Os soldados foram liberados depois que o presidente se retirou junto com Cold. Meu coração estava na garganta, enquanto um gosto amargo subia pra minha língua. O queimor no meu estômago era como um paralisante, porque Ethan me puxou de lá quando percebeu que eu não conseguia me mover. Estava surpresa, ao mesmo tempo que já deveria esperar algo assim. Mas não conseguia parar de rever a cena de Cold atirando na testa dele, dando um passo para trás como se estivesse incomodado com o sangue sujando seus sapatos.
Voltei pro meu dormitório, me demorando embaixo do chuveiro, enquanto repassava aquela cena na minha cabeça. Meu estômago se revirava quando eu lembrava da cena como se ainda estivesse lá, presa naquele momento infinito. O nervosismo borbulhava nas minhas veias quando saí de baixo da água, me lembrando que havia prometido treinar com Cold antes disso. Não tinha certeza se conseguia olhar pra ele depois daquilo, mas também estava com várias perguntas entaladas na garganta.
No final, fiquei vagando pelos corredores sem um lugar fixo pra ir, tentando decidir se deveria ou não ir até lá. Ainda não tinha certeza quando passei por frente da porta da sala de treinamento que Cold usou comigo e depois com Ethan. Fiquei parada por alguns segundos na frente dela, antes de sentir que não podia fazer aquilo. Não podia estar com ele depois de vê-lo daquela forma. O Cold que ele apresentava para todas as pessoas e para o pai. Um assassino.
Virei as costas para ir embora, congelando no lugar quando dei de cara com o presidente. Ele estava caminhando pelo corredor com três soldados, mas parou assim que me viu. Esperei pela careta de reprovação, pela acusação de eu também ter tentado fugir. Mas ele abriu aquele mesmo sorriso que ofereceu aos soldados do pátio. Meu corpo ficando tão imóvel que eu podia ouvir meus batimentos cardíacos.
—Senhor! —Coloquei as mãos atrás das costas, acenando com a cabeça em reconhecimento a sua presença, como eu havia aprendido a fazer a todos os meus superiores. O presidente acenou para os guardas, que ficaram para trás quando ele se aproximou de mim. Eu esperava que ele fosse embora e não que viesse falar comigo.
—Srta. Hawking. —Ele olhou para o sobrenome bordado na minha jaqueta. Os olhos se estreitando como se ele me reconhecesse. —Todos os soldados foram liberados dos seus afazeres depois da execução. O que a senhorita faz por aqui, sozinha, no corredor?
—Perdoe-me por isso, senhor. Eu e o senhor Andrews tínhamos combinado de treinar juntos aqui. —Indiquei a sala ao meu lado, enquanto tentava soar confiante com as palavras. —Ele queria ter certeza de que eu estava me esforçando o suficiente para melhorar, já que estou em desvantagem pelo meu tamanho e peso.
—Ah, é claro. —O sorriso dele se alargou, fazendo meu coração contrair desconfortavelmente. —Meu filho costuma levar o trabalho muito a sério. Isso me faz ter muito orgulho dele. —Orgulho era a última coisa presente na voz dele naquele momento, mas não ousei retrucar. —Sinto informar, Srta. Hawking, que meu filho tem o péssimo abito de deixar mulheres bonitas esperando. Ele está ocupado no momento, começando os preparativos para a missão de resgate, então ele não irá aparecer.
Uma respiração curta saiu pelos meus lábios, porque aquelas palavras me pegaram desprevenida. Estava pensando que Cold estava mesmo me esperando lá dentro, tentando decidir se deveria entrar ou não, quando na verdade ele nem estava ali. Abaixei a cabeça, tentando recuperar minha expressão neutra, já que o presidente ainda me encarava.
—Obrigada por me avisar, senhor. —Afirmei, engolindo o nó na minha garganta. —Irei me recolher então.
Eu me afastei quando ele acenou com a cabeça, sentindo os olhos dele na minha nuca quando ele ficou parado no mesmo lugar, me observando até eu desaparecer em outro corredor.
[...]
Cold desapareceu por alguns dias. Não o vi nas salas de treinamento, nem dando ordens ou qualquer coisa. Ele simplesmente sumiu. Tentei não pensar muito nele nesse tempo, porque não fazia ideia do que havia acontecido e se ele teria ido para a Zona Presidencial com o pai. Ninguém falava nada sobre ele. Nem mesmo Eliot tinha ouvido qualquer coisa.
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Em Destruição
Fiction généraleO mundo sucumbiu as guerras e os países se tornaram ruínas. Agora, décadas depois, as pessoas precisam viver em zonas de contenção no subsolo, impedidas de ir além dos muros que cercam o complexo em que vivem. Cada um tem um papel crucial nessa nova...