E se?

5.4

Kakarotto iria responder quando a nave entrou em órbita, os machos se retiraram e foram para o painel de controle, pai e filho digitaram comandos e não demorou muito para chegar no hangar. A turbulência fez com que o garoto mais novo ficasse com enjôo e fosse para o banheiro. No caminho encontrou a garota andando apoiada nas paredes de metal, estava sangrando pelo abdômen, olhou atrás dela e notou o caminho longo que ela havia feito.

Agora que olhou bem ela estava sem cor nenhuma, olheiras presentes, lábios azuis e aparentemente ela iria cair pela falta de sangue. Antes que pudesse cair e causar um mal maior, ele a pegou no colo e disparou em direção a uma sala de cura da realeza. Quando sentiu o calor da garota diminuir aon ponto de quase desaparecer, pegou impulso no ar para aumentar a velocidade, se não chegasse rápido a princesa e o herdeiro poderiam morrer!

Assim que chegou na sala, a colocou imediatamente em um tanque e ativou seus comandos, a garota parecia um fantasma naquele tanque. Ela é realmente forte por ter aguentado tudo isso. Seus músculos começaram a cobrar o preço das suas aventuras relâmpago. Teria que ir para casa e tomar um banho, fazer uma refeição e ir ao encontro de Chichi, ela conhecia a humana, então talvez pudesse dar algum consolo a ela.

Vegeta saiu e foi para seu quarto, sua cabeça estava martelando os acontecimentos anteriores. Conforme a água quente enchia a banheira e o vapor pintava a sala, imagens voltavam como praga em sua cabeça, o sentimento de inutilidade estava impregnado na garganta.

Depois que ver Bardock correndo e vasculhando a sala procurando alguma coisa minha cauda ficou atiçada me dando um pressentimento ruim, cada segundo que decidi ignorar essa sensação meu peito apertava de tamanha forma fazendo o ar desaparecer  me deixando tonto.

Alguma coisa ruim vai acontecer, mas eu não sei o que. Não tem nada preocupante acontecendo, Freeza não está perto, não há ameaças por perto, então porque me sinto tão ansioso? Freeza... O que ele pretende? Usar o feto contra mim? Inútil.

Terráqueos são fracos e dá para perceber pela maneira que ela não suportou a dor, mas o que Freeza fez é imperdoável! Ele colocou a vida do meu filho em perigo quando abriu seu corpo e isso é imperdoável. 

Talvez ela não seja tão fraca quanto eu achei que fosse, ela suportou a dor e os choques sem desmaiar, mas em compensação, sua pele branca que já nem possui cor estava sem qualquer tipo de pigmento. Ao redor dos seus olhos olheiras apareceram e seus olhos estavam ficando sem vida, o azul se transformava cinza lentamente, seus gritos eram piores que os de uma banshee agonizando.

O azul que se tornava cinza. Não sei porque, mas fiquei inquieto com a lembrança. Virar para um lado da cama não ajudava, a sensação de que estou sendo assombrado é muito forte e insistente, mesmo que já tenha passado. Ela já está a salvo então porque me sinto como se não estivesse?

Irritado com o sentimento decidi ir até a terráquea, a ansiedade começou a brincar no meu estômago, um sentimento desagradável. Ela está segura, meu pai não vai reclamar na minha cabeça e eu posso voltar aos meus afazeres como príncipe e general, mas tem essa... coisa no peito me incomodando.

Abri a porta e ela continua deitada, suas roupas haviam sido trocadas e está com um grande curativo na região abdominal, concentrei minha audição, não ouvi nada. 

Fui até ela e ela não está respirando, merda, merda! Isso não pode acontecer! O que eu faço? Meu peito começou a bater forte demais e eu não consigo pensar desse jeito, o que eu faço? Ela não pode morrer! Não pode! Ela não pode morrer!

A segurei pela nuca e a olhei, seus olhos estão... sem brilho. O azul se transformou em cinza... Estão mortos! Não, ela não pode morrer! Ela não pode morrer! Ela não pode morrer, meu filho não pode morrer! Eu não vou deixar isso acontecer. 

Ela precisa de calor, ela precisa ficar quente, o sangue precisa circular, coloquei minha palma no seu peito, perto do coração e comecei a bombardear pouca energia para seu corpo, ela não pode morrer! Aumentei a potência da energia. Vamos, volta! Volta! Você precisa voltar! Vamos, vamos, vamos, volta! Volta! Volta! Volta! Vamos, você precisa voltar! Volta! Volta! Volta Bulma!

- Vegeta?

O garoto se assustou ao ver o pai parado na porta, então percebeu que estava parado no  meio do quarto olhando para as mãos trêmulas, grunhiu e começou a se despir.

O pai via as cicatrizes e se amargava por isso, seu filho sofreu nas mãos de seu escravagista e cada cicatriz o lembrava desse fardo, cortes, queimaduras, facadas, o passado de seu filho fora trágico e ele nunca se perdoaria por isso. Deixar seu filho sofrer nas mãos de um tirano o fez mais forte e como resposta seus limites foram quebrados mais rápido e ele despertou seu poder oculto mais rápido que qualquer outro guerreiro e disso ele se orgulhava.

Seu filho ainda mantinha a crueldade nas missões, mas o rei percebeu que estava ficando menos cruel com a sua raça, não punia os novatos por qualquer erro mínimo, agora pelo menos dava uma segunda chance antes de puni-los.

Estava fazendo seus afazeres quando o relatório de Bardock chegou, o rei usou sua velocidade para ir até a sala de cura do hangar e encontrou a mulher no tanque desacordada e com as cicatrizes diminuindo, olhou para o segundo monitor onde os batimentos cardíacos da criança batiam em ritmo constante. Soltou o ar que estava preso na garganta.

- Como ela está?

- Ela teve pms senhor, houve um forte trauma interno e externo também, a criança ficou sem fôlego por no máximo dois minutos.

- Irá prejudica-la?

- Não sabemos senhor, teremos que ficar de olho no desenvolvimento da criança e no da mãe.

- A perda de memória?

- Creio que será passageira, os exames preliminares mostraram que existe uma alteração mínima no hipocampo e estamos otimistas.

- Então ela ficará bem.

- Com o tempo sim, mas senhor, temos que avisá-lo que é melhor que ela se abstenha de serviços pesados e que exijam muita competência cerebral. - Observou o corpo que flutuava no líquido verde. - Senhor, pedimos que a trate com urbanidade, pelos testes que fizemos podemos te dar 99,9% de certeza que o corpo dos humanos é frágil comparado a um saiyajin. 

- Sei disso. 

- Não senhor. - Ele aponta para um quadro. - Pense como recém-nascidos, se apertar demais pode quebrar. 

Por algum motivo o rei se lembrou da cena que presenciou nos antigos aposentos do filho, aposentos quais ele teimava em usar mesmo que já o tivesse proibido. Toda vez que passava pelos corredores se lembrava do dia em que seu segundo filho nasceu e do dia que perdeu metade da sua família. Odiava aqueles corredores. 

- Tudo bem.