Meu cérebro pareceu absorver tudo da forma mais lenta possível. Em um momento ela estava apontando a arma pra mim, enquanto eu não conseguia fazer o mesmo por ela ser uma criança. No outro o corpo dela já estava ficando mole, desabando no chão com um barulho brusco que me fez dar um sobressalto pra trás, antes de ver o sangue surgindo embaixo dela. Quando ergui a cabeça, Cold estava parado do outro lado do corredor, com a arma erguida.
—Nunca hesite! —Sibilou, abaixando a arma e caminhando na minha direção como se estivesse furioso. Dei alguns passos para trás, tentando me afastar de Cold, até ficar contra uma pilastra. —Você entendeu, Hannah? Jamais hesite em puxar o gatilho!
—Era uma criança. —Afirmei, sentindo meu coração se estilhaçar cada vez mais no peito, enquanto olhava para o corpo dela, caído atrás de Cold. —Era só uma criança.
—Uma criança que ia atirar em você! —Cold segurou meu rosto, me obrigando a parar de encarar o corpo da garota e olhar pra ele. —Não importa quantos anos ela tinha ou quem ela era. Ela apontou uma arma pra você, iria atirar e iria te matar. Então nunca mais hesite! —Ele segurou meu queixo com força, enquanto eu sentia o calor das lágrimas nos meus olhos, mesmo que eu não quisesse chorar naquele momento. —Você entendeu, Hannah? Nunca mais hesite!
Balancei a cabeça que sim, soltando um suspiro abafado ao observar os olhos dele queimando sobre meu rosto, próximo demais de mim. Cold comprimiu os lábios quando eu desviei os olhos dele, sentindo que iria me desmanchar ali mesmo. Não conseguia controlar meus sentimentos naquele momento, porque tudo que havia acontecido tinha sido intenso demais pra mim. Os tiros, as mortes, a bomba e agora Cold e aquela garota.
—Você levou um tiro? —Questionou, abaixando os olhos para o meu corpo. Choraminguei quando ele tocou meu braço, fazendo uma fisgada queimar meus músculos e enviar uma onda de eletricidade pelo restante do meu corpo, que me arrancou o fôlego.
—Foi de raspão. Mas machuquei a perna. —Sussurrei, sentindo meu coração afundar no peito quando Cold ficou de joelhos na minha frente, tocando minha perna com cuidado, enquanto contraia a mandíbula ao ver a faixa encharcada de sangue. —Tyler? E os outros?
—Estão todos bem e se retirando do local. Já encontramos os dois soldados, então podemos ir. Vim buscar você. Laís foi até Tyler. —Cold afirmou, ficando de pé na minha frente de novo. —Consegue aguentar mais um pouco até sairmos do prédio?
—Acho que consigo. —Fui sincera, porque não tinha certeza de que não iria cair dura no chão em algum momento, com o tanto que aquela perna estava me incomodando.
—Laís, já encontrei a Hannah. Se já estiver com Tyler, pegue um carro e nos encontre na frente do hotel. Vamos sair em alguns minutos. —Cold falou para o comunicador, o enfiando no bolso antes de esperar uma resposta de Laís.
Aproveitei esse momento para observá-lo, notando o suor que escorria pela sua testa, além dos cabelos bagunçados, como se ele estivesse correndo a tando tempo. As bochechas estavam pintadas de vermelho, enquanto seu peito subia e descia com força. Além dos cabelos, nada estava fora do lugar nele. As roupas intactas e os ombros rígidos, como se ele pudesse fazer isso o dia todo.
—Você não está ferido. —Constatei, fazendo-o voltar a me encarar. O rosto tão próximo que eu podia sentir sua respiração na minha bochecha, aquecendo minha face.
—Não, eu não estou. —Ele pareceu perdido por um momento, engolindo muito lentamente enquanto seus olhos não deixavam os meus, com algo passando por eles. Uma chama se acendendo aos poucos. —Consegue segurar a arma e atirar de novo? —Ele indicou os corpos. —Fez um ótimo trabalho até aqui.
—Consigo, mas isso foi horrível. —Afirmei, soltando o ar com força quando ele se afastou de mim, erguendo a mão para passar pelos cabelos.
—Tem certeza? Porque eu vi você atirando neles e você parecia bem excitada cada vez que acertava um dele. —Ele ergueu as sobrancelhas, como se me desafiasse a negar aquilo. Comprimi meus lábios, balançando a cabeça negativamente. Cold soltou uma risada fraca, umedecendo os lábios com a língua. —Não tem problema, Hannah, eu também amo a sensação.
![](https://img.wattpad.com/cover/286823417-288-k479851.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Em Destruição
General FictionO mundo sucumbiu as guerras e os países se tornaram ruínas. Agora, décadas depois, as pessoas precisam viver em zonas de contenção no subsolo, impedidas de ir além dos muros que cercam o complexo em que vivem. Cada um tem um papel crucial nessa nova...