Perdão

502 37 0
                                    

Zack

Caminho pelo extenso corredor de paredes brancas, a cada passo que eu dava era uma lembrança que vinha e uma palpitação no coração.
Passo por passo e eu já não aguentava mais. Meu filho, meu pequeno herdeiro se foi antes mesmo de vim.

Acompanhando a moça pela qual atendeu minha esposa, na qual carregou o fardo de me entregar a pior notícia possível.

-É aqui senhor, pode ficar o tempo necessário.

Ao passar pela porta o ar se extingue de meus pulmões e meus olhos queimam como o inferno.
Caminho até o berço transparente onde deixaram o corpo desfalecido de meu pequeno, seus traços tão únicos, ele tinha o nariz de sua mãe. As dobras de sua perna, seu pé tão pequeno que nunca poderá correr pelo campo, suas mãos tão finas que nunca poderão segurar meus dedos, seus olhos tão puxado que nunca enxergarão a vida.
Seu corpo tão perfeito que nunca poderei ter o prazer de dar banho, vestir ou segurar para adormece-lo.

Toca seu rosto e me sinto tocar as nuvens, pude estar ao paraíso ainda em vida e me agraciarei por isso, poderei dizer aos quatros ventos que já toquei aos céus sem antes mesmo voar.
Toco suas mãos e sinto suas falanges já tão frágeis quanto vidro, ainda assim poderei dizer que já toquei um anjo.
Peguei seu pequeno corpo e coloquei sobre meu peito, seu frágil corpo se adaptou tão perfeitamente ao meu, eu segurei a oitava maravilha que já existiu no mundo.

Beijei o topo de sua cabeça e sentir seu cheiro tão único, tão perfeito. Meu bebê! Meu pequeno e frágil bebê, eu te amarei até meu último suspiro, eu nunca te esquecerei!

***

-Eu o vi, ele é tão lindo, ele tem seu nariz e até mesmo a mesma manchinha que você tem no punho.
Ele é a coisa mais preciosa neste mundo, nosso bebê, nosso filhinho!
Você foi tão forte, eu me orgulho de você. Você fez o que pode e eu sempre serei grato por tudo.
Eu te amo com todo meu ser e sempre te amarei. Você me deu meu maior presente e não sei como posso te agradecer por isso, nunca saberei.
Você me ajudou em minha pior fase e me deu a luz de viver...-Despejo meus pensamentos sobre o corpo anestesiado de Lorena, segurei suas mãos durante cada segundo em que estive nesse quarto.- Eu te peço perdão mas não posso aguentar isso!- Me levanto da poltrona, seco a lágrima que escorria pelo meu rosto, fecho meus olhos e respiro fundo, bloqueei toda essa farsa de sentimentalismo que existia em mim, abro meus olhos, deixo um beijo em sua testa e saio do quarto sem sequer olhar para trás. Ela nunca me perdoará por isso mas tem coisas a serem feitas.

Estávamos todos esperando na sala enquanto Zack foi ao quarto do bebê e de Lorena, todos extremamente aflitos por notícias que nunca chegavam

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Estávamos todos esperando na sala enquanto Zack foi ao quarto do bebê e de Lorena, todos extremamente aflitos por notícias que nunca chegavam. O policial ainda não disse o motivo do acidente, a médica não deu relatos sobre o bebê ou a Lorena e eu já não sei se aguento.

Como um vulto Zack passa pelo corredor como se fugisse de algo, ou fosse atrás de algo.

-Zack? Já sabe o que aconteceu?- Ele nem sequer olha para trás ou diminui a velocidade.
Assim como surgiu ele some por entre os corredores do hospital atravessando a grande porta de vidro e seguindo pela rua em uma direção qualquer.

-Dê tempo a ele, não podemos imaginar o que ele está sentindo.- Diz Daya com a cabeça sobre meu ombro e os braços ao redor de minha cintura.

A enfermeira liberou nossa entrada então todos fomos para o quarto de Lorena esperar o efeito da anestesia passar.
Cada um se sentou em uma poltrona no local, todos devastamente cansados, já se passava da duas da madrugada.

-Eu vou buscar um café-Diz Daya se levantando e saindo do quarto.

-Me traga um, por favor. -Pede Allaric que estava com o rosto tão abatido quanto todos nós.

-Pode ir para casa, eu e Daya ficamos aqui.

-Não, você está aqui e irei te acompanhar, além do mais Lorena vai precisar de todo apoio quando acordar.

-Obrigada- Digo e repouso minha cabeça sobre seu peito, meus olhos já pesam mais que eu consigo aguentar, luto o máximo para me manter acordada. Allaric começa um relaxante carinho sobre meu cabelo e isso é o golpe final na minha ardilosa luta contra o sono, me permito ser pega pela tentadora escuridão.

[...]

-Eu acho que ela se mexeu- Ouço a voz distante de Daya.

-A anestesia deve estar passando. -Reponde Allaric.

-Zack ainda não voltou, o que falaremos?

-A verdade!?

Me levanto retirando o casaco que Ric havia colocado sobre mim, abro meus olhos lentamente e vejo Daya em pé sobre a cama de Lorena e Ric encostado sobre a porta.

-Que hora que é?-Pergunto zonza.

-Já irá dar quatro horas. -Responde Allaric olhando no seu relógio de pulso.

-Meu...-A voz fraca de Lorena se faz presente- Meu...

-O quê?-Diz Daya se aproximando do rosto da fraca garota deitada.

-Bebê... Meu bebê.

Todos nós paralisamos sem saber como dizer, ficamos congelados olhando uns paras os outros enquanto Lorena recuperava as forças.

-Meu bebê está bem?-Ela diz e pousa a mão sobre a barriga, não sentindo o mesmo volume ela tenta se levanta bruscamente o que resulta em um gemido de dor-Cadê meu bebê? O que aconteceu?

-Então...-Daya tenta falar mas não consegue.

Eu não sei como dizer e posso acabar piorando tudo.

-Ele se foi-Diz Ric querendo aliviar a ansiedade da mulher.

-Como ele se foi?-Seu rosto agora toma um ar de confusão e desespero.

-O bebê não resistiu ao impacto, um motorista embriagado colidiu ao seu carro no lado do motorista e a maior parte da pressão foi na sua barriga o que resultou em um aborto espontâneo, sinto muito. -Ele despeja de uma vez e por fim respirando como se tivesse retirado um peso.

-Meu pequeno bebê, se foi?- Lágrimas inundava seus olhos e escorriam pelo seu rosto, um grunhido de dor é feito mas dessa vez sabemos que não é nenhuma dor física.
Lorena coloca as mãos sobre o peito e a barriga como se sentisse uma enorme dor no coração.- Onde Zack está?- Ela pergunta entre os soluços.

-Após saber da noticia ele foi ver o bebê, entrou no seu quarto ficou por uma hora inteira falando com você inconsciente e depois saiu como um louco sem falar com ninguém.

-Ele também partiu? O que eu faço?-Era visível o seu desespero.

-A pergunta é: O que faremos

Assim na Terra como no Inferno-Meu MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora