capítulo 29

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Dulce reconheceu o rosto de Ucker, apesar do largo sorriso de satisfação. Um sorriso que ela não conhecia, que ele não exibia mais.


A mulher era bonita, com cabelos e olhos castanhos. A menina lembrava fotos de calendários. Pequena, bo­nita, de olhos verdes e covinhas nas faces. Era difícil de acreditar que aquela criança tão linda já não estava mais em algum lugar esperando pelo pai.


Lentamente, ela se voltou para Ucker. Ele olhava para a foto, com os maxilares contraídos e os lábios apertados. Com um sobressalto, ele virou o rosto e encarou Dulce. Estendeu-lhe as mãos.


-     Estou pronto para recomeçar.


Ela concordou com um gesto de cabeça. Era tudo o que podia fazer, uma vez que ele não admitia nenhum comentário a respeito da família.


Ucker estava impaciente. Tentava começar os exer­cícios antes das ordens dela.


-Calma, Ucker. Não vou desapontá-lo. Mas você tem que confiar em mim. Sou treinada para saber quando é demais, quando devo acelerar ou retardar.


-De novo, estou querendo antecipar-me à você. Mais um exemplo do quanto os médicos podem ser irritantes.


-Agora você falou como o meu filho - ela comen­tou, rindo. Logo, porém, percebeu o erro.


Ucker não deu mostras de importar-se.


-Imagino que Charles tenha tido experiências de­sagradáveis com médicos.


-Oh, não. Não é nada disso. - Pausou por um ins­tante, na dúvida sobre o que dizer. - E que... Oh, nada.


-A julgar pela sua expressão, não acredito não seja nada. Algum problema com o garoto?


-Nada demais. - Pegou na mão dele, reiniciando os exercícios. - Você estava certo, ontem à noite. Charles está tendo dificuldade para adaptar-se à minha ausência.


Uma sombra surgiu no rosto de Ucker.


-Ele tem apenas seis anos, não? É muito criança ainda.


-Realmente. Desculpe se toquei nesse assunto. Desculpe se mencionei Charles. Foi distração minha. Vamos continuar com nosso trabalho.


Minutos depois, Ucker quebrou o silêncio.


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