capítulo 81

93 7 6
                                    

Fitou-a longamente e, por um tempo, acreditou ver uma sombra de dor nos olhos dela. Fechou os olhos, ignorando o medo que apossou-se dele. Claro, enga­nara-se. Com certeza, ela estava constrangida porque ele a estava tocando depois de prometer que não mais a tocaria. Não suportava a idéia de magoá-la. Era mui­to importante poupá-la. Por isso, lutara ferozmente contra ela. Por isso, lutara ferozmente contra ele mes­mo, para evitar tocá-la quando sua vontade era de estreitá-la nos braços, beijá-la inteira, levá-la para a cama e passar horas fazendo amor.


Ele sentiu o sangue fugir-lhe do rosto. Nunca pen­sara em tal coisa. Nunca se permitira pensar. Era uma idéia louca, estúpida. Não conseguia ficar perto dela sem imaginá-la nua em seus braços, tocando-o, dei­xando-se tocar. Um dia mais e a situação pioraria.


Ucker abriu a boca para cancelar tudo o que pro­pusera. Para dizer que nem precisariam esperar até sexta-feira. Que poderiam encerrar o tratamento na­quela noite mesmo. Certamente, Dan lhe explicaria tudo o que precisava saber.


Inesperadamente, Dulce ficou na ponta dos pés. A voz dela interrompeu-lhe os pensamentos.


- Ok. Terminaremos no sábado - afirmou, decidida. - Você tem razão. Será mais conclusivo. Gosto das coisas muito bem definidas.


As palavras dela trouxeram-no de volta à realidade. Ela dera outro sentido à sugestão dele. Dulce queria um final mais conclusivo. Ele também. Poderia ser muito melhor para ambos. Para todos.


Tinha que ser melhor. Ucker não suportava ver a mágoa nos olhos dela. Não queria conviver com a culpa de ter sido o responsável por aquela mágoa. Tinham que separar-se rapidamente, antes que ele realmente a magoasse.



Depois que Ucker partiu, Dulce andou pela casa recolhendo os livros e brinquedos de Charles. Não ti­vera cabeça para mandar Charles recolhê-los antes de dormir. Não naquela noite quando estava prestes a perder Ucker.


Como sempre, abriu a porta do quarto para espiar o filho. Ele respirava lenta e regularmente. A boca relaxada e entreaberta.


A luz do abajur formava sombras na parede. Mas, Charles não se assustava mais. Ucker expulsara os monstros. Restava saber se eles voltariam depois que o homem que os espantara fosse embora

um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora