capítulo 39

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Sei disso, mas, não tem outro jeito. Não podemos interromper o tratamento logo agora que você está pro­gredindo a olhos vistos. Seus dedos precisam muito mais do que flexibilidade. As sessões de fisioterapia não são atividades de lazer.


As palavras de Dulce levaram um sorriso ao rosto de Ucker. Reclinou-se na cadeira, imaginando-a com aquele olhar de professora que lhe caía tão bem. Um olhar que o cativara e que provocara-lhe o desejo de fazê-la derreter-se sob sua boca.


-     Atividades de lazer? Moça, você deve estar brin­cando! Nunca senti tanta dor, nunca me esforcei tanto só para pegar um lápis ou para atender o telefone. Sim, entendo o que você está dizendo, mas, eu... bem, isso não muda nada. Esperarei até você ter tempo para mim, Dulce. Se eu tiver que recuperar o tempo perdido, paciência. Não vejo problema nenhum. - Desde que pudesse ganhar algumas horas extras com ela.


A idéia o entusiasmou. Ignorou-a. Reprimiu a sen­sação de estar sendo insensato e tolo. Agarrou-se à possibilidade de a outra terapeuta ser melhor, mais competente, e com isso, poder desligar-se completa­mente de Dulce. Não. Anderson garantira que Dulce era a melhor. Ucker soltou um suspiro de alívio.


-Esperarei e você não tem que sentir-se culpada. A escolha é minha.


Ucker...


-Você não tem outra alternativa. Cuide de seu filho. Telefone quando ele melhorar.


-     Ucker... Por favor. Eu não faria isso se não fosse absolutamente necessário.


Sua voz soou cansada, triste, preocupada. Ucker julgou ouvir um choro ao fundo. Cobrindo o fone, Dulce murmurou alguma coisa gentil, confortante.


Ucker, de repente, reconheceu o quanto estava sen­do egoísta. Dulce já não tinha problemas e preocupa­ções suficientes sem suas queixas? Ele já não provara que sabia como tornar uma mulher infeliz?


Respirou fundo.


-Tudo bem, Dulce. Você venceu. Mas, não mande ninguém aqui. Já que não consente que a espere, eu irei à sua casa, quantas vezes forem necessárias. Cuide de seu filho sossegada.


-Mamãe... - Ele ouviu nitidamente. Fechou os olhos contra tudo o que aquela palavra envolvia, para todos os sentimentos que evocava.


Ucker sentia a preocupação de Dulce. Ela queria atender o filho, mas não estava satisfeita com o rumo da conversa.


Ligo mais tarde - ela prometeu.


-Não precisa. Vou à sua casa. Não se preocupe como. Sou um médico, lembra-se? Acostumado a lidar com situações delicadas. Além disso, minhas mãos es­tão começando a obedecer minhas ordens. Alguém está me ensinando muitas coisas.

um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora