Capítulo 23: Seu sangue vai ser meu troféu.

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Eliot me deixou na porta do dormitório de Ethan. Quando bati na porta, um cara enorme que mais parecia uma parede do que uma pessoa a atendeu, me fazendo me sentir ainda mais baixa do que eu já era. Ele me olhou de cima a baixo, unindo as sobrancelhas. A pele negra molhada, assim como os cabelos escuros, deixando claro que ele havia acabado de sair do banho. Parecia ter mais de 25 anos, mas era difícil ter certeza quando seu rosto estava curvado em uma careta.

—Você deve ser a Hannah. —Ele murmurou, enquanto eu descia os olhos para ver Sawyer bordado na camiseta que ele usava. —Eliot disse que ia trazer você aqui.

—Vou invadir o dormitório de vocês essa noite. —Abri um sorriso fraco, que aliviou minha tensão quando Sawyer sorriu de volta, abrindo a porta pra mim. —Prometo que vou tentar não incomodar.

—Fique a vontade. Nem sempre temos visitas tão bonitas por aqui. —Afirmou, fazendo minhas bochechas esquentarem quando senti o tom diferente na voz dele, que deixava claro que ele estava flertando comigo.

—Não dê em cima da minha irmã, seu idiota! —Ethan resmungou da cama quando eu entrei, vendo que ele já estava pronto para dormir. Sawyer soltou uma gargalhada, fechando a porta atrás de mim, antes de se dirigir ao beliche de Ethan e subir na cama de cima da dele. —Oi, Hannah.

—Bom saber que você já fez amizades. —Falei, abrindo um sorriso quando Ethan abriu um espaço pra mim entre ele e a parede e ergueu as cobertas. Tirei meus sapatos, passando por ele antes de me deitar ao seu lado.

—Seu irmão é um pouco ranzinza, mas é melhor do que meus outros dois colegas. —Sawyer afirmou na cama de cima, enquanto Ethan me cobria e dividia o espaço da sua cama comigo. —Tyler é um esquisitão e Gates é um filho da puta.

—E você é o que dos quatro? —Indaguei, encostando minha testa no ombro de Ethan, enquanto olhava pra cama de cima, mesmo que não pudesse ver Sawyer dali.

—O fofo e charmoso do grupo. —Afirmou, me fazendo soltar uma gargalhada, enquanto via Ethan revirar os olhos ao meu lado, negando com a cabeça com uma expressão indignada. —Se eu fosse vocês, iria dormir antes de Gates chegar. É difícil relaxar quando esse cara aparece com uma expressão de poucos amigos.

Sawyer se moveu na cama de cima, deixando claro que estava indo dormir. Ethan me lançou um olhar demorado, antes de se ajeitar e me abraçar, fechando os olhos para dormir também. Permaneci acordada, até a luz do dormitório apagar quando o toque de recolher ecoou pelos corredores. Não demorou muito para a porta se abrir e um cara entrar. Mesmo na escuridão eu podia ver que não era Tyler, pelo porte, então só podia ser Gates. Ele foi até seu armário, lançando um olhar furtivo para a cama de Sawyer antes de seguir para o banheiro, batendo a porta com mais força do que seria necessário, como se quisesse acordar os outros.

Ethan apenas se moveu ao meu lado, se ajeitando mais enquanto caia em um sono profundo. Não demorou muito para a porta do corredor se abrir de novo e eu reconhecer a silhueta de Tyler dessa vez. Vi quando ele se moveu pelo quarto parcialmente escuro, tirando os sapatos antes de parar entre os beliches. Me encolhi, tendo a certeza de que ele estava olhando na direção da cama de Ethan, provavelmente notando o montinho diferente que deixava claro que havia duas pessoas na cama.

Não tinha certeza se ele podia reconhecer que era eu, porque estava escuro demais. Mas vi que ele se demorou olhando pra nós, antes de finalmente se virar e subir na cama de cima do outro beliche. Suspirei de alívio, fechando meus olhos para tentar dormir também. Me sentia mais segura ali do que no meu próprio dormitório agora que sabia que Gia havia voltado. Só esperava que Eliot não demorasse no que quer que fosse fazer.

[...]

Me arrastei pra fora da cama de Ethan antes que os outros acordassem. Tinha dormido tão bem que foi difícil sair dali. Mas eu queria estar pronta antes de todos os outros, pra mostrar a Cold que eu podia seguir regras e podia me esforçar para ser melhor. Ele não pareceu surpreso quando encontrou eu e Ethan o esperando, já que meu irmão iria começar o treinamento. As coisas se seguiram meio esquisitas no início, até uma rotina agradável o suficiente se instalar entre nós três.

Cold manteve distância de mim com a chegada de Ethan, se dedicando a sempre exigir mais de nós dois a cada dia que passava. Meu irmão parecia não notar a tensão entre eu e Cold, que mesmo a distância, ainda existia. Ethan estava mais ocupado se esforçando em aprender tudo que Cold falava e mostrava. Não sabia se deveria ou não ficar surpresa com o quão bem ele ia. Ele era ótimo lançando facas, porque conseguiu acertar o alvo já no primeiro dia, enquanto eu só fui conseguir um avanço depois da primeira semana.

Ethan também era ótimo em luta corpo a corpo, porque sempre me deixava beijando o chão quando Cold colocava nós dois pra lutar no tatame. As vezes eu gostava de pensar que eu só não estava mostrando meu potencial pra não vencer meu próprio irmão, mas eu sabia que no fundo é porque não importava o quanto eu me esforçasse, eu ainda era a mais fraca de todas ali.

Mas então Cold finalmente colocou a arma nas nossas mãos. Ele explicou o funcionamento de uma pistola pra nós dois, mesmo que eu já soubesse. Mas eu também nunca havia contado a Ethan sobre o que aconteceu envolvendo um de seus colegas de quarto. Ethan demorou para pegar o jeito com as armas de calibre maior, mas praticamente destruiu um dos alvos quando finalmente conseguiu. Eu tinha sérios problemas com os pesos de algumas delas, mas conseguia fazer um estrago bom o suficiente nos alvos, pra fazer a expressão séria de Cold se aliviar um pouco.

No final da segunda semana ali, eu estava saindo da sala de treinamento com um saquinho de gelo pressionado na bochecha. Havíamos sido finalmente colocados juntos com o restante dos recrutados do nosso ano. Fui mandada para o tatame com uma das garotas que se chamava Sophie e tinha a minha idade. Diferente de Ethan que me deixava no chão, mas nunca me machucava, Sophie me bateu tanto a ponto de eu ser arrastada para fora do tatame. Agora eu estava dolorida, com um olho roxo e me sentindo uma fracassada.

—Cold realmente treinou você? —Neo indagou, me fazendo ficar rígida quando começou a caminhar ao meu lado no corredor, enquanto eu me dirigia até o refeitório para encontrar os outros. —Ou você estava mais ocupada achando meios de agradar ele?

O calor se concentrou nas minhas bochechas com a sugestão dele. Não fiquei nem um pouco feliz por saber que Neo era um dos responsáveis pela minha turma de recrutados. Parecia que quando as coisas começavam a melhorar, tudo regredia e ficava ainda pior. Neo não gostava de mim e certamente não iria facilitar minha vida ali.

—Por que, está com ciúmes? —Indaguei, usando algo que eu aprendi durante aquelas duas semanas e que eu sabia que o deixava furioso. Apenas uma frase e sua mandíbula travou. —Mas estou curiosa, está com ciúmes de mim ou de Cold?

—Você já era, Hawking. Uma hora ou outra, vou pegar você quando estiver sozinha e seu sangue vai ser meu troféu. —A resposta dele não me deixou com medo, enquanto eu o observava se afastar puto de raiva comigo.

Balancei a cabeça negativamente, pensando na ameaça dele, antes de abrir a porta do refeitório e olhar ao redor até encontrar meu irmão e Eliot. Caminhei até a bancada para pegar meu almoço, antes de ir me juntar aos dois. Ethan ficou tenso quando viu o saco de gelo que eu mantinha no rosto, antes de pegar minha bandeja para me ajudar a sentar.

—Ainda acho que você não estava pronta pra se juntar aos outros. —Afirmou, me fazendo comprimir os lábios, porque mesmo que aquilo machucasse meu ego, eu sabia que ele só estava tentando me proteger. Tudo que ele havia feito nessas duas semanas era ser absolutamente protetor. Tinha certeza que seu entusiasmo em treinar e se tornar sempre melhor, tinha algo a ver com isso também.

—Vou melhorar, sério. Hoje foi só o primeiro dia com eles. —Falei, sentindo meu rosto dolorido quando abaixei o saco de gelo e comecei a comer, antes de olhar para Eliot. —Quando você vai parar de usar essas muletas e essa bota, hein?

—Quando meu médico achar que eu posso. —Ele deu de ombros, apontando para as duas muletas. —Acha que eu gosto de andar com essas coisas, gatinha? Me incomodam pra caramba. Eu queria voltar a treinar, mas só sigo ordens por aqui...

Eliot parou de falar assim que um sinal sonoro começou a tocar nos alto-falantes, ao mesmo tempo que luzes vermelhas piscavam por todos os corredores. A maioria dos soldados ficou de pé na mesma hora, disparando para fora do refeitório.



Continua...

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