Ucker franziu as sobrancelhas. Começava a sentir rancor pelo homem que abandonara aquela mulher com um filho pequeno para criar. Mas Dulce ergueu a mão, silenciando sua crítica.
- Não se preocupe, Ucker. Já não sinto revolta, nem raiva. Ou pelo menos, na maior parte do tempo. Poncho não era um homem mau. Era apenas fraco, não sabia o que queria. Nem eu sabia o que ele queria. - Ela se apoiou na parede e cruzou os braços. - Não compreendi que ele não queria uma esposa, um filho, que ele precisava de mim momentaneamente, e não para sempre. Mas, isso foi há muito tempo. Já me recuperei. E, afinal, ele me deixou Charles. Bem, já falei muito a meu respeito. Agora, vamos ao trabalho.
Sentaram-se em silêncio, recomeçando os exercícios. Ucker não se conformava com o que acabara de ouvir. O marido não sabia o que queria e, por isso, abandonara a mulher, o filho, não acompanhara o crescimento do menino. Como um homem podia ser tão cego, insensível?
Ucker mordeu o lábio. A bem da verdade, ele não poderia julgar o comportamento de Poncho. Ele próprio não fizera a mesma coisa? Quantas vezes se ausentara, por conta do trabalho, enquanto a esposa e a filha precisavam dele? Quem era ele para julgar? Balançou a cabeça. Seria melhor não pensar mais e concentrar-se no trabalho.
Flexionou os dedos, cerrou os punhos, sentindo a força que não existia algumas semanas atrás. Um som abafado vindo de outro quarto interrompeu a concentração. Dulce pediu licença e saiu da sala. Ele podia ouvir o menino choramingando e a voz de Dulce acalmando, agradando.
Instantes depois, ela saiu do quarto, fechando a porta. Sentando-se, ela retomou o trabalho.
O silêncio durou apenas alguns minutos.
Então, Ucker ouviu o som fraco, abafado de um piano de brinquedo. A voz fina e frágil de um garoto cantando versos inventados.
"Estou cansado de estar doente, mas logo ficarei melhor, sim, logo ficarei melhor. Minha mãe disse que vou sarar logo, logo" A voz do menino soava lamuriante, desafinada.
Ucker olhou para Dulce. Os olhos dela estavam arregalados, a expressão desolada, num pedido mudo de desculpa.
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um pai perfeito
FanfictionSinopse: Charles precisa de um pai... Alguém para levá-lo à feira cultural. Alguém que não tenha medo de monstros. Alguém que também ame sua mãe e a faça feliz. Mas não será fácil encontrar o pai perfeito. Por isso, Charles fez uma lista... ...e Chr...