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Vegeta sibilou com ódio, levantou voo e foi para um lugar silencioso, um local a qual pudesse organizar seus pensamentos e decidir qual passo tomar a seguir. Sempre fora alguém cauteloso e sem dúvidas do que fazer a seguir, mas essa situação, esse fardo de ser um pai, não queria. Vegeta é um escravo e se Freeza suspeitasse que pensasse em tal coisa, seu castigo seria mil vezes pior do que seu pior pesadelo. Além de ter que proteger sua raça, agora tem de proteger uma terráquea. Recostou em uma pedra alta, grande o suficiente para olhar seu reino, o penhasco que agora ocupava o restante da sua população.

Ele vira pessoas caminhando, se alimentando, tentando sobreviver, seus olhos miraram em um casal de anciões que estavam caminhando em um penhasco, carregando uma carroça de carne com pele, não tinham cavalos, apenas o casal que estavam sorrindo e conversando sobre algo que ele não fez questão de ouvir. Logo o casal parou e se sentou para descansar, o velho dividiu um pouco de sua água e Vegeta viu um ato de caricia, o homem colocou a mecha de cabelo grisalho de sua esposa atrás de sua orelha. Eles estavam se divertindo.

Amor. 

Afeição. 

Carinho.

Esses sentimentos não passavam pela sua cabeça, havia aprendido que compaixão, afeto, amor, são sentimentos que deixam um guerreiro fraco. Seus olhos fuzilaram o casal, ver aquela cena o deixou com raiva, com muita raiva. Fechou seus olhos com força e obrigou a sentir a brisa fria que invadia seus ossos e dissipam a raiva em seu coração. Sua mente, o traiu.

Voltou para a batalha das crianças, não a viu hesitar em nenhum momento. A viu proteger aquele garoto como se fosse seu filho, ela deu forças a ele para que continuasse lutando, o fez achar um motivo para lutar e as palavras desesperadas dela ecoaram em sua mente. 

"... porque você é um sobrevivente! (...) Eu acredito em você!" 

Algumas vezes passava pelos treinos dos menores saiyans e se lembrava de cada um deles, se lembrava do garoto e claro aquele garoto nunca havia tido um destaque corretamente, sempre perdia, massacrado por seus oponentes e mais de uma vez chegou perto da morte. Lunari, o garoto decadista. Sorriu de forma debochada, havia se enganado com o garoto, ele tem um potencial oculto e aquela mulher enxergou isso quando ninguém acreditou nele, fora ela que deu esperanças a ele quando ninguém mais acreditava.

-Esperança...

Uma palavra incompreensível para ele, aprendeu há muitos anos que ter esperança somente trazia dor, desespero e acima de tudo falhas. Ele já havia parado de sonhar, sonhos a qual ele e seu povo estavam livres das mãos da lagartixa pálida, sonhos que ele estava desfrutando sua liberdade, fazendo o que quisesse, comandando seu exército em expedições ou em batalhas por território, todas essas coisas, coisas de um povo livre, ele já havia desistido.

Sua mente o alvorotou, o levando para a primeira vez que havia desafiado Freeza para uma luta, ele, além de perder de uma forma miserável, sua punição fora matar seus companheiros de batalhão de forma lenta e dolorosa. Ele ainda tinha sonhos e lembranças os quais ele arrancava membro por membro de seus soldados, enquanto os assistia morrer de forma dolorosa, se pudesse voltar no tempo, jamais o desafiaria.

Seu pai não entendia seu desespero, não fora ele que teve que matar seus soldados, seus companheiros, seu povo, não fora ele que teve que se humilhar diante do povo mais orgulhoso existente, seu pai não entendia seus desejos e acima de tudo, seu pai jamais entenderia seu desejo de vingança.

Liberdade do povo Saiyan

BESTEIRA! Ninguém pode libertar seu povo, nem mesmo a terráquea que carrega sua prole, afinal de contas o que o rei estava pensando? Por culpa da idiotice do seu pai, agora estava se preocupando com uma fêmea sem senso de sobrevivência e desrespeitosa. Ela jamais entenderia o orgulho de um saiyan, o erro de seu pai foi colocar seus genes nela, porque não usou o dele?

Uma coceira interna o atiçou, do que ele estava falando? Seu pai não desceria a esse nível, aquela humana jamais chegaria aos pés da sua companheira e rainha de Vegeta-sei. Seu pai jamais tocaria em outra fêmea, jamais.

Mas aquela terráquea? O que seu pai havia visto nela? E sim, ele não negava que o cheiro dela é perigosamente hipnotizante, já que deu a ele uma sensação estranha e intrigante.... Paz. A terráquea dava a ele paz e ele odiava. Ele sempre soube que não havia nada para ele já que tudo que fora importante, ele teve que matar. Sua mãe... Vegeta ainda se lembra com perfeição, como se estivesse acabado de acontecer.

A rainha estava deitada em completa agonia e Vegeta não sabia o que fazer.

- Vegeta.... - A mãe o chamou com urgência e ele foi até ela. - Eu não consigo....

- Eu vou chamar meu pai.

- Não! - Segurou no braço do pequeno. - Eu preciso que você faça!

- E-eu.... Não posso. - Foi a primeira e a última vez que Vegeta gaguejou.

- Você pode! Você é meu filho! Você vai tirar seu irmão de mim!

O garoto se tremeu e foi para o lado oposto, seu irmão estava com a cabeça enrolada no cordão, Vegeta tirou as luvas e ficou em frente as pernas abertas de sua mãe.

- Vegeta... Você precisa tirar seu irmão! - O filho mais velho não soube o que fazer. - Pega seu irmão e tira o cordão dele.

- Isso vai-

- EU SEI! - Gritou com ele. - Faça isso Vegeta! AGORA!

O pequeno saiyan segurou o irmão na abertura da sua mãe, segurou o cordão e vou que teria que enfiar a mão dentro dela. Vegeta hesitou por alguns segundos, ele não pode ser emotivo agora, ele tem que salvar seu irmão e sua mãe, então colocou a máscara de um guerreiro e fez o que precisava fazer. A cada segundo os gritos de sua mãe aumentavam e o sangramento piorava, Vegeta sentia suas mãos rasgando sua mãe, sentia o interior frio e pastoso, quando segurou o irmão e tirou o cordão dentro da mãe, ele o puxou para fora e precisou puxar de novo para tirar outra massa sangrenta. Seu irmão começou a chorar e ele se afastou e viu o estado que havia deixado sua mãe. Engoliu em seco e foi até o lado da mãe com os braços, abdômen e pernas ensanguentados.

- Sarada? - Vegeta não costumava chamar sua progenitora de mãe, mas quando ela não respondeu, ficou desesperado. - Sarada?! Sarada! - Vegeta segurou o irmão mais forte. - Mãe?... Mãe, fala comigo!

- O que... - Seu pai entrou no quarto e viu a cena.

Vegeta já perdeu demais e por isso ele não vai dar importância a coisas fúteis. Mas mesmo que se negasse a sentir, a terráquea chamou sua atenção. Ela o desafiou e com certeza não tem um senso de sobrevivência ou percepção do mais forte, aquela terráquea, de certa maneira se tornou interessante aos seus olhos. Até quando ela aguentaria essa pose? Até quando ela iria? O que era preciso para quebra-la? O que era preciso para tirar aquele olhar feroz do seu rosto pequeno e branco? Olhos azuis com um reflexo violeta, olhos que se tornavam hipnotizantes quando o enfrentava, olhos que possuem chamas perigosamente e deliciosamente intensas.

O que aconteceria se ele apagasse essas chamas? O que ela falaria? Será que ainda o desafiaria? Será que ainda manteria a cabeça erguida? Será que ainda iria se dizer herdeira? De quais maneiras ele poderia quebra-la? De qual maneira iria brincar com ela? E de qual maneira poderia ver as lágrimas em seus olhos? Quais seriam o gosto delas? Salgado? Açucarado? Amargo? Doce? Azedo?

Perguntas, perguntas e mais perguntas, sua cabeça já estava doendo de perguntas sem respostas, ficar se perguntando é pior do que tentar fazer e falhar, Vegeta não é de falhar. A única opção viável para ter as respostas para aquelas perguntas é a sua maneira. Um brilho comum chamou sua atenção, já havia escurecido, havia ficado tempo demais fora, seu pai o repreenderia por esse ato, mas ele não se importou.

Realmente precisava de um tempo para colocar as coisas em ordem, mesmo que nada de fato, fosse realmente esclarecido, já que  agora o príncipe dos Saiyajins possuía mais perguntas do que respostas. Perguntas que primeiro, não eram a respeito da sua raça, mas sim de uma raça fraca e patética, uma terráquea, ele havia muito mais perguntas sobre a terráquea do que o plano de seu pai para com a terráquea.  

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