capítulo 66

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Aquele gesto foi suficiente para despertar-lhe lem­branças de um tempo em que Amy esteve doente. Ele e Joanna haviam se revezado dia e noite para cuidarem da filha. Essa fora um das poucas vezes em que estivera presente para atender a filha doente. Uma das últimas vezes, também.


As lembranças eram muito fortes, reais. Queria tirar a mão das costas do menino, levantar-se e sair correndo daquela casa.


Charles continuava tossindo. Ucker fez a única coi­sa indicada para esses casos. Relaxando a mão, come­çou a bater levemente nas costas dele, parando apenas para dar-lhe mais um gole de água. Em voz baixa, Ucker falava palavras de conforto. Para tranqüilizar o menino e a ele mesmo.


-     Está tudo bem, Charles. Você vai melhorar. Tudo vai ficar bem.


A tosse foi diminuindo até cessar por completo. En­tão, Charles fitou Ucker com os olhos marejados. Go­tas de suor espalhavam-se pelo rosto dele. Ucker afastou-lhe os cabelos da fronte.


Dr. Uckermann? - Charles murmurou.


Sim, filho.


-Você acha que a mamãe tem daquela tinta? Aque­la antimonstro?


Ucker sorriu. Um sorriso tímido, mas sincero. Ain­da não se sentia totalmente à vontade com a criança, mas, estava sobrevivendo.


-Não sei, Charles. Poucas pessoas conhecem essa tinta. Mas, prometo que vou conseguir uma lata. Va­mos pintar as paredes de seu quarto e espantar todos os monstros.


Se ele pudesse espantar os seus monstros com a mes­ma facilidade! Mas, nada no mundo poderia mudar o passado. Seus monstros, aqueles que viviam dentro dele, estariam ali para sempre. Não merecia livrar-se deles.


Quando Dulce entrou em casa, a primeira coisa que viu foi Ucker sentado no chão. A mesa de centro estava encostada no sofá. E, sobre ela, um jogo dis­putado por Ucker e Charles.


Observando Ucker manipular as peças do jogo, de repente, até pensou que fora uma boa idéia permitir que ele cuidasse de Charles. De qualquer modo, ele estava exercitando as mãos.


-Você ganhou, Ucker! - Charles anunciou, quando Ucker, finalmente, conseguiu juntar as peças do jogo.


Erguendo a cabeça, Ucker deparou-se com o olhar apreciativo de Dulce.


-Bem, consegui juntar as peças! - ele confirmou, meio rindo, meio desafiante.


-Você venceu! - Dulce repetiu num tom de avaliação.


Ucker é bom no quebra-cabeça, mamãe

um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora