capítulo 30

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  Pedi para você não trazê-lo, mas não precisa des­culpar-se por tocar no nome dele, Dulce. Você é a mãe dele, afinal. Claro que pensa nele. É o seu filho. O seu mundo. É assim mesmo.


Quando Dulce o olhou, Ucker estava sério, sombrio. Nos dias que se seguiram, ela notou que a foto desa­parecera. A sala estava totalmente vazia... E Ucker muito mais distante.


Os dias foram passando, e em pouco tempo, Ucker e Dulce entraram num esquema cauteloso e impessoal. Ela o conduzia nos exercícios, ensinava-o como exerci­tar-se sozinho, acompanhava de perto os progressos dele.


Nunca mais o tocara, exceto para o tratamento. Também não mencionara mais o nome de Charles, não fizera perguntas pessoais e tentava evitar aqueles olhos fascinantes quando se movia para ajudar Ucker a recuperar as flexibilidade dos dedos.


Ucker era um paciente bom, inteligente, sensato. Porém, ela sentia que ele se tornava mais agitado a cada dia. Sentia a lava incandescendo sob a superfície.


Um dia, encontrou-o olhando para a bola de borracha com a qual se exercitava.


Assustado com a chegada dela, Ucker sorriu.


- Estou começando a odiar bolas vermelhas. Erguendo uma sobrancelha, ela também sorriu.


- Posso trazer uma azul.


Ele se levantou, obrigando-a a erguer a cabeça para olhá-lo.


Com a ponta do dedo, ele tocou os lábios de Dulce, ainda sorridentes. Um pequeno toque de peles, mas, os lábios arderam como se tocados pelo fogo.


-     Não se preocupe. - Ele afastou a mão que tremia um pouco. - Sobreviverei. Você está... diferente hoje. Mais feliz. Está tudo bem em casa?


Era primeira vez que ele se referia à conversa sobre Charles, embora a pergunta não fosse específica.


-     Sim. Vejo que você está apertando com mais força. - Apontou para a mão dele, mudando o assunto para um terreno mais seguro.


Reassumiram o relacionamento profissional. Era como se nunca tivessem trocado sorrisos, como se o toque de Ucker houvesse passado despercebido. Dulce deveria sentir-se feliz. Afinal, fora ela quem escolhera ignorar as preocupações dele, os contatos, mantendo as coisas no campo impessoal. De repente, porém, que­ria fazê-lo rir de novo, um sorriso de verdade, radiante e devastador. Perigoso.

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