capítulo 103

78 5 9
                                    

Segurando-a pelo queixo, Ucker sorriu.


-     Claro que me preocupo, Dulce. Mais do que ima­gina. Eu não queria vir justamente para não magoar Charles. Eu não esqueci a lista. Aliás, penso nela com freqüência. Por isso estou aqui. Por isso voltei. Para candidatar-me ao papel de pai e... marido. Pelo que me lembro, preencho todos os requisitos. - Ele tocou-lhe os lábios com o dedo.


Dulce não conseguia controlar o tremor. Ucker a estava tocando, acariciando. Lentamente, balançou a cabeça. Já havia perdido todas as esperanças. E, ines­peradamente, ele estava na frente dela dizendo que queria tornar-se seu marido. Por quê? Para redimir-se por ter magoado Charles?


Não era suficiente. Com outro homem até daria cer­to. Mas, com Ucker... Ele não a amava. Por isso, não poderia casar-se com ele. Apesar, dos planos dele. Ape­sar da famigerada lista.


Ucker segurou-lhe a cabeça entre as mãos. De novo, ela balançou a cabeça.


-     Não quero você aqui - repetiu. - Vá embora. Agora.


Ignorando os protestos dela, Ucker inclinou-se, di­minuindo o espaço entre ambos.


-     De jeito nenhum, Dulce. Já fizemos este jogo an­tes. No primeiro dia, lembra-se? - Ele acariciava-lhe o rosto, aquecendo-a com o próprio calor. - Só que agora, os papéis se inverteram. - Repetindo as pala­vras que você disse naquela ocasião, vim aqui com um propósito. Tudo o que preciso, tudo o que quero, é que você diga sim.


Dulce queria acreditar em Ucker. Mas, ainda lembrava-se da reação dele quando, num momento de fra­queza, ela expusera seus sentimentos.


-     Ucker, se você está se sentindo responsável por mim e por Charles, esqueça. Não há necessidade ne­nhuma de preocupar-se conosco. Esqueça a lista, por favor. Não quero que pense mais nesse assunto. Você não é responsável por nós.


Afastando-se, ele a fitou direto nos olhos. Depois, segurou-lhe as mãos.


-     E se eu quiser ser responsável por vocês? De repente, posso ter descoberto que o cirurgião de dedos mágicos não tem magia nenhuma sem vocês.


Ela virou o rosto para esconder a esperança que surgia em seus olhos. Não queria acreditar nas pala­vras dele. De novo, a gratidão.

um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora