capitulo 7

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Há tanto verde aqui. - Ignorando completamente as palavras dele, Dulce apontou para as árvores que rodeavam a casa. - Meu filho iria adorar. Ele tem seis anos. Isto aqui é um verdadeiro paraíso para uma crian­ça. Tão fresco, quase selvagem. Foi isso que o atraiu?

A menção ao filho atingiu Ucker em cheio, batendo de frente com os sentimentos e preocupações que uma dia tivera. E daí que ela era pequena e frágil? Ela representava tudo aquilo com o qual ele não queria lidar. Uma fisioterapeuta, alguém que tentaria ajudá-lo quando a última coisa que desejava era ser ajudado. Uma mulher bonita, delicada e gentil, com voz macia como seda sobre pele nua. Uma lembrança de tudo o que ele perdera. Uma mulher com um filho pequeno.

-     Moro aqui porque quero ficar sozinho, sem nin­guém para perturbar-me, srta. Saviñón. Compreen­deu? - Sem esperar por uma resposta, fez um gesto com a cabeça. - A porta da rua é aquela. Direi a Dan que você é ótima. Afinal, não queremos nenhuma mar­ca negra na reputação brilhante que você conseguiu por méritos próprios, não é mesmo? Não se preocupe. Não direi nada além da verdade. Você veio, eu não quis seus serviços e a mandei embora. Ponto final.

Ela o olhava impassível. Erguera levemente o queixo e não se movera um centímetro do lugar onde parara, ao lado da janela.

-     A porta - ele a lembrou. O nervosismo em sua voz era real. Com exceção de Dan, havia muito tempo que não falava com ninguém. Por pura opção. Não queria ninguém por perto. Principalmente alguém que perdia tempo jogando conversa fora. Não, não queria falar sobre coisas cruéis. Não com aquela mulher.

Escancarou a porta, como se aquele corpo delicado não fosse capaz de passar pelo espaço já aberto. Es­ticando o braço, ele apontou para o carro dela esta­cionado no pátio.

Imediatamente, ela olhou para a mão dele. Na fúria, ele esquecera de esconder os dedos longos e inúteis. Ago­ra estavam suspensos no ar, abertos para ela por alguns segundos, antes que ele os escondesse sob a axila.

- Vá embora - ordenou. - Como eu disse, esta é a porta. Você entende o significado de eu não quero você aqui, não?

- Claro, Dr. Uckermann. Sei onde fica a porta e que adoraria fechá-la no meu rosto - ela respondeu cal­mamente. - Sei também que será muito fácil abri-la, já que nunca é trancada. Mesmo que a trancasse... - Sorriu, arregalando os olhos. - Mesmo que a tran­casse, Dr. Uckermnann, eu tenho a chave. - Tirando uma chave do bolso do avental branco, exibiu-a.

um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora