capítulo 59

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Ucker saiu e antes de entrar no carro olhou para trás. Dulce estava encostada na soleira da porta, toda olhos, cabelos cor de mel, suavidade. Ela era uma mu­lher incrivelmente forte, que não permitia que a vida a abatesse, ou que algo a detivesse. Então, por que a aparência de um flor bela e frágil arrancada do galho? Por que a impressão de que precisava de alguém para protegê-la? E por que diabos ele se pegava querendo correr para ela, tomá-la em seus braços, prometendo protegê-la com a própria vida. Prometendo ser seu eter­no guardião, mesmo sabendo que ele não era o homem indicado para esse papel?


Dulce fechou a porta. A luz foi apagada. Mas Ucker continuou ali parado, olhando para a casa ainda por muito tempo antes de entrar no carro.


Era noite de lua cheia. Uma noite iluminada, bri­lhante. Perfeita para um passeio.


Entretanto, Ucker só conseguia visualizar a ima­gem do menino descansando calmamente entre lençóis estampados com dinossauros. Ainda ouvia a voz preo­cupada de Ucker.


Ela estava sozinha. Ela era sozinha. Dulce não tinha ninguém para ajudá-la a cuidar do filho doente. Ninguém com quem compartilhar as preocupações. Nem marido.


Ucker estremeceu. Não era fácil admitir, mas, ele fora assim com Joanna. Um marido ausente. Um ho­mem envolvido demais com o trabalho, ocupado demais para parar e oferecer ajuda.


Respirou fundo, resignado. Não podia fazer mais nada com relação à Joanna. Infelizmente, não havia como mudar o passado.


Tampouco poderia ajudar Dulce. Não podia. Era im­possível, inimaginável.


Naquele momento, ela só precisava de uma babá de sua absoluta confiança. E, essa era uma questão que somente ela poderia resolver. Ninguém poderia decidir por ela. Ninguém. Muito menos ele, o homem que con­testava, que discutia, que a beijara, aproveitando-se de um instante de vulnerabilidade.


Enquanto dirigia, Ucker não podia evitar de lem­brar-se de outra criança, de outra mãe ansiosa. Um dia, ele e Joanna haviam levado Amy para a sala de emer­gência. Amy agarrara-se ao pescoço dele, repetindo desesperadamente "Tenho medo, papai. Tenho medo", en­quanto as lágrimas escorriam pelo rosto pálido.


Claro, não era a mesma coisa. Charles iria para um bem equipado centro infantil e não para uma sala de emergência. Não, não era a mesma coisa. Exceto pelo fato de Charles ser uma criança doente, mais suscetível ao medo do que o normal.


um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora