Eu virei as costas para os dois e disparei para fora dali. Tinha certeza que se tivesse que falar com Cold, eu iria explodir como uma bomba em cima dele e de Laís. Mas ele parecia não se importar com isso, porque ouvi sua voz me chamando enquanto eu atravessava os corredores como uma tempestade, tentando ficar o mais longe possível dele. Minha respiração estava tão acelerada e meu coração tão disparado, enquanto a raiva borbulhava nas minhas veias.
—Hannah! —Cold exclamou, me fazendo comprimir os lábios quando virei em um dos corredores e cheguei até as escadas, quase tropeçando nos meus próprios pés ao tentar subi-las rápido. —Hannah, pare! —Agarrei o corrimão com força, querendo me virar e acertar um soco no rosto dele com toda força que existia dentro de mim. —Hawking, estou dando uma ordem a você. Pare agora mesmo!
Eu estava no meio das escadas para outro andar quando parei e me virei, erguendo o queixo para encarar Cold quando ele me alcançou. Parecia absolutamente controlado. As roupas elegantes e a expressão séria de sempre, enquanto caminhava até mim com tanta tranquilidade que fiquei ainda mais irritada.
—Precisa de alguma coisa, Sr. Andrews? —Indaguei, colocando minhas mãos para trás das costas, segurando meu punho fechando para não atingi-lo. O fato de eu agir desse jeito pareceu remover a calma dele, já que sua expressão endureceu como se eu tivesse o acertado com um soco de verdade.
—Preciso que me escute e que seja só um pouco racional agora, em vez de deixar a raiva falar mais alto. —Afirmou, me arrancando uma risada amarga. —Você tentou fugir e eu sou filho do presidente. Acho que entende o quanto as coisas são absolutamente complicadas.
—Não faço ideia do que está falando. —Falei, querendo sentir mais daquele gostinho de acerta-lo com as palavras. —Só estou aqui pra fazer o meu trabalho da melhor maneira possível, senhor.
—Hannah! —Ele ergueu as mãos, puxando os cabelos para trás como se estivesse tão frustado naquele momento. Aquilo me fez ter vontade de rir. Uma gargalhada alta e alegre demais. Ao mesmo tempo que eu só consegui olhar para Cold e me perguntar onde estava aquele soldado que eu conheci. Ele soltou uma respiração pesada, com os ombros ficando rígidos quando olhou pra mim de novo. —Venha comigo.
—Não, obrigada. —Soltei, virando as costas para sair dali, antes de sentir a mão dele segurar meu braço.
—É uma ordem. —Sussurrou, a voz calma o suficiente para me deixar nervosa e apagar um pouco da raiva que eu sentia. —Venha comigo.
Ele se virou, seguindo pelo corredor, sem esperar para ver se eu iria atrás dele ou não. Fiquei hesitante em ir, porque não queria ouvir uma palavra sequer que ele tinha pra dizer, ao mesmo tempo que não sabia o quão sério suas ordens poderiam ser. Eu ainda era uma soldada e ele estava no comando ali.
—Hawking, agora! —Exclamou do corredor, me dando um susto. Me movi na mesma hora, me apressando em acompanhá-lo, odiando cada segundo daquele momento.
[...]
Não sei pra onde estávamos indo, mas a raiva se dissolveu à medida que o nervosismo e a ansiedade cresciam dentro de mim. Minha respiração se acalmou em algum momento, mas meu coração continuava bebendo mais rápido do que seria recomendado. Cold parecia impecável ao meu lado quando saímos do elevador, como se nada pudesse o abalar. A frustração e o descontrole que passou por ele no corredor desapareceram tão rápido quando havia surgido.
—Pra onde está me levando? —Indaguei, porque não conhecia o corredor por onde estávamos passando.
Mas Cold me ignorou, seguindo em frente sem esperar por mim. Soltei um resmungo baixo, tendo quase certeza que ele me olhou com o canto dos olhos. Ele parou na frente de uma porta, colocando a pulseira na frente do sensor, antes de abri-la quando a entrada foi liberada. Ele abriu espaço para que eu entrasse primeiro, antes de fechar a porta atrás de nós dois, enquanto eu percorria o pequeno corredor e congelava no lugar quando percebia aonde eu estava.
—Esse é o... —O corredor tinha se aberto em uma sala, com sofás, televisão e uma cozinha aberta. Uma sala e uma cozinha de verdade, de um apartamento. Da casa de alguém. —Por que você me trouxe aqui?
—Por que precisamos conversar e não estou interessado em me tornar o show particular de nenhum outro soldado. —Afirmou, tirando a jaqueta que estava usando, antes de dobra-la com cuidado e a soltar em uma poltrona ao lado dos sofás. —Quer alguma coisa? —Fiquei em silêncio, analisando o espaço entre eu até a porta, tentando ter certeza se conseguiria chegar até lá antes de Cold. —Eu vou alcançá-la antes que chegue na porta.
—Qual a droga do seu problema? —Explodi, cansada demais de tudo aquilo. —Eu tinha ido atrás de você porque queria conversar. Porque queria um pouco de respostas, mesmo que você nunca me falasse nada. Então eu ouvi aquela conversa e quer saber? Não preciso mais falar com você, porque já entendi a merda toda.
—Ah, você entendeu? —Ele parou no meio da sala, se virando pra mim. —E que conclusão chegou, Hannah? —Quando não respondi, um sorriso se curvou nos lábios dele. Pequeno e afiado. —O que acha de nós dois pararmos de fingir agora?
—Quem estava tão confortável fazendo isso era você, Sr. Andrews. —Retruquei, sem me importar se iria soar grosseira ou não.
—Por que era o melhor pra nós dois!
—Não, porque isso era o melhor pra você! —Afirmei, erguendo o queixo para enfrentá-lo. —Você me levou naquele terraço aquela noite e depois colocou meu nome na porcaria daquela lista de convocação, quando sabia que eu não iria conseguir sobreviver nessa merda de lugar!
—Você não é fraca, Hannah. Você age como se fosse fraca, porque isso a faz se sentir menos decepcionada quando você erra. Mas você não é fraca! —Cold se aproximou de onde eu estava, fazendo algo queimar no meu peito. —Eu coloquei seu nome na lista porque sabia que você conseguiria. Porque achei que você tinha força de vontade o suficiente para desejar mudar a própria vida. Eu só não estava esperando que você fosse simplesmente tentar fugir!
—E o que teria sido diferente se eu não tivesse fugido? —Indaguei, falando mais baixo do que eu pretendia. Quase não ouvindo minha própria voz. —Você viu minhas informações. Você sabia que minha mãe iria ficar sozinha naquele lugar. Eles nunca convocavam duas pessoas da mesma família, mas você passou por cima disso e colocou meu nome lá mesma assim.
—Olha pra mim, Hannah. —Ele apontou para si mesmo, o rosto exibindo uma expressão sarcástica. —Acha que eu estava preocupado com o fato da sua mãe ficar sozinha? Acha que eu sequer pensei nisso?
—Você sabe o quanto isso é horrível, não é? Ela morreu, Cold. Minha mãe morreu e você está falando isso! —Exclamei, fechando minhas mãos em punho, enquanto uma força irracional tomava conta de mim.
—Por que vocês tentaram fugir. Se você e seu irmão tivessem simplesmente ido encontrar os outros recrutados, ela estaria viva ainda. Não tenho culpa sobre isso. —Afirmou, com os olhos verdes devorando cada pedaço de mim. —O meu único erro foi ter colocado seu nome naquela lista, Hannah. Porque fui irracional e deixei a porcaria dos meus sentimentos falar mais alto. Mas não tenho culpa pelo restante das coisas que aconteceram com você.
—Você é hipócrita e mentiroso. —Falei, arrancando uma risada dele, que se inclinou pra perto de mim. Dei um passo para trás até minhas costas baterem na parede, ficando presa ali quando ele colocou as mãos na parede atrás de mim. O rosto tão perto que eu podia sentir sua respiração quente no meu rosto.
—Não nego nenhuma dessas duas coisas. Também não nego que sou uma pessoa horrível, que gosta de matar e não se preocupa com o sentimento das outras pessoas. —Sussurrou, fazendo as palavras morrerem na minha boca, enquanto um nó surgia no meu estômago, me deixando com a barriga tão gelada. —Mas nós dois somos os errados aqui, não é? Eu por ter usado o poder que tinha pra te trazer até aqui e você por me desejar mesmo quando não deveria fazer isso.
—Eu te odeio. —Falei, me sentindo prestes a desmanchar naquele momento, quando o vi sorrindo pra mim.
—Eu sei. —Ele aproximou o rosto mais um pouco, antes de hesitar. —Me odiar é o melhor que você pode fazer, Hannah.
Continua...
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Em Destruição
General FictionO mundo sucumbiu as guerras e os países se tornaram ruínas. Agora, décadas depois, as pessoas precisam viver em zonas de contenção no subsolo, impedidas de ir além dos muros que cercam o complexo em que vivem. Cada um tem um papel crucial nessa nova...