Abri a porta do quarto, entrando a passos lentos enquanto observava meu irmão deitando na cama, com vários fios ligados a ele, enquanto seus olhos permaneciam fechados. Meus lábios tremeram quando a porta se fechou atrás de mim e eu corri até a cama, me jogando sobre ele quando o soluço cortou minha garganta.
Seu peito subia e descia lentamente, mas ele nem fazia ideia do que havia acontecido. De como nossas vidas haviam mudado completamente depois de ontem. Agora éramos apenas eu e ele, porque nossa mãe não estava mais ali. Toda aquela verdade me deixava sem fôlego, enquanto as lágrimas deslizavam pelos meus olhos sem parar, me deixando com o nariz entupido.
Subi na cama, tomando cuidado para não machucar Ethan e me deitei ali com ele, abraçando seu corpo. Meus olhos se fecharam com força, enquanto eu tentava imaginar como contaria a ele quando ele acordasse. Se pudesse mudar o passado, nunca teria aceitado fugir com nossa mãe. Talvez ela ainda estaria ali, com nós dois. Saber que ela estava longe era melhor do que saber que ela havia morrido.
Me lembro de quando meu pai morreu. Passei o dia inteiro na cama, chorando até minha garganta estar seca e meu rosto completamente inchado. Ethan ficou comigo, me abraçando e me dizendo que ficaria tudo bem. No final, não ficou. E agora nós dois estávamos sozinhos naquele mundo vazio e esquisito. A dor no meu peito por pensar nisso, era completamente insuportável.
As horas foram passando enquanto eu estava ali, deitada ao lado dele imóvel. Minhas lágrimas cessaram em algum momento, apesar do meu coração continuar doendo como se tivesse sido partido em vários pedaços diferentes. Eu observava os médicos e enfermeiras passando pela janela de vidro, enquanto nomes eram chamados pelo alto-falante.
A enfermeira de Ethan havia aparecido algumas vezes, olhado como ele estava e me perguntado se eu precisava de algo. Eu respondi um simples não todas as vezes, querendo que ela desaparecesse logo e me deixasse sozinha com o meu irmão. Não havia absolutamente nada no mundo que eu não fizesse por ele antes e agora isso era a minha vida, porque não permitiria que o mundo tirasse outra pessoa de mim.
Me encolhi quando a porta se abriu, já me preparando para ouvir a enfermeira me perguntando algo ou o médico resmungando que eu não podia estar deitada ali. Mas quando o silêncio persistiu com o barulho da porta se fechando, eu movi minha cabeça para ver quem era, soltando um soluço abafado ao encontrar Eliot parado ali.
—Hannah... —Ele me olhou com uma expressão triste quando sai da cama, correndo até onde ele estava, antes de me jogar sobre ele. Eliot estava usando duas muletas, além de uma bota ortopédica na perna direita. Mas ele não se importou quando derrubei uma delas no chão, o obrigando a se escorar na porta para poder me abraçar também. —Eu sinto muito, gatinha. Sua mãe era a melhor. Não conhecia ninguém como ela.
—O que eles fizeram com você? —Indaguei, me afastando para olhar o rosto dele. Minhas lágrimas voltaram contudo, embaçando meus olhos quando vi o roxo no olho dele, assim como o corte no seu lábio e na sua bochecha. —Eles te bateram?
—Está tudo bem, Hannah. —Ele balançou a cabeça negativamente, engolindo em seco. —Não é nada que eu já não esteja acostumado por aqui.
—A culpa foi nossa. Se não estivéssemos tentado fugir, nossa mãe ainda estaria viva e você... —Eliot segurou meu rosto, balançando a cabeça negativamente, enquanto eu me engasgava com as palavras. —Eu sinto muito.
—Não sinta. Eu estou bem. Eu fiz uma escolha ao querer ajudar vocês e não me arrependo. —Afirmou, se inclinado para deixar um beijo na minha testa, antes de eu abraçá-lo de novo, quase o derrubando no chão no processo, o que arrancou uma risada dele. —Ei, gatinha, vamos com calma. Eu sou 80% Eliot agora.
—80% Eliot? —Exclamei, me abaixando para pegar a muleta no chão, o ajudando a se ajeitar com as duas. Ele sorriu pra mim, balançando a perna quebrada. Aquilo me arrancou uma risada baixa, antes de eu soltar um soluço e voltar a chorar, sentindo ele me puxar contra o seu peito.
[...]
—Estou te falando, Hannah, a comida daqui é a melhor. Nem se compara com nada que eu já tenha comido no setor 2. E as camas? Nossa, são o paraíso. —Eliot afirmou, enquanto andávamos pelo refeitório, em meio a todas aquelas pessoas de branco. Tinha certeza de que ele só estava tentando me distrair e eu estava grata por isso. —Escuta, vou te passar todas as fofocas da Zona Militar. Com quem você deve falar pra conseguir alguma coisa. Com quem você não deve falar se não quiser se meter em problemas e acabar com o nariz quebrado e o olho roxo. —Eu ergui as sobrancelhas, vendo-o soltar uma risadinha e dar de ombros. —Sério, tem cada história maluca sobre aquele lugar, que posso ter 70 anos e ainda não vou ter te contado tudo.
—Você virou um grande fofoqueiro. —Falei, enquanto nos sentávamos em uma das mesas.
—Que grande calúnia, gatinha. Eu só junto informações que eu acho relevante e as passo pra frente quando acho necessário. —Afirmou, usando um tom sarcástico que me arrancou uma risada, antes de eu erguer as mãos e esfregar minhas bochechas, sentindo meus olhos pesados de tanto que eu havia chorado. —O que o senhor bonitão disse pra você?
—Senhor bonitão? —Eu me engasguei ao ouvir aquilo, fazendo Eliot soltar uma risada.
—O Cold, Hannah. Ouvi os sussurros no corredor que ele havia te salvado de levar um tiro na cabeça mais cedo. —Eu estremeci, lembrando do que havia acontecido, ao mesmo tempo que meu coração dava um solavanco no peito quando eu entendi de quem Eliot falava.
—Cold é o nome dele? Do soldado Andrews? —Indaguei, recebendo um balançar de cabeça positivo de Eliot. —Ele só quis saber porque nós tentamos fugir.
—E você não aproveitou pra perguntar nada a ele?
—Perguntar o que? —Exclamei, vendo-o olhar pra mim como se estivesse chocado, antes de fechar os olhos e balançar a cabeça negativamente.
—Meu Deus, Hannah, você não entende nada da arte da fofoca. Ficou sozinha com o filho do presidente e não tentou arrancar nada dele. —Afirmou, enquanto eu sentia meu corpo ficar rígido contra a cadeira, com meu cérebro levando o dobro do tempo pra entender o que Eliot havia dito.
—O que você disse?
—Não, espere, não consigo falar com você agora. —Ele colocou a mão no peito, fingindo estar horrorizado. —Você teve a maior oportunidade da vida para fofocar e não fez isso. Se alguém sabe de tudo nesse lugar, é o Cold.
—Espere, Eliot, isso é sério. Cold é filho do presidente? Aquele soldado que esteve aqui mais cedo, que todos chamam de senhor Andrews, é filho do presidente? —Indaguei, notando a expressão confusa de Eliot ao olhar pra mim, como se não entendesse minha surpresa e meu nervosismo.
—Sim, Hannah, é exatamente isso. Cold Andrews é filho do nosso amado presidente.
Continua...
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Em Destruição
Ficción GeneralO mundo sucumbiu as guerras e os países se tornaram ruínas. Agora, décadas depois, as pessoas precisam viver em zonas de contenção no subsolo, impedidas de ir além dos muros que cercam o complexo em que vivem. Cada um tem um papel crucial nessa nova...