Capítulo 58: Era o que nossa mãe desejava.

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Amara pegou o prato que eu estava passando pela abertura nas grades, enquanto eu absorvia o que ela havia acabado de falar. A calmaria dela contrastando com minha confusão.

—Você vai fugir? —Questionei, vendo-a confirmar com a cabeça.

—Todos nós vamos. A rebelião vai começar em breve. É por isso que estou aqui. Vocês não me prenderam porque foram mais espertos. Vocês me prenderam porque eu queria entrar aqui. —Murmurou, abrindo um sorrisinho presunçoso. —Os rebeldes precisam da minha ajuda aqui dentro... Aliás, vocês tem noção que aqui tem câmeras e eles provavelmente estão vendo vocês, né?

—Lara deve estar cuidando disso. —Ethan rebateu, me lançando um olhar demorado, deixando claro que estava perdendo a paciência. —Ela nos ajudou a entrar aqui.

—Tudo bem então. —Amara deu de ombros, soando um pouco surpresa, enquanto devorava o jantar. —Mas vocês vem com a gente ou não? Se preferirem ficar aqui convivendo com o presidente, boa sorte. Mas eu iria sugerir...

—Mas e o Ryder? —Questionei, ainda sem entender nada, porque Amara estava apenas desviando do assunto principal.

—Eu já disse, ele está esperando por vocês dois. Ele espera que venham com a gente. —Amara afirmou, se aproximando das grades, com os olhos focados em Ethan. —Eu sei que você não gosta dos rebeldes, por toda questão do seu pai. Mas me diz, Ethan, pelo que você está lutando agora?

—Pela minha irmã. Eu não quero que ela viva em um lugar onde sempre vai haver riscos. —Ethan não hesitou em responder, enquanto eu desviava os olhos de Amara para ver a determinação no rosto dele. —Quero que ela seja feliz e tenha uma vida feliz.

—Então eu sugiro que se junte a nós. Não somos como o presidente. Estamos aqui porque queremos justiça e liberdade. Estamos ajudando as pessoas e dando um lar novo a elas. —Amara argumentou, ficando subitamente séria. —Se quer salvar sua irmã disso, venha com a gente.

Ethan ficou em silêncio, parecendo analisar a situação. Havia algo nos olhos dele que deixava claro que estava muito, muito tentado a aceitar aquilo, mesmo que nenhum de nós dois soubesse onde isso iria acabar.

—Por que minha mãe tinha um rastreador ligado a Ryder? —Insisti, fazendo Amara voltar a me olhar, vendo o leve contrair na mandíbula dela, como se não gostasse daquele assunto. —Como espera que nos juntemos a vocês, se nem ao menos sabemos sobre o que tudo isso significa? Vocês querem confiança, mas nos deixam no escuro.

—Seus pais estavam guardando uma coisa muito importante. —Foi a resposta de Amara, quando desviou os olhos de mim para o prato na sua frente, que já não parecia tão delicioso. —Eles não serviam diretamente aos rebeldes, mas faziam uma coisa ali e outra aqui. Nos ajudavam principalmente quando precisávamos tirar alguns rebeldes do complexo. Mas eles também estavam protegendo uma coisa importante.

—Que coisa? Onde essa coisa está? —Indaguei, observando-a comprimir os lábios, parecendo absolutamente frustrada com minha insistência naquele momento. Mas se ela estava frustrada, não podia imaginar o que eu estava sentindo naquele momento. —Ryder quer que nos juntemos a vocês por causa disso? Ele acha que estamos guardando essa coisa pra ele?

—Mais ou menos. —Amara abriu um sorriso forçado ao olhar pra mim, enquanto jogava as várias tranças de seu cabelo para trás do ombro. —É um pouco mais complicado do que isso, na verdade.

—Você poder, por favor, descomplicar então? —Sibilei, me segurando para não xingá-la de uma forma muito grosseira naquele momento.

—Eu tô dentro. —Ouvi Ethan sussurrar ao meu lado, me fazendo dar um passo para longe das grades, para encara-lo.

—O que? —Eu e Amara perguntamos ao mesmo tempo, enquanto eu não sabia dizer qual de nós duas parecia mais supresa. Amara havia falado aquelas coisas pra ele, mas parecia realmente acreditar que ele não ia aceitar, enquanto eu tinha certeza que meu irmão jamais faria algo relacionado aos rebeldes.

—Eu estou dentro. Quero fazer parte disso. —Ethan apontou para Amara e ela abriu um sorriso largo, como se tivesse ganhado um presente muito bom naquele momento. Eu ainda estava completamente sem reação, olhando para meu irmão, sem acreditar no que estava ouvindo.

—Bem-vindo a equipe, Ethan. —Amara fez um aceno de cabeça para ele. —Voltem para cima e esperem o nosso sinal. Em breve vamos todos dar o fora daqui. Então vocês podem tirar suas dúvidas pessoalmente com Ryder.

Amara devolveu o prato vazio e caminhou de volta para a cama, pegando aquele livro para voltá-lo a ler. Não tinha dúvidas que aquilo deixava claro que pra ela o assunto estava encerrado, mesmo que eu estivesse com mais perguntas do que tinha quando cheguei ali.

—Ryder é mesmo o líder dos rebeldes? —Indaguei, vendo-a abrir um sorriso, sem tirar os olhos do livro.

—Você vai descobrir isso em breve. —Foi a única resposta que tive, antes de Ethan me puxar para sairmos dali.

[...]

Nós dois fizemos todo o caminho de volta sem qualquer problema. Ethan ficou em silêncio o tempo todo, assim como eu, como se nós dois estivéssemos lutando com nossos próprios pensamentos. Mas assim que saímos para os corredores do centro de treinamento, ainda vestidos como funcionários da cozinha, me virei para ele, com meu peito se comprimindo a cada segundo que evitávamos aquela conversa.

—O que foi isso? Por que entrou para os rebeldes assim? —Questionei, vendo-o engolir em seco e balançar a cabeça negativamente, como se estivesse tão perdido naquele momento.

—Porque não sei se devo acreditar em Gates, nos rebeldes ou fingir que o presidente é alguém justo com as pessoas que moram aqui. Porque eu quero te proteger, Hannah, e eu estou vendo você se esforçando cada vez mais aqui dentro, se sentindo frustrada sempre que sai da sala de treinamento toda machucada e dolorida! —Ethan exclamou, parecendo tão cansado de tudo naquele momento, com o rosto se contorcendo como se ele estivesse se segurando para não chorar. —Eu quero que você seja feliz e que esteja segura, porque você é a única família que me restou. Então se eu tiver que ir contra algo que eu acredite pra te deixar protegida, eu vou fazer isso. Além de...

—Além do que? —Toquei o braço dele, vendo-o apertar os dedos ao redor do suporte do carrinho.

—Era o que nossa mãe desejava, Hannah. Ela queria fugir para nos tirar daqui e sabemos que era pra se juntar aos rebeldes. —Afirmou, umedecendo os lábios com a língua. —Eu só estou tentando fazer alguma coisa certa agora, em vez de apenas esperar que alguém apareça e tire você de mim também, assim como foi com o nosso pai e com a nossa mãe.

—Ninguém vai separar a gente, Ethan. Vamos lutar juntos e vamos sair daqui juntos. —Ele segurou minha mão e eu a apertei forte, abrindo um sorriso, querendo deixar claro que eu confiava nele mais do que tudo. —Se acha que isso é o melhor a ser feito, então eu concordo com você. Vamos fazer isso juntos. Nós dois vamos ficar seguros.

—Vai dar tudo certo, Hannah. —Ethan prometeu, fazendo meu coração se apertar.

—Eu sei. —Ele me abraçou apertado e deixou um beijo nos meus cabelos, antes de me puxar em direção ao refeitório, para devolvermos as coisas que havíamos pegado, além de encontramos com Eliot. Talvez o tempo dele com Lara tenha sido mais divertido do que o tempo que passamos lá embaixo na prisão, tentando arrancar qualquer coisa de Amara.

Viramos em um dos corredores e eu empurrei as portas do refeitório, parando de andar quando encontrei o lugar cheio de soldados por todos os lados, além do próprio presidente, que estava sentado em uma das mesas, com os dedos cruzados sobre ela e um sorriso tranquilo sendo direcionado a Ethan e eu. As mãos do meu irmão deixando o carrinho e se agarrando a mim, enquanto mais soldados surgiram atrás das portas que havíamos acabado de passar.

—Espero que a conversa com a Srta. Amara tenha sido produtiva. —O presidente ficou de pé, com aquele sorriso permanecendo largo sobre os lábios, quando ele fez um sinal para que os soldados nos prendessem.


Continua...

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