capítulo 55

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-     Não tenho medo da gripe mesmo sendo contagiosa. - Entregou o copo ao menino. - Por que não o levamos para a sala? Assim, você ficará perto da mamãe.


O brilho de esperança no olhar de Charles quase o nocauteou. O que ele propusera era algo tão simples. Simples e estúpido.


- A mamãe disse que tenho que ficar no quarto - Charles argumentou. - Crianças doentes devem dor­mir bastante.


-     Já que você tem que dormir bastante, então, trate de fechar os olhos assim que o deitarmos no sofá. Or­dens do médico. Pegue seu urso.


Sem esperar pela reação de Dulce, ele pegou o me­nino, lençóis, travesseiro, nos braços. Charles pesava pouco mais do que uma pena. Portanto, não havia ra­zão para um homem do tamanho de Ucker sentir os joelhos trêmulos. Nem para ter a impressão que a sala ficava a dezenas de quilômetros distante do quarto.


Respirando fundo, girou nos calcanhares e iniciou a caminhada até a sala. Dulce seguiu-o. Gentil e len­tamente, colocou o menino sobre as almofadas e afas­tou-se para que Dulce o acomodasse.


Dulce ajeitou os lençóis, o travesseiro, depois beijou a testa do filho. Um beijo terno, suave, amoroso. Porém, quando se voltou para Ucker, a ternura desaparecera, dando lugar à exasperação.


-     Podemos conversar por um instante, antes de recomeçarmos nosso trabalho? Na cozinha, por favor.


Ela estava muito próxima. Perigosamente próxima. Ucker inalou o perfume de limão, inebriando-se por breves segundos, mesmo reconhecendo o brilho beli­gerante nos olhos dela.


Encolhendo os ombros, ele a seguiu em silêncio até a cozinha branca e vermelha. Assim que se viu a salvo dos ouvidos de Charles, ela investiu:


-     Creio que conversamos a respeito do controle, logo que começamos com nossas sessões, Ucker. Eu estava preocupada com a possibilidade de você ser um pouco arrogante. Mas, até que não, pelo menos, não muito. Até agora. De repente, você mudou, Uckermann. Quero lembrar-lhe que Charles é meu filho, minha responsabilidade, e que no momento, está doente. Ele precisa ficar na cama, precisa descansar...


-     Ele precisa da mãe ao lado dele - Ucker cor­rigiu-a, aproximando-se mais, tanto, que sentiu a tensão irradiando dela. Tanto, que poderia tocá-la. - Além do mais, Dulce, se você pensa que ele descansou um segundo desde que cheguei aqui, enganou-se redondamente. Garanto que ele descansará muito mais agora que pode vê-la e comprovar que não represento ameaça para ele.

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