Tyler não me perguntou mais sobre Cold, assim como eu também não o vi mais depois do nosso encontro no café da manhã, quando vi o estado que Neo havia ficado depois de Cold o punir. Tentei focar minha mente e acreditar que ele só havia feito aquilo porque Neo estava passando dos limites e não por minha causa. Eu ainda não entendia Cold e tinha certeza de que estava longe de entender.
Foquei em treinar, mesmo que minha costela doesse toda vez que eu fazia um movimento brusco. Ethan mantinha os olhos em mim o treinamento todo, como se pudesse ver as marcas que Neo havia deixado em mim. Tentei sorrir pra ele toda vez, mesmo que por dentro eu estivesse me contorcendo sempre que sentia uma fisgada de dor. Tinha certeza de que ele já deveria ter encontrado Neo é visto como Cold havia o deixado. Só esperava que isso tivesse amenizado um pouco da raiva de Ethan por Neo.
No final do dia eu me sentia acabada. Não conseguia pensar em outra coisa a não ser me jogar na minha cama e apagar por completo. Mas como sempre, eu tinha uma tremenda má sorte. Dessa vez não encontrei Eliot ou Laís no dormitório, mas ouvi as risadas de Thalia e Gia assim que abri a porta. As duas interromperam a conversa na mesma hora, me lançando um olhar demorado quando entrei no quarto e fechei a porta.
—Olha se não é a favorita do momento. —Thalia murmurou, soltando uma risadinha quando cruzei por ela até meu armário. —Cold fez um estrago em Neo por sua causa. Sabe, quando ele estiver melhor, vai te matar. Não vai perder outra chance com a raiva que está de você.
—Meu sentimento é mútuo. —Afirmei, pegando uma muda de roupa e minha toalha, sentindo os olhos das duas sobre mim. —Então acho que isso nos coloca em uma posição igual.
As duas trocaram um olhar demorado, enquanto eu fechava o armário e caminhava até a porta do banheiro. Meus músculos tensos sobre o uniforme de treinamento. Mesmo cansada, fiquei o tempo todo em alerta, até o momento que Gia deu um passo para perto de mim, como se fosse me parar. Puxei aquela faca do bolso, me virando e apontando pra ela. Seus olhos se arregalaram, como se ela estivesse esperando tudo menos aquilo.
—Eu podia ser uma covarde quando cheguei aqui. Só que agora eu não sou mais, Davenport. —Sibilei, erguendo a faca numa posição que eu poderia facilmente atingir a garganta dela, se ela não tivesse dado um passo para trás. —Fique colocando desenhos idiotas de um boneco perdendo a cabeça sobre o meu travesseiro. Fique me lançando sorrisinhos e provocações o quanto quiser.
Thalia estava perto da porta, observando tudo com os olhos ligeiramente surpresos, enquanto Gia apenas erguia as sobrancelhas na minha frente. A surpresa indo embora rapidamente. Mas eu estava tão cansada dela e de seus jogos. Como se ela gostasse de me provocar. Como se ela quisesse me deixar com medo de dar o próximo passo e acabar me chocando contra ela.
—Mas se tocar em mim ou tentar me ameaçar de novo, não vou deixar outra pessoa dar uma surra em você por mim. —Prossegui, trincando os dentes com força. —Posso ser a mais fraca daqui, mas vou fazer estrago o suficiente em você com essa faca, que você nunca vai esquecer de mim.
Abaixei a faca e entrei no banheiro, batendo a porta com a maior força de todas.
[...]
Encontrei Cold quando estava indo para o refeitório. Não foi bem um encontro, porque ele estava no final do corredor, conversando com um dos supervisores de treinamento. Na hora não soube bem o que fazer, lembrando dos momentos no elevador, quando as mãos e a boca dele estavam em mim. Mas então Cold me viu, antes que eu pudesse dar meia volta. Não tenho certeza se ele estava me procurando, mas ele dispensou o homem na mesma hora, indicando sutilmente com a cabeça que eu o seguisse.
Era engraçado e um pouco idiota o quanto eu sabia que aquilo era uma péssima ideia. Estava esperando o momento que o relógio do apocalipse fosse tocar sobre minha cabeça e tudo isso com Cold fosse desmoronar na minha frente. Eu sabia que estava me metendo em encrenca quando minhas pernas se moveram no automático para o segui de longe, mesmo que eu não soubesse pra onde ele estava me levando.
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Em Destruição
Ficção GeralO mundo sucumbiu as guerras e os países se tornaram ruínas. Agora, décadas depois, as pessoas precisam viver em zonas de contenção no subsolo, impedidas de ir além dos muros que cercam o complexo em que vivem. Cada um tem um papel crucial nessa nova...