Capítulo 104 :

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Ao chegar em seu quarto, Harry tirou a camisa pronto para ir para o banho, mas ao passar perto da janela algo chamou sua atenção na poltrona. Era o caderno que Alice vivia escrevendo e escondendo. Ela tinha o esquecido e o melhor, aberto. Ele achou uma graça a ideia dela ter um diário e lendo aquilo ele finalmente poderia entender o que ela estava pensando, abriu na última página e viu a escrita bonita dela em caneta cor de rosa.

18 de Outubro.
Estou voltando para Maranello porque simplesmente não aguento mais ser alguém que eu não sou, mas que tento ser apenas para agradar... Agradar alguém que eu nem sei se eu amo. Incrível que em todo relacionamento que eu tenho, ninguém me aceita como eu realmente sou. Às vezes penso que sou uma pessoa realmente má e uma mal educada que não faz nada certo. Mas será realmente que o problema é comigo? Não era perfeita para o Lucas e provavelmente nunca vou ser para o coitado do Harry.

Ainda não me sinto bem nessa situação, não quero enganar mais ninguém, não quero me auto enganar, por isso acho que será bom voltar para minha casa. Ver como estão todos... Ver o Lucas. Preciso saber depois desses dias, como me sinto perto dele. Espero, do fundo do coração, que algo tenha mudado e que eu não sinta o que sentia antes. Se isso acontecer, significa que há algo entre eu e o Harry que eu ainda não sei...

Harry arregalou os olhos ao terminar de ler a última folha do diário de Alice. Ela obviamente não tinha terminado, porque ele tinha chegado no quarto. Mas saber que ela estava tão confusa por causa dele o incomodou. Mas porque esse tal de Lucas estava metido no meio do diário dela? Ele não era quase um irmão para ela? Moveu os dedos rapidamente para a primeira folha que tinha a data de dois anos atrás.

06 de Maio.
Não sei por onde começar. Acho que tenho esse diário desde uns doze anos e nunca nem o abri, sempre achei que era bobagem e que eu poderia falar com todos que estivessem à minha volta e desabafar que seria muito mais feliz.

Doce engano.

Quando se cresce, querendo ou não, as pessoas mudam. Eu mudei e vi que não posso sair falando do que me dói, simplesmente porque não consigo. Eu me envergonho muito por ter falhado em uma parte tão importante da minha vida. Me envergonho por não ter conseguido salvar o relacionamento com a pessoa que eu mais amo na minha vida. Dói estar aqui sentada sozinha em um hospital relembrando os gritos e a briga do Lucas com o meu pai. Dói ver que a pessoa que você mais ama virou uma outra que você não sabe nem o que sentir. Ele virou as costas para mim, para a família... Para a família que nós poderíamos ter.

Eu não sei de verdade se o que estava para acontecer era certo, eu vou fazer dezesseis anos, obviamente não estava preparada para ter um filho e brincar de casinha com o Lucas, eu sei que não era certo, sei que as chances de darem certo seriam mínimas. Mas não esperava que tudo desse tão errado. Não esperava perder meu filho como quem se perde uma chave, por um motivo tão idiota, por pura raiva do Lucas. Eu não quero o odiar por ter me feito sofrer, por ter me tirado tanto do sério ao ponto de eu não conseguir nem mais cuidar do nosso bebê. Ele e o bebê se foram junto com todas as minhas esperanças. Com todos os meus sonhos de uma vida perfeita. Eu nunca fui nem um pouco perfeita, mas eu tentei, juro que eu tentei.

Harry afastou o diário de seus olhos e tentou assimilar tudo aquilo que tinha acabado de ler. Alice não falaria aquelas coisas por brincadeira, então a ideia de saber que ela poderia já ter um filho com quase dois anos de idade com o cara que simplesmente tinha fingindo ser amigo dela e a dado de bandeja para ele, o irritou profundamente e o pior de tudo era saber que mesmo depois de quase dois anos, ela ainda gostava do "irmão do coração" dela. Moveu os dedos rapidamente para o meio do diário.

Arthur: O Piloto III 🎡Onde histórias criam vida. Descubra agora