capítulo 45

102 8 11
                                    

Ótimo. - Ele espalmou a mão para inspeção. Jamais confessaria que quando ele e Dan pegaram a Blazer, seu corpo ficara banhado de suor, que prati­camente obrigara-se a sentar-se ao volante. E, uma vez sentado, ficou longos minutos imóvel, ofegante e com a cabeça apoiada no rolante.

Dan sugerira que ele deveria praticar por algumas semanas, acompanhado de um terapeuta.

Ucker não suportava a idéia de mais alguém em sua vida. Ainda nem terminara seu tratamento com Dulce. Fechara os olhos, colocara o cinto de segurança e dera a partida. Não fora às mil maravilhas, mas conseguira dirigir. Chegara à casa de Dulce, inteiro e sozinho. De alguma maneira, voltaria para casa. Dulce não imaginava o quanto lhe custara não olhar para o banco do passageiro vazio, para não lembrar-se do acidente e de tudo o que perdera.

Ou, talvez, imaginasse, sim. Seus olhos ainda reve­lavam preocupação, cuidado. Essas emoções fluíam na­turalmente de Dulce como gotas de chuva escorrendo pela vidraça.

¾ Ótimo - ela disse simplesmente. - Isso significa que você está um passo mais próximo.

¾ Mais próximo?

- Da recuperação. De retomar sua carreira, sua vida.
Mas, ele nunca retomaria sua vida. Nunca mais. Nunca sonhara com isso. Tampouco queria.

- Vamos. - Ele estendeu-lhe a mão. - Sei que está ávida para começar a sessão de tortura, depois do tanto que já discuti com você hoje. Vamos. Faça-me sofrer, Dulce.

Os olhos dela estavam perigosamente claros quando ela pegou nas mãos dele. Ele a provocara de propósito, só para ver seus olhos faiscarem. Qualquer coisa era melhor do que um olhar preocupado, aborrecido. O olhar que realmente torturava-o por fazê-lo imaginar como se­ria a vida com uma mulher como Dulce. E, tudo o que não deveria era permitir-se aquele tipo de pensamento.

-     É tortura que você quer, Uckermann? - ela perguntou, pegando as mãos deles nas suas. - Você quer tomar iniciativas sem antes consultar sua terapeuta? Pois bem. Mostre-me seus progressos. Hoje, você vai suar e contorcer-se. Você vai mostrar-me o que realmente pode fazer com suas mãos, doutor. Quero rever um pouco do homem que fazia mágicas na sala de cirurgia.

um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora