Capítulo 27: Bombas caseiras.

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Observei pela janela do carro o muro ficando para trás e dando lugar a uma floresta verde. Logo depois de Cold nos dividir, foram entregues as armas que precisaríamos carregar, além das munições que prendemos ao nosso corpo. Meu pé batia no chão constantemente, enquanto eu observava as carcaças do que um dia foi uma cidade, agora tomada pela mata densa. Podia ver os carros que iam na nossa frente, assim como os que vinham logo atrás.

Meus dedos apertavam a arma com força contra o meu colo, porque o nervosismo estava começando a dar as caras. A lembrança de ter tentado fugir e então a explosão logo em seguida, queimou na minha mente, trazendo um gosto amargo pra minha boca, assim como fez meu coração se apertar. Não fazia ideia de como lidar com a ansiedade, enquanto encarava aquele mundo lá fora, que era apenas a sombra do que um dia já havia sido.

—Você está bem? —Tyler indagou ao meu lado, me fazendo desviar os olhos da janela pra ele. Os primeiros minutos que entramos no carro foram em silêncio, até chegarmos ao muro e sairmos do complexo. Mas algumas vezes que eu olhava para Tyler, eu o pegava me observando, antes de disfarçar sempre que eu o pegava no flagra. —Agora é você quem parece tensa.

—Imagino que saiba que tentei fugir com a minha família. —Falei, umedecendo os lábios com a língua quando minha boca ficou subitamente seca, assim que ele balançou a cabeça positivamente, sem tirar os olhos dos meus, como se estivesse buscando alguma coisa no meu interior. —Fomos pegos em um galpão abandonado fora da cerca de contenção e então tudo deu errado. Mas agora eu estou aqui fora, assim como Ethan e... Sei lá, só me faz perceber como tudo isso é uma merda completa.

Abaixei os olhos para o meu colo, sentindo uma dor insuportável no peito quando a saudade da minha mãe bateu contra o meu coração. Na maior parte do tempo eu tentava não pensar nela e no que aconteceu, porque sentia vontade de chorar sempre que me lembrava. Mas também não posso mentir que chorei silenciosamente em algumas noites, grudada em Ethan como se ele fosse sumir a qualquer momento.

—Eu sinto muito pela sua mãe. —Tyler sussurrou, me fazendo erguer os olhos para ver que ele ainda me observava, como se ele pudesse entender de fato o que eu estava sentindo. —Já perdi pessoas muito importantes pra mim também. Sei como isso nos faz viver de uma forma diferente, como se não pudéssemos mais ser os mesmos sem eles.

—É, exatamente isso. —Balancei a cabeça, surpresa pelo quanto aquelas palavras mexeram comigo, causando uma sensação estranha no meu peito. Um conforto, como se eu não estivesse sozinha naquilo. —Vamos cuidar um do outro lá fora, não vamos? Tenho um irmão pra quem voltar, Tyler.

—Vamos, sim, Hannah. —Ele desviou os olhos de mim para o chão, com o olhar de tornando perdido à medida que apertava a arma contra o seu peito, enquanto soltava uma suspiro pesado. —Nenhum de nós dois vai morrer hoje, eu prometo.

[...]

Não sei quantas horas fazia que estávamos naquele carro, viajando pelo meio da floresta, até entrarmos nas ruínas de uma cidade. Me inclinei sobre a janela na mesma hora, com meus olhos engolindo todos os prédios destruídos e abandonados, além das casas e lojas. Era algo totalmente diferente do que eu estava acostumada nas zonas de contenção. Viver embaixo da terra. Até mesmo na Zona Militar, onde eu nunca deixava as paredes daquele lugar, mesmo que as ruas estivessem logo atrás de algumas portas. Não é um lar quando você não pode sair. É uma prisão.

Não demorou muito para os carros pararem e nós descermos. Meus lábios comprimiram ao observar tudo aquilo, ouvindo o mais puro silêncio, sem barulhos de passados ou qualquer coisa, além do uivo do vento contra as paredes de todas as construções que formavam aquela cidade. Eu não era a única a olhar ao redor. Ethan e os outros do nosso ano também pareciam surpresos com tudo aquilo. Em como as coisas eram diferentes no antigo mundo.

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