capítulo 20

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Pouco me importam suas ameaças.

Dulce respirou fundo.

-     Não estou pedindo para contar-me coisas que não são de minha conta. Só quero ajudá-lo. - Uma mecha de cabelos caiu-lhe no rosto quando inclinou-se na di­reção dele. - Tudo o que precisa é ser um pouco ho­nesto comigo. É muito importante eu saber se está cansado ou se sente dores. Do contrário, será mais doloroso do que útil.

Ucker também se inclinou e os lábios dele estavam tão próximos que Dulce podia sentir o calor de sua respiração. Ele espalmou as mãos sobre a mesa de modo que os dedos ficaram perigosamente perto do corpo dela.

-E você quem está no comando, Dulce. Estou obe­decendo direitinho suas ordens. Mas, pedir-me para agir feito uma criança é demais.

-Não estou pedindo nada disso. Nem poderia. - Com as mãos dele a apenas alguns centímetros da linha dos seus seios, Dulce era incapaz de pensar nele de outra forma, exceto como homem. Mais uma vez, ficou muito contrariada consigo mesma.

Isso não deveria acontecer. Nunca acontecera. Per­mitir-se pensar em Ucker como algo mais que um paciente era loucura.

-     Vamos parar um pouco - ela anunciou, evitando olhá-lo. - Você precisa de descanso e eu também.

Ela precisava de descanso, sim. Pelo menos alguns minutos para recompor-se e corrigir a linha de pen­samento, colocando Ucker na condição de paciente e não de homem.

-     Sou uma pessoa honesta, Ucker, e gostaria que fosse honesto comigo, também.

Ele a fitou por longo momento, refletindo sobre as palavras dela. Era natural que quisesse ter certeza que ela não estava apenas querendo manipulá-lo. As preocupações dele eram válidas. Ninguém gostava de condescendência.

Finalmente, ele balançou a cabeça.

-     Tudo bem. Há um certo desconforto, mas nada de insuportável.

Não era a resposta que ela esperava. "Insuportável" era um termo relativo. Mas, deveria contentar-se com o pouco que conseguira dele.

-     Vou buscar algo para bebermos, se não se im­portar - ela disse.

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