capítulo 23

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Dulce soltou as mãos dele.

-Charles entende o significado do meu trabalho, pelo menos até onde seus seis anos permitem. Ele sabe que não posso trabalhar com jóias, mas, estarei com a pulseira quando chegar em casa. Amanhã, ha­verá outro presente qualquer. Charles está sempre fazendo alguma coisa nova. Um desenho, uma cola­gem. Qualquer coisa que guardarei num lugar espe­cial e ele sabe disso.

-Ele não fica enciumado? - Ucker resmungou. Pousou as mãos nos joelhos.

-Charles não tem ciúme dos meus pacientes. Ele sabe que é meu trabalho e que ele é a pessoa mais importante para mim. A única pessoa que preciso e quero no meu mundo.

As palavras dela soaram como um aviso aos ouvidos de Ucker.

-     O que ele acha de você trabalhar à noite?

Ela encolheu os ombros e o perfume de limão flutuou no ar. Os seios beijaram o algodão da blusa. Ucker pressionou as mãos contra os joelhos.

-     Ainda não sei. Esta é a primeira noite sem mim. Imagino que será difícil para nós dois. Mas, nós nos acostumaremos.

Ela fez menção de continuar as massagens, mas ele não estendeu as mãos.

-     Chega por hoje, não? Vá para casa, Dulce. Volte para seu garoto.

Dulce o encarou, comprimindo os lábios. Ucker sa­bia o que ela ia dizer. Fechou os olhos e estremeceu com a imagem de um menino espiando pela janela, à espera da mãe que ainda não chegara em casa.

-     Vá, Dulce - repetiu. - Por favor.
Seguiu-se um breve silêncio.

-     Ok. Você tem razão. Não vamos exagerar correndo o risco de estressar seus músculos logo no primeiro dia.

Ucker respirou aliviado, livrando-se do sentimento de culpa. Culpa que o incomodava desde que imaginara o menino fazendo um presente para a mãe e esperando impacientemente pela volta dela. Não queria pensar em garotos de seis anos de idade. Nem em mulheres suaves com tristes olhos azuis-esverdeados.

Ucker levantou-se enquanto Dulce guardava o equipamento.

 

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