Os lábios de Cold pareciam puro gelo contra os meus e mesmo que estivesse fraco, ele me beijava como se fosse morrer se não pudesse me ter. Meu coração se apertou quando nos afastamos, enquanto eu deixava vários selinhos na sua boca. A expressão de Cold estava um pouco apagada pela palidez em seu rosto, mas eu ainda podia sentir o calor nos seus olhos enquanto ele me encarava.
—Eu sinto muito. —Cold sussurrou, roçando os lábios nos meus, enquanto a mão deslizava pela minha bochecha em uma caricia lenta. —Eu quero que você seja livre, Hannah. Quero que viva de verdade.
—Cold, por favor... —Ele colocou o dedo sobre meus lábios, me impedindo de falar qualquer coisa, enquanto seus lábios se abriam em um sorriso fraco.
—Pegue minha pulseira. —Pediu, estendendo o braço pra mim. Fiz o que ele queria, observando a tela da pulseira dele quando a segurei. —O azul sou eu e o vermelho você. Tem um rastreador nas pulseiras. Se clicar no botão ao lado vai ver onde Ethan e Eliot estão. Precisa ir até eles e se livrar das pulseiras de todos eles. —Olhei para Cold enquanto ele explicava e vi que ele se esforçava para se manter acordado. —Tem um túnel de ventilação no corredor leste. Siga esse e você chegará até lá. —Cold apontou para o lado que eu deveria seguir. —Depois é só entrar no túnel de ventilação e usar a pulseira para chegar até eles. Você precisa ir agora.
Cliquei no botão ao lado, vendo onde Ethan estava, quase chegando no estacionamento. Tinha certeza de que ele deveria estar surtando uma hora dessas, sabendo que eu estava perdida pela Zona Militar.
—Você precisa ir agora. —Cold insistiu, tocando minha mão com cuidado, me fazendo voltar a olhar pra ele. Era impossível olhar pra ele e não sentir uma dor absurda dentro do peito, por tudo que aconteceu entre nós e por não termos tido mais tempo um com o outro. —Vá, Hannah, antes que eles encontrem você.
—Você vai ficar bem, não vai? Vamos nos ver de novo? —Questionei, observando os lábios de Cold tremerem quando ele tentou sorrir.
—Vai ficar tudo bem. Você só precisa sair daqui. —Sussurrou, me fazendo balançar a cabeça negativamente, sentindo as lágrimas queimarem nos meus olhos quando apertei a mão dele com mais força.
—Eu perguntei... se vamos nos ver de novo, Cold! —Insisti, odiando cada segundo daquele momento, querendo que tudo ficasse bem no final.
—Um dia a gente vai. —Cold deslizou a outra mão pela minha bochecha, enquanto nossas respirações se cruzavam.
—Promete? Sem presidente, sem rebeldes e nem tiros e bombas? —Insisti ainda mais, precisando ouvir aquilo dos lábios dele. Precisando de qualquer coisa que Cold pudesse me dar naquele momento.
—Apenas eu e você, Hannah. —Eu o beijei quando sua mão segurou minha nuca. Um beijo rápido, mas repleto de significados. —Eu prometo.
Ele me beijou uma última vez, antes de eu me levantar, sentindo cada parte do meu corpo protestar contra aquilo, principalmente meu coração. Os olhos de Cold estavam opacos e a pele mais branca que papel, mas eu ainda podia sentir o calor dos sentimentos dele por mim ali. Naquelas palavras e em cada gesto dele.
—Está tudo bem. —Prometeu, percebendo minha hesitação.
Observei ele balançar a cabeça. Um leve movimento com a cabeça, mas o suficiente para que eu entendesse tudo. Mesmo assim hesitei, observando todo o sangue que tomava conta das roupas de Cold e o quando ele parecia apenas uma sombra do que verdadeiramente era. Fechei meus olhos com força, com aquela última imagem de Cold soando como uma faca cravada no fundo do meu coração. Então peguei a arma de um dos soldados e disparei pelo corredor, na direção que ele havia mandado.
Meu coração estava batendo tão rápido dentro do meu peito, que eu tinha quase certeza de que ele iria explodir a qualquer momento. O sangue de Cold que ensopava minhas mãos e minhas roupas deixava um rastro pelo caminho por onde eu passava. Os corredores ainda escuros e parcialmente destruídos pelas explosões. Mas aquele lugar em ruína não era nem um pouco comparável ao que eu sentia dentro de mim. O calor das lágrimas que pingavam das minhas bochechas e a dor lancinante que tomava conta de todo meu corpo.
Continuei olhando para a pulseira na minha mão, tentando não perder Ethan de vista, mesmo que ele fosse só um pontinho vermelho no meio de um mapa estranho. Minhas pernas doíam pelo esforço de correr, enquanto eu percebia que havia esquecido completamente do tiro que havia levado na minha perna, porque minha mente só conseguia focar na imagem de Cold caído no chão.
Soltei um grito quando o elevador se abriu no final do corredor que eu estava, revelando alguns soldados. Ergui a arma e atirei, acertando dois deles, antes que eles se descem conta do que estava acontecendo. Os outros três dispararam na minha direção, enquanto eu sentia meu sangue gelar ao ouvir os gritos de Thalia, notando que um deles era ela. Tentei me esconder dentro de uma sala, chutando a porta com minha perna livre, antes de correr para desviar dos tiros.
—Dessa vez você não vai fugir, Hawking. —Thalia exclamou, enquanto eu tirava o carregador da arma, observando quantas balas eu ainda tinha, antes de coloca-lo de volta no lugar e puxar a trava. —Vou dar tantos tiros em você, que seu amado irmão nem vai conseguir reconhecer seu corpo depois. —Respirei fundo, sentindo meu sangue correr com força pelas minhas veias, queimando dentro do meu corpo. —Mas antes quero saber o que você fez com a Gia.
—Joguei ela no fosso de um antigo elevador, depois que ela tentou me matar. —Afirmei, me encolhendo quanto um tiro acertou o batente da porta na minha frente. —Não perca seu tempo indo procurá-la. Já deve estar irreconhecível uma hora dessas, fedendo e...
Ela soltou um grito de raiva, atirando sem parar na direção da porta, tentando me acertar. Me inclinei e atirei rapidamente na direção de Thalia e dos outros dois soldados, escorregando para o chão para desviar das balas. Meus olhos se arregalaram quando vi o elevador se abrir de novo atrás dele e Gates sair de lá de dentro, erguendo a arma no instante que viu o que estava acontecendo. Ele puxou o gatilho duas vezes, acertando os dois soldados, enquanto Thalia se virava assustada.
—Que merda você está fazendo? —Ela exclamou, erguendo a arma e apontando para Gates. Saí de dentro da sala, ouvindo o som da minha própria respiração quando apontei para a cabeça de Thalia e atirei, no instante em que ela se virou, se dando conta que havia esquecido de mim.
—Tadinha, eu avisei pra ela tomar cuidado com quem confiava. —Gates estalou a língua ao encarar o corpo dela no chão, balançando a cabeça negativamente enquanto exibia uma falsa expressão de pena. —Mas ela era meio burrinha, assim como você. Eu avisei pra dar o fora e você não me ouviu.
—Gates... —Tropecei na direção de Gates, agarrando a jaqueta dele e o pegando de surpresa. —Cold precisa de ajuda... Ele levou um tiro e precisa... —Apontei na direção que tinha deixando Cold, vendo os olhos de Gates parecerem alarmados ao me ouvir. —Por favor, ele precisa de um médico, Gates. Você tem que ir até lá ajudá-lo. Por favor...
—Tudo bem, tudo bem... Se acalme. —Gates pegou um carregador das coisas de Thalia e enfiou na minha mão. —Eu vou até lá e você dá o fora daqui. Seus amigos estão indo pro estacionamento, sabe como chegar lá? —Indagou, erguendo as sobrancelhas quando balancei a cabeça que sim várias vezes seguidas. —Ótimo, então vá. Eu vou até o Cold. Não se preocupe com ele. Se preocupe com você, entendeu?
Balancei a cabeça que sim, porque não era capaz de falar naquele momento, antes de Gates assentir e então nós dois nos separarmos.
Continua...
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Em Destruição
Ficção GeralO mundo sucumbiu as guerras e os países se tornaram ruínas. Agora, décadas depois, as pessoas precisam viver em zonas de contenção no subsolo, impedidas de ir além dos muros que cercam o complexo em que vivem. Cada um tem um papel crucial nessa nova...