Sawyer ficou de pé, tropeçando nos degraus quando tentou se afastar de Gia. As mãos se erguendo até o rosto, como se ele não acreditasse no que havia acabado de fazer. Como se não acreditasse que Gia havia acabado de morrer bem na nossa frente.
—Merda! —Sawyer fechou os olhos, afundo o rosto entre as mãos, enquanto negava com a cabeça. —Foi sem querer. Eu não queria matá-la. Foi sem querer, eu juro.
—Está tudo bem, Sawyer. —Desci os degraus, apertando uma mão contra minha costela dolorida, antes de me baixar e pegar a faca, limpando-a nas roupas de Gia antes de escondê-la na minha calça. Sawyer ainda negava com a cabeça, se escorando na parede como se quisesse se fundir a ela. —Está tudo bem.
—Eu não queria matá-la, Hannah. Foi sem querer. Juro pra você. —Ele me lançou um olhar desesperado quando parei ao seu lado. —Cold vai acabar comigo. Ele vai me matar quando souber o que eu fiz.
Não tinha dúvidas que Sawyer seria punido por isso se alguém descobrisse, já que ele era da mesma equipe de Gia e deveria estar me mantendo como refém, e não me ajudando como fez, a ponto de matá-la sem querer no meio da briga.
Toquei o braço dele, respirando fundo enquanto tentava pensar no que fazer. Gia estava morta e não havia como voltar atrás. Então nós precisávamos lidar com a situação.—Cold não vai saber, porque eu não vou contar pra ninguém o que aconteceu aqui e nem você. —Afirmei, vendo a surpresa no rosto dele quando me ouviu. —Vamos jogar o corpo dela em uma das salas. Estou sem a minha pulseira e você também. Ninguém vai saber que você ou eu fizemos isso. Basta manter segredo.
—Hannah... —Ele fechou os olhos, escorando a cabeça contra a parede. —Tem certeza disso? Podemos nos meter em problemas se alguém descobrir.
—Ninguém vai descobrir, Sawyer. Porque eu não vou contar e nem você, certo? —Indaguei, lançando um sorriso conspiratório na direção dele.
Sawyer hesitou, mas balançou a cabeça que sim no segundo seguinte, me fazendo soltar um suspiro de alívio. Não sei como eu estava conseguindo me manter tão calma naquela situação, já que um soldado havia realmente morrido em meio a um treinamento. Mas talvez se fosse qualquer outro soldado eu estaria mesmo preocupada, só que como era Gia, tudo que eu conseguia sentir era um alívio esquisito por saber que ela não iria mais me incomodar.
—Espera. —Sawyer pegou os braços dela e eu as pernas. Ele parou, aguardando enquanto eu olhava ao redor.
Indiquei o fosso do elevador, caminhando de forma desengonçada até o buraco na parede, por conta do peso de Gia e da dor nos meus braços. Paramos ao lado e eu encarei lá embaixo, vendo que parte das paredes estavam caídas, assim como o próprio elevador estava lá, meio destruído em meio asas destroçados. Não havia entrada para o fosso além daqueles nos andares mais a cima, como o que eu e Sawyer estávamos.
—Vamos jogá-la aqui. —Falei, vendo Sawyer me olhar com uma expressão esquisita, como se não estivesse me reconhecendo. —É um buraco escuro e sem acesso. Ninguém vai encontrá-la, a não ser que resolva pular daqui lá embaixo. —Lancei um olhar carregado na direção dele. —Acho que ambos concordamos que se alguém fizer isso, vai morrer quando o corpo atingir aquilo lá.
—Onde está a Hannah baixinha e bonitinha, que chora ao pegar em uma arma? —Sawyer indagou, enquanto nós dois lançávamos o corpo de Gia lá embaixo.
—Eu nunca chorei ao pegar em uma arma! —Rebati, enquanto eu e Sawyer ficávamos lado a lado, observando o lugar aonde havíamos jogado o corpo dela.
Esperei pelo sentimento ruim e pela culpa pelo que aconteceu com Gia e pelo que havíamos acabado de fazer. Mas ela não veio. Então segurei a mão de Sawyer e o puxei para sairmos dali.
[...]
O treinamento não demorou a terminar. Sawyer jogou as obrigação de lado, já que deveria me manter presa, e me ajustou a encontrar os soldados. Logo eu já estava sendo levada para o setor 1, sendo atendida por uma médica que checou todo meu corpo. Eu estava roxa e dolorida, sentindo até mesmo minha mandíbula doendo. Mas pelo menos estava viva, com um saquinho de gelo contra o rosto.
Ethan estava sentado ao meu lado na cama, apenas com a testa enfaixada, porque ele havia caído e batido a cabeça em meio a fuga, mas ainda estava melhor do que eu. Quando ele e os outros perguntaram o que havia acontecido, eu e Sawyer contamos que havíamos brigado quando ele me encontrou e tentou me prender de novo. A maioria riu dele por eu ter conseguido fugir, mesmo quando eu e Sawyer trocávamos um olhar cúmplice de quem sabia que as coisas não havia sido assim. Pelo menos ele não parecia incomodado com as provocações. Só um pouco culpado por ter matado Gia ainda.
—Você está liberada. —A médica murmurou, me entregando algumas cartelas de remédio para dor. Ethan me ajudou a descer da cama, antes de nós dois sairmos daquele quarto e caminharmos pelos corredores da Zona Hospitalar até o elevador.
—Não acredito que Sawyer bateu em você desse jeito. —Ethan murmurou, assim que as portas do elevador se fecharam e nós dois ficamos sozinhos. —Eu sei que era treinamento, mas ele podia ter sido menos agressivo.
—Não foi ele. —Falei, muito baixo, vendo Ethan se inclinar para perto de mim com a testa franzida, como se não tivesse ouvido o que eu tinha falado. —Foi Gia quem me bateu desse jeito.
—Gia Davenport? —Ethan grunhiu quando balancei a cabeça que sim. —E onde ela está? Vi aqueles babacas dos amigos dela a procurando. Aliás, por que você e Sawyer falaram que foi ele quem te bateu? Por que tirar a culpa dela?
—Ai é que está o problema. —Fiz uma careta ao colocar o saquinho de gelo sobre meu olho roxo. —Ela morreu.
—O que? —Ethan exclamou, se virando por completo pra mim, com uma expressão incrédula e confusa.
Então contei a ele tudo que aconteceu de verdade. Não queria mais esconder as coisas do meu irmão e sabia que ele não entregaria Sawyer. Contei como fugi pulando a janela, até encontrar Gia e a briga começar. Contei sobre onde escondemos o corpo dela e como Sawyer me ajudou a encontrar os soldados, mesmo que o trabalho dele fosse outro. Quando terminei de falar, a porta do elevador se abriu e nós dois saímos, voltando para a Zona Militar.
—Acho que preciso agradecer a ele então. —Foi a resposta dele, enquanto engolia em seco, parecendo absorver toda a história que eu havia contado. —Você está bem com tudo isso?
—Por mais estranho que pareça, sim. —Falei, porque não havia ficado triste com a morte dela. Ela mereceu o que aconteceu e provavelmente teria feito pior comigo. —Ainda vamos falar com Lara?
—Sim. Encontrei Eliot assim que voltei e ele disse que já sabe como vamos pra Zona Presidencial. —Eu olhei para Ethan com as sobrancelhas erguidas e ele deu de ombros. —Vamos encontrá-lo e vamos pra lá, Hannah, se estiver tudo bem por você.
—Agora? —Questionei, vendo-o balançar a cabeça que sim, analisando minha reação. Concordei com a cabeça, querendo resolver logo aquilo. Ainda precisava contar a Ethan sobre Gates e entender onde ele se encaixava em toda essa história.
Continua...
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Em Destruição
Ficção GeralO mundo sucumbiu as guerras e os países se tornaram ruínas. Agora, décadas depois, as pessoas precisam viver em zonas de contenção no subsolo, impedidas de ir além dos muros que cercam o complexo em que vivem. Cada um tem um papel crucial nessa nova...