capítulo 84

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Ucker chegou com rosas. Muitas rosas vermelhas. Da cor das faces de Dulce quando ela se inflamava, ou se embaraçava.  Fora seu primeiro pensamento quando chegara à floricultura. Comprara as rosas por­que prometera a Dulce. Porque as flores o faziam lem­brar-se dela. Porque uma mulher como Dulce deveria receber flores... sempre. Não porque ele estava ten­tando conquistá-la. Ou dizer lhe algo especial. Não faria isso, mas, mesmo assim...


-    Apenas uma lembrança - explicou, entregando-lhe as rosas vermelhas, assim que Dulce abriu a porta. - E, claro, por gratidão. - Sorriu meio sem graça. - Por suportar-me, por não me virar as costas, por não ter batido em meu rosto, quando deveria ter feito isso.


É isso aí, Uckeradvertiu a si mesmo. Vá com calma, sem complicações.


- São para comemorar o fim da terapia. - Ela repetia o que ele dissera tantas vezes.


Dulce estava certa. Era exatamente o que eles de­veriam fazer naquela noite. Comemorar o fim da te­rapia. Celebrar o tempo que haviam passado juntos e o fato de não serem mais obrigados a conviver tempo algum. Porque ela fizera seu trabalho muito bem. Por­que ele trabalhara arduamente.


Entretanto, uma hora mais tarde, no parque de di­versões, Ucker perguntava-se o porquê daquele pas­seio parecer tudo, menos uma celebração.


Por causa de Dulce, ele admitiu. Ela estava tão bo­nita, parada ao ar livre, com os cabelos esvoaçantes. O short branco e a blusa cor de jade ressaltavam as curvas do corpo delgado. Ela transpirava sensualida­de... e, ele nunca mais a veria assim.


Obrigando-se a desviar o olhar, voltou-se para Char­les que se divertia entre os brinquedos do parque. Quando, por fim, Dulce chamou Charles para irem em­bora, o menino protesto.

          -É cedo ainda, mamãe. Quero brincar mais um pouco.


          -E cedo, mas ainda tenho que dar algumas ins­truções a Ucker. O que acha de tomarmos sorvete em casa?


Ucker olhou-a, surpreso. Não esperava voltar para a casa de Dulce. Imaginava que as despedidas acon­teceriam no parque mesmo. Num local público, onde ele não correria o risco de dizer ou fazer coisas das quais poderia arrepender-se, depois.


um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora