O plano de Cold era simples, mas não fácil. Ryder precisava reunir qualquer rebelde que deseje derrubar o presidente e esteja disposto a uma última invasão ao complexo. Cold tinha deixado claro que o presidente era problema dele e que enquanto os rebeldes invadiam todo aquele lugar, ele ficaria encarregado de matá-lo. Não fiquei surpresa com a facilidade de Cold em falar sobre matar o próprio pai. Depois de tudo que eu tinha visto, nada mais iria me surpreender.
Quando a discussão deles terminou, me despedi dos meus irmãos com um abraço apertado, ouvindo Eliot resmungar que teria que suportar o mal humor dos dois enquanto eu estava fora. Então eu e Cold retornamos ao complexo, encontrando Gates nos esperando naquela sala, fazendo uma careta de desagrado quando olhou pra nós dois.
—Você já escolheu o nome? —Laís perguntou, e Amber balançou a cabeça negativamente, enquanto deslizava a mão pela barriga.
Nós três estávamos sentadas na bancada da cozinha comendo, enquanto jogávamos conversa fora. Cold havia saído para resolver algumas questões importantes. Eu sabia que parte delas envolvia nosso plano contra o presidente, já que Gates estava esperando do lado de fora do apartamento quando Cold saiu.
—Estou pensando que talvez, apenas talvez, se eu reencontrar minha filha, ela possa me ajudar a escolher o nome. —Amber abriu um sorriso fraco, como se aquela fosse uma ótima ideia, mas também impossível.
—Você vai voltar a vê-la. Eu já prometi isso a você. E tenho certeza que Lara vai ficar feliz em saber que você está viva. —Afirmei, levando a mão até a de Amber e a apertando de leve, enquanto abria um sorriso.
—As vezes eu tenho medo de que ele apareça aqui e me leve de volta para aquela prisão que ele chama de lar. Todos esses anos ao lado dele foram completamente insuportáveis. —Amber sussurrou, balançando a cabeça negativamente. —Se não fosse pelo Cold, eu provavelmente já teria desistido da minha vida a muito tempo.
—Se o presidente aparecer aqui, vamos dar um jeito nele antes que ele pense em tocar em você de novo. —Laís prometeu, piscando para Amber, como se quisesse deixar claro que estava tudo bem e que ela estava segura.
—Eu não sei. Ele sempre deu muita importância para o fato de eu sair de casa. Ele nunca deixou. E dessa vez ele não interferiu ou tentou discutir com Cold quando ele apareceu lá e me levou. —Amber pareceu ficar pensativa por um segundo. —Eu acho que ele está tramando alguma coisa. Michael nunca fica quieto por muito tempo ou se deixa enganar. Alguma coisa está acontecendo. Vocês devem tomar muito cuidado.
—Vamos resolver isso antes que ele pense em algum jeito de nos atacar. —Afirmei, mesmo que aquelas palavras tivessem deixado meu estômago ácido. —Só precisamos ter certeza que os rebeldes vão nos ajudar. Ryder ainda não entrou em contato.
—Eu imaginei que não seria tão fácil assim. Ainda mais que a maioria deles quer saber a identidade do traidor. —Laís deu de ombros, balançando a cabeça negativamente. —O que você acha que Hogan pensaria nessa situação? Se soubesse que é Cold por trás de tudo?
—Eu não sei. —Amber abriu um sorriso tenso. —Hogan pode ter mudado nesses anos. O meu ex marido não tinha cara de quem um dia criaria um grupo de rebeldes para uma rebelião. Então eu não sei responder isso a você.
—Tenho certeza que Ryder vai resolver essa situação. —Afirmei, porque sabia que todos os rebeldes confiavam nele. —Só precisamos de um pouco de tempo.
—Pena que tempo é a única coisa que não temos. —Laís exclamou, soltando uma risada. —Vamos nos dar muito bem ou vamos todos morrer.
Soltei o garfo que estava nas minhas mãos quando ouvi o barulho do alarme soar pelo centro de treinamento. Laís e Amber fizeram o mesmo, ficando imóveis. Meu coração disparou, com meus pensamentos girando entre Cold e os rebeldes.
—Eles estão chamando todos os soldados para o pátio externo. —Laís olhou a tela da própria pulseira, fazendo uma careta antes de erguer os olhos e me encarar. —O presidente está aqui. Eu preciso ir até lá. Você sabe onde estão as armas, Hannah. Mate qualquer um que entrar aqui. Inclusive, o presidente.
Laís disparou para fora do apartamento, enquanto eu pensava que o presidente aparecer ali era a pior coisa que poderia acontecer. Se ele viesse até o apartamento de Cold, certamente tentaria levar Amber e ele não podia de jeito nenhum me encontrar ali, ou tudo iria por água a baixo.
—Tem a varanda do quarto de Cold. Podemos ver de lá. Os vidros são escuros pra quem olha de fora. —Amber segurou minha mão e me puxou em direção ao quarto de Cold, enquanto eu ainda tentava achar explicações para o presidente estar ali.
Paramos na frente das portas da varanda, que davam para o pátio externo. Aproximei o rosto do vidro, vendo os soldados se agrupando lá embaixo, da forma que já vi fazerem várias vezes. Vi o momento que Laís se juntou a eles e não demorou muito para Cold aparecer lá embaixo também, sobre aquela plataforma, varrendo os olhos por todos os soldados. Ele ergueu a cabeça e fitou a nossa varanda, como se imaginasse que estávamos ali.
Apertei minhas mãos em punho quando o presidente surgiu ao seu lado, com um sorriso gentil direcionado a todos os soldados, enquanto murmurava alguma coisa para Cold. Meu sangue ferveu, me lembrando de todos os motivos que me faziam odia-lo. Tudo que eu queria era uma chance de colocar minhas mãos nele e destroça-lo pelo que fez com Cold e Amber, assim como fez com meus pais e todo resto que sofreu nas suas mãos.
—Senhores, senhoritas. —Ele balançou a cabeça em um cumprimento doce. —Imagino que estejam surpresos com essa reunião de última hora. Mas foi necessário devido aos últimos acontecimentos. Vocês sabem que recentemente, em uma das nossas averiguações pelas cidades, encontramos os rebeldes. —Ele fez uma pausa, olhando para cada rosto lá embaixo. —Infelizmente para nós, eles conseguiram fugir de novo. Eu sei que isso de certo modo é decepcionante para todos vocês, que lutam pela justiça ao meu lado. Mas eu estou aqui pra dizer que esse jogo ainda não acabou. E que a próxima rodada será nossa. Tenho algo que pode colocar os rebeldes em nossas mãos. Não estou disposto a desistir, nem agora, nem nunca.
A porta que dava para a plataforma onde ele estava se abriu e um soldado apareceu de lá, puxando alguém pelo braço. Não era possível ver quem era, já que a pessoa estava usando um pano para cobrir a cabeça. Mas eu conseguia assimilar a silhueta como de uma mulher. Amber segurou minha mão, como se estivesse com medo do que iria ver, quando a mulher foi colocada ao lado do presidente.
—Eu preparei uma carta aos rebeldes. Uma mensagem. Estou esperando uma resposta amigável deles. Afinal, não quero uma guerra. Apenas a paz. —Prosseguiu, enquanto a ansiedade borbulhava nas minhas veias, enquanto uma sensação ruim tomava conta de mim. —E realmente ficarei decepcionado se tiver que sujar minhas mãos, caso as coisas não saiam como o esperado pra nós.
Eu observei, quase como se tudo ficasse em câmera lenta, o soldado puxar o pano da cabeça da mulher. Os cabelos dela caíram ao redor dos ombros e ela fechou os olhos assim que a luz atingiu seu rosto. A palavra simplesmente saiu da minha boca, antes que eu conseguisse processar o que estava acontecendo.
—Mãe?
Continua...
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Em Destruição
Ficção GeralO mundo sucumbiu as guerras e os países se tornaram ruínas. Agora, décadas depois, as pessoas precisam viver em zonas de contenção no subsolo, impedidas de ir além dos muros que cercam o complexo em que vivem. Cada um tem um papel crucial nessa nova...