ir lá fora? De ver mais do que pode?

—Claro. Sem pensar duas vezes. —Afirmei, abrindo um sorriso sem pensar, o que pareceu o pegar de surpresa, porque seus olhos se fixaram nos meus lábios, causando uma onda de calor pelo meu corpo. Meu sorriso morreu e eu mordi o interior da bochecha, sentindo o calor se concentrar nas minhas bochechas quando desviei os olhos dele. —Mas isso é impossível pra mim. Tenho que me contentar com o que eu tenho, pra não me meter em confusão.

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