capítulo 91

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Pelo menos, era o que esperava. Olhando para ela e lembrando-se dos braços de Charles em seu pescoço, Ucker reconheceu que deixava um pedaço de seu co­ração com Dulce e seu filho. Talvez, estivesse se sen­tindo tão angustiado, por estar partindo. Ou, talvez, por estar sentindo a gratidão sobre a qual Dulce tanto comentava.

Ela poderia estar certa.

Ela não estava certa. Não, não era gratidão o que ele estava sentindo. A necessidade de abraçá-la e dizer-lhe que queria ficar e ajudá-la a criar o filho, era muito mais do que gratidão. Muito mais do que simples desejo. Esperava que a distância pudesse ajudar a esquecê-la.

- Ucker? Não esqueça... Não esqueça de cuidar-se. Por favor!

Ele segurou as mãos dela entre as suas.

- Não esquecerei - ele prometeu. Não só disso. Não a esquecerei, doce Dulce. Mesmo querendo, não a esquecerei - Lembrarei do aniversário de Charles - garantiu, já na varanda. - Dei-lhe minha palavra.

Ele fora embora. De sua casa e de sua vida.


Ucker partira. Ela o liberara. Por fim, reconheceu que esperava desesperadamente que, no último mo­mento, ele decidisse ficar.Tola.

Pressionou a mão contra os lábios, sufocando o so­luço que teimava em escapar de sua garganta. Encos­tou a cabeça na janela da cozinha, sentindo o vidro gelado na pele.

Onde estaria Ucker naquele momento? O que es­taria sentindo? Alívio? Segundo ele, era o que sentiria quando terminassem o tratamento.

Certamente, não estava sentindo amor. Ele deixara bem claro que era um homem incapaz de amar de novo.

Quando saíram do quarto de Charles, ele a beijara com desespero e sofreguidão. Por um momento, ela tivera esperanças. Porém, enganara-se. Fora uma rea­ção natural ao medo de ter magoado Charles. Talvez, fosse até desejo. Não fora a primeira vez que Ucker a tocara, provocando reações inflamadas.

Alívio. Remorso. Desejo. Nada mais. Afinal, mesmo depois de ter lido a lista de Charles, ele fora embora. E, não voltaria mais.

Os nós dos dedos tornaram-se brancos contra a pa­rede da cozinha.

Ucker não voltaria. Teria que aceitar essa reali­dade e dar continuidade à sua vida. Por ela e por Charles. Tinha que continuar vivendo como se Ucker nunca tivesse se apossado de seu coração. Como se Charles nunca tivesse lhe pedido para ser seu pai.

Ela teria que aceitar o fato de não ter cumprido a promessa de nunca apaixonar-se por um homem que não a queria.

Pelo menos, Ucker não conhecia a verdade. Isso fazia uma grande diferença. Era um consolo para tudo o que acontecera naquela noite.

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