Capítulo 42: Ele desconfia.

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Pelos dias seguintes eu e Cold ficávamos nos encontrando em qualquer oportunidade possível. As vezes ele aparecia no meu treino, ficando observando até o horário acabar e ele poder me arrastar até uma sala vazia. Em uma parte do tempo ele fingia estar me treinando, porque não levava a sério de fato. Na outra parte ele ficava me beijando. Parecia bom demais pra ser verdade.

Mas mesmo assim eu aproveitei cada segundo possível. Os minutos roubados escondidos em uma sala era um momento de paz perto de todo o esforço e cansaço que os treinamentos me exigiam. Sempre que eu resmungava sobre isso, Cold me dizia para lembrar de Gia e Neo, e usar a raiva que senti pelos dois ao meu favor. Isso costumava me deixar com vontade de perguntar a ele o que o deixava com raiva. O que ele usava como combustível para matar pessoas sem se importar.

Ainda não havia me acostumado com esse lado de Cold e odiava quando havia outras pessoas ao nosso redor e tudo que eu via era aquela máquina de seguir ordens e matar. Nenhuma emoção exposta no rosto, assim como nenhum olhar na minha direção, mesmo que eu sentisse que ele prestava atenção em cada respiração minha.

Mas quando estávamos sozinhos, apenas aquele Cold gentil aparecia. As vezes eu sentia que iria me desmanchar na presença dele, toda vez que ele se soltava o suficiente para soltar uma gargalhada, que transformava seu rosto em algo tão novo e adorável. Era como se as coisas entre nós pudessem ser perfeitas, mesmo que eu soubesse que estavam longe disso.

Algumas noites antes de dormir eu ficava imaginando que eu ainda estava no setor 2, por mais tedioso que ele fosse, é que Cold era o filho de um simples civil de lá. Eu imaginava que nosso encontro teria sido em um esbarrão em um corredor e que nossa conexão foi instantânea. Tudo seria tão mais fácil pra nós dois. Eu não precisaria olhar para meu irmão e omitir sobre todos os encontros que eu estava tendo com Cold. Aquela vozinha na minha cabeça repetindo o quanto eu era burra e tola.

A única pessoa que sabia o que estava acontecendo era Laís, porque era difícil esconder algo dela quando ela era próxima de Cold e minha colega de dormitório. Mas ela também era ótima em guardar segredos, assim como eu fingir não ver o que estava acontecendo entre ela e Eliot, que eu cruzei algumas vezes saindo do nosso dormitório. Pelo menos eu e Cold não éramos os únicos fingindo que alguma coisa não estava acontecendo, quando na verdade estava.

—Você está tão quieto hoje. —Falei, encarando o céu escuro, com algumas estrelas perdidas.

Cold se moveu de leve ao meu lado, onde estávamos deitados no chão de um dos terraços da Zona Militar. Ele me trazia ali algumas vezes, onde passávamos horas encarando o céu, nos braços um do outro, até eu precisar me esgueirar de volta para o meu dormitório depois do toque de recolher. Mal estar com o filho do presidente talvez me desse alguma vantagem sobre isso, já que eu nunca era pega.

—Estou com a cabeça em outro lugar, me desculpa. —Ele girou o rosto, fazendo o nariz tocar na minha bochecha, o que me fez estremecer de leve. Cold estava segurando a trança do meu cabelo. Brincando com ela entre os dedos. —Os últimos dias tem sido um pouco complicados e eu tenho um compromisso que gostaria de não comparecer, mas que sou obrigado a ir.

—Que compromisso? —Indaguei, virando o rosto para olhá-lo. Cold estava me observando, como se eu fosse muito mais interessante que o céu sobre nós. —É com o seu pai?

Cold nunca falava do presidente ou da vida dele. Normalmente ele me contava sobre as missões que havia feito do lado de fora da cerca de contenção. Das coisas que ele já havia visto pelo mundo. Mas todas as vezes que eu perguntava sobre algo relacionado a isso, ele se retraia, como se eu estivesse entrando em um campo minado. Eu logo desejava retirar minhas palavras pra que ele voltasse ao normal.

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