capítulo 42

107 9 5
                                    

Dulce sentiu uma sensação de alívio, de satisfação. O próprio pai de Charles não o quisera por não gostar de crianças e, no entanto, ele se mostrava tão seguro. Charles não sabia nada sobre rejeição... ainda. Ela es­perava que essa segurança superasse as provas da­quele dia.


-Não é bem que ele não goste de crianças. Elas o deixam nervoso, é isso.


¾ Entendo.


-Ok. Preste atenção, Charles. Vou lhe dar o re­médio e quando a campainha tocar, você vai para a cama. Se não estiver com sono, então, quero que brin­que no seu quarto bem quietinho, enquanto o doutor estiver aqui. Tudo bem?


¾ Para não assustá-lo?


-Mais ou menos. Assim que ele for embora, fica­remos juntos de novo. Acha que pode fazer isso?


Ele refletiu por alguns instantes. Depois, concordou, pulando do colo dela.


-     Acho que sim.


Charles seguiu Dulce até a cozinha. Fez uma careta quando engoliu o remédio. Depois, encaminhou-se para o quarto.


-Mamãe? - chamou-a, franzindo as sobrancelhas pequenas. - Se o doutor se assusta com uma criança como eu, o que acontecerá se o monstro aparecer de repente? - Comprimiu os lábios. - Sempre pensei que os homens, os pais, não têm medo de nada. Mas, esse doutor... Acho que ele não é muito bom em emer­gências. Quero que escreva mais uma coisa na lista: "Não ter medo de crianças nem de monstros", ok?


-Claro, escreverei o que quiser na sua lista. Mas, por ora, cama!


Ele não protestou. Enfiou-se embaixo dos lençóis.


-     Ok. Seu eu acordar, posso brincar com o piano
que Mandy me deu?


Dulce mordeu o lábio. Charles precisava realmente descansar. Porém, não seria justo mantê-lo confinado no quarto durante a visita de Ucker. Bem, não seria por muito tempo.


-Pode, sim. Se você não se sentir bem, chame por mim. Certo?


¾ E se eu tiver vontade vomitar?


-     Vomitar? Charles onde você aprendeu esse termo?
Um acesso de tosse sacudiu o corpo do menino. Dulce enlaçou-o pelos ombros.


Fitando-a com os olhos vermelhos pelo esforço, Char­les forçou um sorriso.


-     Vi na tevê, mamãe. Você não assiste tevê?


um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora