64 ~ Eu não queria me tornar como ela.

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Can

O teste estava em minhas mãos.
Eu desejava não sei o pai de Emin, não pelo garoto e nem por que não desejava ser pai.
Eu não queria ser o pai que foi privado dos melhores momentos do filho. Eu não queria ser o pai que a até alguns dias atrás não sabia da sua existencia. Se eu fosse, que Deus me desse discernimento, pois Kara não voltaria e por os olhos em Emin.
Eu sabia quão manipuladora Kara se tornou, mas esconder um filho?
Suspirei, agoniado.
Assim que Gülliz chegou com o teste liguei para os meus pais, meu irmão e Demet. O que quer que acontecesse após o resultado do exame, eu sabia que tendo essas pessoas ao meu lado e confiando em quem eu era, tudo ficaria bem.
Demet foi a primeira a chegar.

- Meu único... - Ela me abraçou apertado, seus braços ao redor do meu pescoço. - Vai dar tudo certo!
- Ter você ao meu lado, já faz com que tudo esteja certo, Aşkın.

Ela me deu um meio sorriso que não chegou aos olhos. A preocupação era impossível de ser disfarçada. Com a chegada dos meus pais, Aylan e Kaan nos sentamos todos na sala de estar.
Abri o envelope, com o resultado que poderia mudar grande parte da minha vida. Fiz uma prece novamente a Allah.
Meus olhos correram pelas letras de linguagem técnica e o resultado logo abaixo me tirou o chão.

"Conclui-se que o Sr. Can Yaman é o pai biológico de Emin Topaloğlu. Declaro que o laudo acima é expressão de verdade."

Deixei os papeis caírem espalhados pela sala. Minha cabeça caiu para a frente, sendo amparada por minhas mãos e joelhos. Emin era meu filho. As lagrimas comeraçam a correr sem freio.
Demet acariciou minhas costas. O restante foi tudo como um sonho. Ouvi vozes da minha família ao fundo, meus pensamentos eram tão altos que eu não conseguia entender o que estava sendo dito na sala da minha casa.
Minha mãe se aproximou, tocando meu rosto entre suas mãos.

- Meu leão... Não tema. Estamos com você.

O abraço apertado fez com que eu me sentisse um menino indefesso e pensar nisso me fez refletir quantas e quantas vezes Emir se sentiu assim.
Beijei as mãos da minha mãe e sorri de volta. Um sorriso para lhe dar conforto, mas misturado com tristeza. Ela era minha mãe, podia ver como eu me sentia: despedaçado.
Demet não disse nenhum palavra, apenas rodeou seus braços finos e pequenos ao meu redor.

- Isso não muda nada em relação a nós. - Demet piscou seus olhos lindos, escuros e úmidos.

Beijei sua testa e pisquei de volta para a dona do meu coração.

- Como vai querer proceder de agora em diante? Se expusermos os videos e evidências das traições de Kara, teremos pelo menos a chance de mostrar que ela não é essa santa toda que esta querendo parecer.
- Eu não sei, Kaan. Como isso pode afetar Emin?
- Can... Ela não teve nenhum escrúpulo quando falou aquelas mentiras sobre você para a turquia inteira ouvir! - Aylan disse. - Eu ainda não posso acreditar como isso aconteceu. Como Sâmia pode ajudar esconder Emin de você.
- Honestamente... Eu não estou conseguindo pensar em nada. Eu agradeço o apoio e carinho de todos, mas poderiam me deixar sozinho? Preciso colocar a cabeça no lugar.

Todos concordaram. Me abraçaram e se despediram, quando chegou a vez de Demet, a puxei para meus braços.

- Podemos ficar sozinhos juntos? - Perguntei a ela.

Seu olhar de carinho e empatia pelo que eu estava vivendo se dirigiram a mim.

- Sempre que você quiser.

Derya nos ajudou mais uma vez, disse a mãe delas que Demet estaria com as amigas e que dormiria por la. Naquela noite, passamos a madrugada grudados, abraçados e em silêncio. Eu adormeci sentindo o melhor cheiro do mundo, o cheiro de Demet.
Na manhã seguinte, quando acordei a cama estava vazia. Fui ao banheiro, fiz minha higiene pessoal e fui atras da morena.
Assim que cheguei na cozinha me deparei com Demet vestida apenas com uma camiseta minha, cantando algo baixinho e perdida em pensamentos enquanto preparava o café da manhã. Cruzei os braços e descansei no batente da porta, admirando a menina. A minha menina.
Demet se virou para pegar algo no armário e deu um gritinho de susto ao me ver.

- Quer me matar do coração, Yaman?!

Sorri da cara dela e fui logo indo até ela e a pegando nos braços. Sentei ela na mesa de marmore e me encaixei entre suas pernas.

- Eu não pude deixar de admirar. Me desculpe se te assustei.
- Desculpo nada! Meu coração quase parou. Deixei você dormindo como um neném lá no quarto e de repente você esta aqui!

Ela sorriu, não conseguindo manter a pose de bravinha.

- Quer dizer que você estava preparando nosso café da manhã...?
- Sim, mas fui interrompida.

Disse ela, olhando para a pouca distância entre nós. Sorri para ela e beijei sua boca macia e delicada. O beijo foi inocente, por mais que o desejo por ela sempre estivesse a espreita.
Me afastei, indo até o lugar na mesa onde ela estava cortando as frutas.

- Para redemir do susto que lhe causei, a senhorita vai se sentar a mesa e eu terminarei nosso café, ok?

Demet desceu da mesa, dando um pequeno pulo e me abraçou pelas costas nuas, respirando fundo.

- Vamos fazer juntos.

Demet colocou os pratos e xícaras na mesa no jardim. Ajudei a levar as frutas, torradas e geleias doces que ela tinha preparado. Ela trouxe o café e o suco de laranja.
Nos sentamos um de frente para o outro. Ela estava com o cabelo solto, e ainda somente com a minha camiseta eu não conseguia desviar os olhos.

- Eu sei que sou irresistível, Yaman... - Ela mordeu a torrada, falando de boca cheia.
- É mesmo. Eu poderia passar o resto da vida te olhando.

Ela bebeu um pouco do suco, engoliu o biscoito e limpou a boca com o guardanapo.

- Falando desse jeito eu vou acabar acreditando...
- É para acreditar mesmo.

Comi algumas frutas e torradas, acompanhando Demet.

- As gravações começam daqui a uma hora. Vamos direto ou vai passar na sua casa primeiro?
- Podemos ir direto. Já falei com minha mãe hoje de manhã.
- Eu imagino que com o resultando do exame, conversar sobre nosso namoro com os seus pais por enquanto esteja fora de cogitação...

Demet deixou sua torrada de lado, e pegou uma de minhas mãos sobre a mesa.

- Realmente ainda não é o momento.
- E quando vai ser? Sempre tem algo nos afastando.
- Nada vai nos afastar... Só vamos dar tempo as coisas... Você conseguiu pensar sobre o que dizer a impressa?
- Sim. Aliás, irei me abster de entrevistas.
- Você sabe que eles iram te massacrar!
- Quando eles não fizeram isso?
- Can... Ela te acusou de coisas horríveis. Se você não disser nada...
- Demet, como eu posso dizer que a mãe do meu filho foi uma mulher sem escrúpulos que em todo nosso relacionamento transava com o amante quase embaixo do meu nariz? Que ela ainda é tão ambiciosa quanto a cinco anos atras? Não posso fazer isso com o Emin.
- Eu entendo que você queira protegê-lo da exposição, mas se calar não vai ajudar.

Eu não queria ser o filho da puta que mancha a imagem de outra pessoa. Eu não queria me tornar como Kara.

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