capítulo 52

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O brilho que ela notara nos olhos verdes, dissipou-se. As pálpebras se fecharam, os maxilares se contraíram.


-     Eu fui o pior pai do mundo. - A voz soou fria, amarga. - Um péssimo marido, também. Nunca estava com Joanna e Amy. Além disso, era eu quem estava dirigindo quando aquele carro nos fechouSe eu estivesse atento, se meu pensamento estivesse voltado para a segurança de minha esposa e de minha filha, teria evitado o acidente. Deveria ter jogado o carro para o acostamento. Ou, pelo menos, girado o volante e desviado. Não fosse minha negligência, elas ainda estariam vivas. Não pense que sou um herói. Não pense nada de bom a meu respeito. Agora, vá ver seu filho. Leve o urso.


Ucker observou Dulce saindo da sala. Como no dia anterior, ele a ouviu murmurar palavras de conforto para o filho. Seguiu-a com o olhar, quanto ela foi para a cozinha. Ouviu o ruído da porta da geladeira e, depois de pratos. E, entre os ruídos, ouviu a voz ansiosa de Charles.


- Mamãe?         


Mais barulho, panelas caindo. O toque do telefone. Um abafado "Oh, não", depois o suspiro longo e sonoro de Dulce. Ela não ouvira o chamado de Charles.


- Mãe, onde você está?


Ucker olhou para a cozinha. Ele poderia até cha­má-la. Dulce agradeceria se a chamasse. Mas, bastou uma espiada pela porta da cozinha para mudar de idéia. Ela estava de costas, falando ao telefone, reco­lhendo os objetos que deixara cair. Dulce precisava de alguns minutos de folga.


Ele lhe daria a folga. Talvez. Desde que tivesse for­ças para entrar no quarto. Desde que tivesse a coragem de ver o que o menino queria. Não custaria nada. Na verdade, tratava-se de uma coisa muito fácil de fazer. Então, por que estava tremendo? Por que seu coração batia como um tambor?


Ucker deu um passo na direção da porta. Depois, outro. Lentamente. O quarto parecia distante, distante demais, e, ao mesmo tempo, muito próximo.


Outro passo. Mais um pouco e estaria lá.


A cama gemeu. Se não detivesse o menino, ele sairia correndo pela casa, pés descalços, em busca de ajuda, quando a ajuda estava do outro lado da porta, tremendo, assustada.


Respirando fundo, Ucker endireitou os ombros, er­gueu o queixo e forçou-se a entrar no quarto. Forçou-se a olhar para a cama.

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