capítulo 46

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Ela sorria. Não havia rancor na voz dela. Porque ela queria realmente que ele voltasse a operar. Ucker sabia. Porque ela acreditava na habilidade dele.


E, não pretendia decepcioná-la. Ucker empenhou-se. Trabalhou até suas mãos começarem a tremer. Dulce percebeu.


-     Hora do descanso. Depois, você vai me mostrar o que tem feito em casa. Voltarei num minuto.


Ela ia dar uma olhada no filho. Ele sabia. Imaginava que o menino estivesse dormindo, uma vez que a casa estava silenciosa.


Sozinho, ele andou pela sala. Não queria invadir a privacidade dela, mas queria saber como era a verda­deira Dulce Saviñón. Conhecia a fisioterapeuta, peri­gosamente eficiente.


Mesmo assim, sondou. Muitas flores pela casa. Mó­veis de vime branco. Nenhum brinquedo à vista. Nem indício do filho, exceto pelas fotos penduradas na pa­rede. Cabelos pretos, olhos castanhos escuros, um sor­riso largo, radiante.


Ucker virou-se rapidamente, dando de cara com Dulce. Uma Dulce preocupada, cautelosa. Não queria que ela se preocupasse com ele.


-Criança bonita - disse, forçando um sorriso. - Não se parece com você.


¾ Não. - Ela relaxou um pouco.


De repente, Ucker compreendeu que ela recolhera todos os brinquedos do filho por causa dele, pelo que ele dissera logo no primeiro dia. Por causa de Amy.


-     Não - ela repetiu. - Charles não é nada parecido comigo. E idêntico a Poncho... fisicamente, pelo menos.


Ucker olhou de novo para a foto, tentando visua­lizar o homem que fora casado com Dulce.


¾ Seu ex-marido mora por aqui? Ou você é viúva?


-Não, não sou viúva. E Poncho não mora por aqui. Na verdade, nem sei onde ele mora.


Provavelmente, era uma situação comum. Mesmo assim, Ucker surpreendeu-se.


- Ele não vê o filho?


Ela soltou sonoramente a respiração, curvando os lábios num sorriso cínico.


- Não, desde que foi embora. Logo depois do nascimento de Charles.

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