Capítulo 54: Eu preciso ir.

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Thalia não estava no dormitório quando voltei pra lá, mas ouvi pelos corredores que eles ainda estavam procurando por Gia. Eles poderiam procurar o dia todo, mas nunca iam encontrá-la de qualquer forma. Não estou tentando ser maldosa, mas toda vez que tento ficar com pena dela, eu me lembro da faca que ela colocou na minha garganta, além de me ameaçar. Ela teria me matado naquele corredor se não fosse por Sawyer. Ainda não o agradeci por salvar a minha vida.

Meu corpo estava dolorido e cheio de marcas roxas quando me enfiei embaixo do chuveiro, tentando tomar o banho mais rápido de todos, porque Ethan e Eliot estavam me esperando para que fôssemos atrás de Lara na Zona Presidencial. Toda vez que pensava no fato de estarmos indo atrás dela, me lembra a de Gates e das coisas que ele havia dito.

Abri a porta do banheiro, hesitando um segundo quando encontrei Cold ali, escorado na porta fechada. Laís não estava ali, então eu presumia que o motivo da vista era eu. Ainda não havíamos conversado desde a execução de Tyler ontem e de toda a coisa com o rastreador. Não estava pronta pra falar com ele, sem sentir raiva, mágoa e até mesmo a vontade de enche-lo de perguntas sobre Ryder.

—Estava me perguntando se deveria te dar espaço ou tentar conversar. —Comentou, com o tom de voz totalmente cansado e frustrado. Os olhos verdes tão profundos, que soavam como o infinito. —Achei melhor conversar e você me dizer o que quer agora.

—O que eu quero? —Ergui as sobrancelhas, soltando uma risada baixa ao caminhar até meu armário, sentindo os olhos dele me seguirem até eu pendurar minha toalha ali e pegar uma jaqueta. —O que você quer, Cold? Não estou falando desse lugar, estou falando de mim. O que você quer de mim, especificamente?

—Achei que tivesse ficado bem claro pra você. —Ele se aproximou, fazendo meu coração disparar quando bati as costas contra a porta do armário, tentando me afastar dele quando seu corpo ficou a centímetros do meu. O calor percorrendo meu corpo quando senti a respiração dele no meu rosto. —Em algum momento eu dei a entender que não a desejo? Que não a quero pra mim? Todas as coisas que eu fiz até hoje são para mantê-la o mais perto de mim possível, Hannah!

—Mentir também? —Indaguei, sem conseguir evitar a pergunta que estava entalada na minha garganta. Os olhos de Cold escureceram, como se eu estivesse entrando em uma zona perigosa.

—Sim, até mesmo mentir e enganar. —Cold colocou as mãos espalmadas na porta atrás de mim, enquanto o nariz roçava na minha bochecha, me fazendo engolir em seco quando meu corpo inteiro reagiu à proximidade dele. —E você pode querer ou não continuar comigo, mas vou continuar fazendo essas coisas, até mesmo piores, para mantê-la por perto.

—Vai me obrigar a ficar com você? —Ergui o queixo, encarando os olhos dele como um desafio. Mas podia ver a resposta no rosto dele, que Cold jamais me obrigaria a nada.

—Nunca. Mas isso não significa que eu não a queira bem e segura. Será que você consegue entender isso, Hannah? —Indagou, erguendo a mão para tocar minha bochecha. Meus olhos se fecharam, enquanto eu me odiava internamente por deixá-lo mexer comigo dessa forma. —Sei que está chateada com toda a questão do Tyler. Mas eu disse a você, eu apenas sigo ordens.

—Suas ordens eram matar Tyler. —Sussurrei, sentindo meu coração contrair dentro do peito quando abri os olhos e encarei a expressão calorosa de Cold. —Você atirou nele e foi embora, como se a vida dele não fosse nada. É sempre assim que você age, Cold.

—Você sempre soube que eu era assim. Nunca fingi ser outra coisa que não essa. —Afirmou, me fazendo engolir em seco quando ele deslizou a mão até minha nuca, roçando os lábios nos meus. —O que é que você quer, Hannah? Quer que eu a deixe em paz ou que eu a leve pro meu apartamento de novo? Quer que eu a beije ou quer que eu pare de toca-la?

Agarrei a jaqueta dele, fechando meus olhos com força, sentindo aquelas palavras causarem uma reação química no meu coração. A lembrança de Cold matando Tyler permanecia na minha cabeça, mas os meus sentimentos simplesmente gritavam para que eu me agarrasse a ele e não o soltasse mais. Odiava estar tão confusa em relação a Cold. Odiava não saber se podia ou não confiar nele.

Como demorei pra responder, Cold soltou um suspiro longo, parecendo resignado, antes de me puxar contra o seu peito. Meu coração se apertou quando passei os braços ao redor do ombro dele, escondendo meu rosto na curva do seu pescoço ao abraçar apertado, sentindo ele me envolver de forma tão protetora. Aquilo só confundia ainda mais minha cabeça e meus sentimentos, que estavam divididos entre fazer o certo e me afastar de Cold.

—Hannah... —Ele segurou meu rosto, fazendo o calor se concentrar nas minhas bochechas, enquanto minha boca ficava seca.

—Eu preciso ir. Ethan está me esperando no dormitório dele. —Afirmei, porque se Cold me beijasse naquele momento, eu não saberia como lidar com mais nada. Desviei os olhos dele, percebendo que ele parecia buscar qualquer coisa no meu rosto. —Não posso... Não sei o que fazer depois do que aconteceu ontem. Não sei se consigo agir como se...

Mordi meu lábio, vendo Cold balançar a cabeça negativamente, como se eu não precisasse dizer mais nada. Ele contraiu a mandíbula, como se estivesse pensando entre insistir ou me dar um tempo. Talvez quando toda essa confusão com os rebeldes passasse eu podia me decidir sobre Cold. Mas não podia fazer isso agora, quando nem tinha certeza sobre o dia de amanhã.

—Sua pulseira foi configurada para ter acesso ao meu apartamento. —Ele afastou o corpo primeiro e depois tirou as mãos do meu rosto, me fazendo sentir falta do seu calor quando ergui os olhos para encara-lo, surpresa com suas palavras. —Se precisar de qualquer coisa, pode ir até lá.

Cold olhou pra mim por um segundo interminável, antes de caminhar até a porta e sair dali. Soltei um suspiro pesado, escondendo o rosto entre as mãos, me sentindo a pior pessoa do planeta naquele momento.

[...]

—Você demorou, hein? —Eliot resmungou quando apareci no dormitório de Ethan, o encontrando junto com meu irmão. Apontei para o banheiro, porque podia ouvir o som do chuveiro ligado e não queria correr o risco de ninguém nos ouvir. —É Sawyer. O idiota do Gates ainda não retornou do treinamento.

—Talvez ele não seja tão idiota quando pareça. —Falei, umedecendo os lábios com a língua quando os dois me lançaram olhares incrédulos, como se eu estivesse ficando louca. —Gates me deu um aviso sobre o presidente e sobre Amara, enquanto eu estava sendo feita de refém pelo grupo dele.

—Como assim te deu um aviso? —Ethan indagou, soando ainda mais incrédulo. —O Gates, meu colega de quarto? O mesmo Gates que já foi um babaca com nós dois?

—É, Ethan. Eu estou falando sério. Fiquei chocada na hora também. Mas ele apareceu sozinho onde eu estava presa e falou comigo sobre o presidente, o rastreador e a Amara. —Insisti, soltando um suspiro pesado ao caminhar até a cama do próprio Gates e me sentar, porque não queria ficar olhando pra cama de Tyler enquanto explicava pra eles tudo que Gates havia me contado.

Eliot e Ethan pareceram não acreditar muito a medida que eu fui falando, como se Gates tentando nos ajudar fosse improvável. E era, na verdade. Mas realmente aconteceu. Só que eu não tinha certeza de que ir atrás de Gates para tentar falar sobre isso era uma boa ideia. Tinha a leve sensação que ele ia agir daquele jeito babaca e me olhar com cara de nojo.

—Sei que isso não faz o menor sentido. Fiquei sem entender nada quando aconteceu. —Prossegui, mordendo o lábio com força, enquanto encarava meus pés. —Gates disse que não era um rebelde, então talvez a gente possa falar com Lara e tentar descobrir alguma coisa.

—Bom, eu arrumei um jeito de irmos pra lá. —Eliot afirmou, puxando as muletas para ficar de pé. —Sabem aqueles meus conhecidos da cozinha que conseguem pizza da Zona Presidencial pra mim? Eles disseram que podem colocar nós três lá, sem levantar suspeitas.

—E de que forma eles vão fazer isso, exatamente? —Ethan indagou, parecendo desconfiado.


Continua...

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