capítulo 9

127 6 3
                                    

Ela as avaliou com olhar clínico, depois balançou a cabeça.


-     Não pense que vai assustar-me ou intimidar-me com o efeito do choque, Uckermann. Você vai livrar-se definitivamente de mim quando essas mãos voltarem a cumprir a tarefa para a qual estão destinadas. Ba­terei em retirada quando você voltar à ativa. Essa é a meta. Quanto mais hostilizar-me e retardar sua cura, mais tempo terá que suportar minha presença. Se ten­tar impedir meu trabalho, garanto que o Dr. Anderson e toda a equipe administrativa do hospital virão atrás de você. Você é absoluta prioridade, sabia? Você não tem escolha. Nem eu.


Ucker não respondeu de pronto. Não considerara a possibilidade de Dulce estar ali contra a vontade dela. Mas, que diferença faria para ele?


-     Dan a obrigou a vir aqui? - ele perguntou, tor­nando a esconder as mãos nas costas.


Erguendo a cabeça, Dulce fitou-o direto nos olhos.


-     Este é um trabalho, Dr. Uckermann. Você está sob meus cuidados, querendo ou não. Admito que, para mim, foi uma inconveniência. Já estou com meus horários completamente tomados por pessoas que contam comigo, pessoas que não me  mostram a porta da rua. Um garoto que está dando os primeiros pas­sos, depois de um ano. Uma mulher que está come­çando a acreditar que não é um peso para a família. Realmente, não tenho tempo, nem inclinação para um teimoso como você, que nem mesmo quer minha ajuda. De qualquer modo, estou aqui. Não discuto as ordens recebidas. Adoro meu trabalho, mas acima de tudo, trata-se do meu ganha-pão. Se eu não tra­balhar, nós não comemos.


Ucker não precisou perguntar quem incluía aquele "nós". Notara a pulseira de barbante trançado no pulso de Dulce. Não era uma peça de valor artesanal e, de repente, Ucker compreendeu porque ela a usava.


A pulseira fora confeccionada por uma criança, o filho dela. O adorno gritava "família" como uma sirene ecoando no meio da noite. E, família, era uma palavra que Ucker eliminara definitivamente de sua vida. Mais uma razão para não querer Dulce saviñón por perto. Ela tinha um filho. Valorizava-o. Usava os te­souros dele para todo mundo ver. Nada mais impor­tava. A mulher também não importava. Ela represen­tava um tabu.


Respirando pesadamente, Ucker passou a mão pe­los cabelos, com dificuldade. Fitava-a com o olhar aper­tado e o queixo levemente erguido, preparado para mais uma batalha.

um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora