capítulo 19

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Não será bom para seu filho, se passar a noite aqui. - A voz soou estranhamente calma. Alguém com o olhar tão devastador quanto o de Ucker jamais poderia gritar.

-Não, Christopher, não será bom. Nem para Charles, nem para mim. Sentimos muito a falta um do outro. Mas não creio que se importe com isso, não é? Suas opiniões são muito claras a esse respeito.

À menção ao nome de Charles, Ucker cerrou os punhos. Sabendo da história dele, da tragédia que se abatera sobre a família dele, Dulce compreendeu que ele sofria com a perda da filha. Estava a ponto de pedir desculpas, quando Ucker sentou-se, espalman­do as mãos sobre a mesa.

-     Acontece que só tenho uma cama, moça. E, você, tem cara de quem puxa o lençol para seu lado.

Dulce mergulhou a mão dele na parafina.

-     Acredite-me, Ucker. Se eu tiver que passar a noite aqui, quem vai puxar o lençol de quem será a última das suas preocupações. Jamais o perdoaria por obrigar-me a chegar a tal ponto.

- E, por magoar seu filho.

Dulce interrompeu seu trabalho e fitou-o.

- Não fui eu quem incluiu Charles na conversa.
Desviando o olhar, Ucker mudou de assunto com a maior naturalidade.

- Quanto tempo você disse que vai durar este banho?
- Não muito. Começaremos aos poucos.

À medida que desenvolvia o trabalho, Dulce com­preendeu que nunca seria fácil lidar com Ucker. Sem­pre conseguira estabelecer uma certa camaradagem com os pacientes, mesmo mantendo uma distância pro­fissional. O que não estava acontecendo com relação a Ucker.

Seguindo as instruções de Dulce, ele começou a mo­vimentar os dedos há tanto tempo imobilizados. Como sempre, ela estava alerta a qualquer indicação de can­saço ou de dor por parte do paciente.

-Não precisa policiar-se tanto perto de mim - ela o avisou. - Não é segredo que seus dedos perderam muito da flexibilidade. Portanto, não tenha receio de gemer ou reclamar da dor.

-O que espera? Que eu abra o berreiro como um bebê?

-Só quero saber o que você está sentindo.

Esqueça, Dulce. Esmiuçar a minha vida está fora de cogitação.

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