Capítulo 4: Olhos de esmeralda.

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O soldado na minha frente era bonito demais para a própria segurança é bonito demais até mesmo pra mim. Aquilo não deveria ser nem mesmo possível. Já havia visto homens bonitos, mas nada como ele. Alto, de uma forma que eu nem precisava me aproximar para saber que minha cabeça daria no seu ombro.

A pele, bronzeada como se ele passasse horas pegando sol, ao mesmo tempo que os cabelos eram tão escuros quanto carvão, dando um contraste sem igual para os olhos, que pareciam duas esmeraldas grandes e brilhantes. A boca, curvada em algo como curiosidade, parecia perfeita para o rosto proporcionalmente esculpido para ser perfeito.

As roupas dele eram iguais às de Eliot, mas em vez de carregar uma arma, ele usava duas, uma em cada lado da cintura. Suas duas mãos imóveis ao lado do corpo me deixaram notar que ele usava uma luva preta na esquerda, combinando com o restante do uniforme. Além do nome bordado, revelando seu sobrenome.

—Me desculpa, soldado Andrews. —Falei, percebendo que estava olhando pra ele por tempo demais, sem dizer uma palavra. Os olhos dele estavam fixos em mim, observando meu cabelo trançado e minhas roupas simples do setor 2. Eu não podia me distrair com o quão bonito ele era, porque ele ainda era só um soldado.  —Eu estava distraída. Vou prestar mais atenção.

—Está tudo bem. Não ligue para Neo. Ser um escroto na maior parte do tempo é a especialidade dele. —Afirmou, me fazendo balançar a cabeça, enquanto eu ficava sem palavras ao ouvi-lo falar daquela forma. —De onde você é?

—Zona Agronômica. —Falei, umedecendo os lábios com a língua, percebendo que ele não estava movendo um músculo, assim como eu. A distância entre nós era o suficiente para me manter longe de problemas, mas o fato de estarmos conversando me deixava nervosa.

—Setor 2. —A voz dele saiu baixa, como se ele estivesse falando aquilo para si mesmo e não pra mim. Soltei uma respiração pesada, engolindo em seco quando ele deu dois passos para perto de mim. Mais perto do que seria recomendado. —Veio com a sua família para ver os fogos?

—Sim. —Minha voz saiu mais hesitante do que eu pretendia, porque a ansiedade estava borbulhando nas minhas veias e também porque eu não me importava de fato com os fogos. Acho que ele notou isso, porque vi quando suas sobrancelhas se ergueram um pouco.

—Não gosta. —Constatou, a sombra de um sorriso nos lábios. —Não tem problema não gostar. Eu também não tenho as melhores opiniões sobre essa dada. —A afirmação me pegou de surpresa e me fez erguer a cabeça para encará-lo de verdade. —Não vejo motivo para comemorarmos, quando não saímos do lugar.

—Exatamente isso! —Soltei, sem conseguir conter as palavras dentro de mim. Na mesma hora me arrependi, vendo os olhos dele se estreitaram com a minha resposta. —Sinto muito, acho que essa data é importante, mas não consigo gostar dela como a maioria das pessoas.

—Não precisa pedir desculpas. É bom ver que alguém pensa como eu. —Ele sorriu, de uma forma que iluminou todo seu rosto, me roubando todo ar e todo pensamento racional, enquanto eu sentia uma faísca estalar entre nós dois, me deixando absolutamente tensa. —Sei que todo mundo está sempre buscando alguma coisa pra comemorar. Pra pensar que estamos evoluindo e indo pra algum lugar. Mas na verdade ainda estamos aqui, presos a uma vida monótona de trabalhar e existir.

—Não poderia concordar mais. —Afirmei, recebendo outro belo sorriso em resposta, que faz o calor se espalhar pelo meu corpo quando ele se aproximou mais um pouco, me observando como se todo o resto deixasse de existir.

—Não gosta de onde trabalha?

—O senhor gosta? —Indaguei, mais rápido do que pretendia, vendo-o solta uma risada nasal e balançar a cabeça negativamente.

—Absolutamente, não. Não gosto do que eu faço. Mas sou obrigado a fazer mesmo assim, como você, eu imagino. —Ele não tirou os olhos de mim, enquanto eu olhava ao redor, para ver se alguém prestava atenção no que acontecia entre nós dois.

—Queria não ter uma vida tão monótona. Queria, pelo menos as vezes, me sentir livre e não dentro de uma prisão de metal. —Confessei, sabendo que ele ouviu quando balançou a cabeça, como se pudesse entender perfeitamente o que eu sentia.

Ele olhou ao redor, antes de erguer a mão direita e olhar para a pulseira eletrônica no seu pulso. Era diferente da minha, mas ainda parecia ser tão controladora quanto a que eu usava. Seus olhos voltaram para mim depois de um segundo, me fazendo prender a respiração quando ele se inclinou para perto de mim, deixando minha boca completamente seca e meu coração disparado como um foguete.

—Temos alguns minutos antes dos fogos. Gostaria de te mostrar uma coisa. —Afirmou, com a voz não passando de um sussurro, que estremeceu meu corpo inteiro. Ao mesmo tempo que meu estômago se acendia com uma sensação agradável, o nervosismo também tomava conta de mim.

—Não sei se é uma boa ideia. —Falei, dando um passo para longe dele, enquanto puxava minha trança, como se a dor que causava na minha cabeça quando eu fazia isso, aplacasse todo o resto.

—Deixe-me adivinhar, você foi instruída a se manter longe dos soldados? —Indagou, com a sombra de um sorriso no canto dos lábios. Quando não neguei, esse sorriso ficou maior. —Mas você abraçou o soldado Ward mais cedo.

—Ele era do setor 2. Amigo da minha família antes de ser convocado. —Fui rápida em me defender, percebendo que eu e Eliot não havíamos sido tão sutis assim atrás do prédio. —Foi só um abraço. Ele é como um irmão pra mim e não nos víamos a um ano.

—Não estou julgando-a. Mas se abriu uma exceção pra ele. —Algo dançou naqueles olhos de esmeralda. —Pode abrir pra mim também. Não vou tirá-la do pátio ou a meter em problemas. Te prometo que é bem mais interessante que fogos explodindo no céu.

Olhei ao redor, sentindo que aquela era uma péssima ideia. Tudo nele gritava problemas. A forma como me olhava, como sorria e falava comigo. Ao mesmo tempo que aquilo era como um combustível me deixando mais curiosa, pra saber o que ele queria me mostrar e saber mais sobre ele mesmo. Mas ele era um soldado. Eu não podia esquecer disso.

—Enquanto você se decide. —Ele indicou com a cabeça um dos prédios, dando alguns passos para trás, sem tirar os olhos de mim, com aquele sorriso se tornando encorajador, causando uma eletricidade no meu peito. —Se desejar ir, é só me encontrar lá na frente daqui 15 minutos.

Ele se virou e desapareceu no meio das pessoas, que pareciam abrir caminho pra ele, como se ele fosse alguém superimportante, ou talvez só estivessem com medo dele, o que era mais provável. Eu também deveria estar com medo dele, porque me aproximar demais de um soldado era um problema. As coisas que Eliot disse eram a prova disso. Mas não consegui parar de procurá-lo com os olhos, sentindo meu coração martelando no meu peito.

Fiquei parada no mesmo lugar por 10 minutos intermináveis, desejando não ter esbarrado com aquele soldado e falado com o outro. Talvez ele realmente pensasse aquilo sobre esse lugar, ou ele só estava me testando. Ser desconfiada nunca era demais. Outras pessoas já se meterem em encrenca por menos.

—Merda! —Sussurrei, olhando ao redor, procurando por Ethan e minha mãe. Por Eliot também. Mas não vi nenhum dos três, antes de encarar o prédio que o soldado havia mostrado, sentindo meus pés se moverem naquela direção automaticamente. Minha respiração se acelerou à medida que eu me aproximava de lá, olhando ao redor como se estivesse quebrando as regras e fazendo algo horrível.

Tudo desapareceu quando desviei das pessoas e o vi, escorado em uma das paredes do prédio, com os braços cruzados na frente do corpo. Os cabelos negros balançando com o bater do vento, ao mesmo tempo que seus olhos vagavam por todo o pátio, como um predador procurando uma presa para pegar. Como se ele esperasse que alguém fizesse alguma coisa errada e ele pudesse puni-las por isso.

Seus olhos pararam assim que ele me viu, com os braços caindo ao lado do corpo antes de ele enfiá-los nos bolsos da calça, bem ao lado das armas que ele carregava. Ele esperou por um segundo, como se sentisse que eu estava hesitante. Olhei ao redor uma última vez, deixando a curiosidade falar mais alto antes de seguir na direção dele.


Continua...

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