capítulo 90

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Dulce concordou com um gesto de cabeça.

- Bem, já vou indo. Acha que Charles está dormindo?

-Acho que sim. - Os olhos dela estavam emba­çados. - Ele pega no sono logo, principalmente quando está aborrecido. É um consolo para ele.

Ucker hesitou. Entendera o significado das pala­vras dela.

-     Então... Você acha... Será que posso dar uma olhada nele, antes de ir embora?

Dulce soltou um longo suspiro, depois concordou. Ca­minhou até o quarto e, silenciosamente, abriu a porta.

Ucker entrou. O quarto estava iluminado apenas pela lâmpada do abajur. Aproximando-se da cama, Ucker percebeu os contornos do corpo frágil sob o lençol. Ao lado, o urso de pelúcia. Inclinando-se, roçou os lábios na fronte do garoto.

-Ucker? - A voz sonolenta de Charles, sobressaltou-o. Descobrindo os braços, Charles enlaçou-o pelo pescoço, escondendo o rosto no pescoço dele. - Ucker, você está aqui.

- Psiu, Charles. Durma.

Com lágrimas nos olhos, Ucker abraçou Charles. Depois, ajeitou-o na cama de novo. Dulce seguiu-o para fora do quarto.

Respire fundo, Ucker. Respire fundo. Não pense, repetia para si mesmo. Não conseguiu. Só podia agir.

Assim que Dulce fechou a porta do quarto, ele a pegou nos braços, levantou-a do chão e beijou-a.

O beijo foi faminto, profundo, possessivo. Enterrou os dedos nos cabelos dela. Dulce enlaçou-o pelo pescoço e correspondeu ao beijo. Pela última vez, ele sabia. Ultima vez.

-     Está na hora, não? - ele sussurrou contra os lábios dela. Lentamente, colocou-a no chão e recuou.

Dulce o fitou por longos momentos. Depois, concordou.

- Já é tarde. - Erguendo a mão, tocou-lhe na camisa. - Não se sinta culpado por Charles. Não permita que ele se torne outro arrependimento, outro motivo para não perdoar a si mesmo.

Ucker não respondeu. Não poderia dizer a Dulce que ele já tinha arrependimentos com relação a Char­les. Como poderia não ter? Pelo menos, não magoara Dulce. Pelo menos, ela saíra incólume.

Ela o conduziu até a porta, estendendo a mão, como se ele não soubesse o que fazer.

- Acho que está é a despedida final - ela disse. - Realmente, é o fim.

Um grito ecoou no íntimo de Ucker, pedindo-lhe para ficar. Ignorou-o, porém. Tinha que ir embora. Se­ria estupidez ouvir seu coração. Principalmente, por conhecer os fatos. Ele iria embora e tudo ficaria bem.

um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora