capítulo 88

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Não, Charles. Não vai dar certo. Não posso ser um pai. - Com as costas da mão, ele enxugava-lhe as lágrimas. - Se eu pudesse, seria seu pai, acredite. Você é o filho que eu gostaria de ter. Mas, como não é possível, quero que saiba que sempre serei seu amigo. Seu grande amigo. Mesmo que eu não esteja sempre por perto, você poderá contar comigo. Certo? O menino o olhava, fungando.


-     Amigos, Charles? - Ucker perguntou, estendendo-lhe a mão.


Charles mordeu o lábio. Após alguns segundos de hesitação, ele apertou a mão de Ucker entre as suas.


-     Sim. Amigos - disse num tom de quem se sentia derrotado.


Respirando fundo, Ucker fechou os olhos de novo, rogando para que Charles não saísse muito machucado.


-     Vamos, meu amor - Dulce interveio. - Hora de dormir. Já é tarde e você já deveria estar na cama há muito tempo. Despeça-se de Ucker.


O menino desvencilhou-se do abraço de Ucker e pegou na mão de Dulce. Já estavam quase saindo da sala quando Charles se voltou para Ucker.


-Meu aniversário será daqui a duas semanas. Vou fazer sete anos. Vou ser grande. E, garotos grandes não choram. Scotty Miller que disse.


-Scotty Miller está errado - afirmou Ucker, pis­cando muito. - Garotos grandes choram, sim. Lem­brarei do seu aniversário, Charles. Pode apostar.


Quando Dulce retornou à sala, parecia cansada. E cautelosa. Os olhos azuis-esverdeados estavam escu­ros. Evitava encarar Ucker.


-     Lamento muito a cena constrangedora - ela se desculpou. - Charles está passando por uma fase difícil na escola. Ele se sente diferente por não ter pai.


- Um garoto precisa de pai - Ucker disse, esperando pela reação dela.


Cruzando os braços, ela balançou lentamente a cabeça.


-Sei disso. Por isso começamos a escrever a lista. Eu só não imaginava que chegaria nesse ponto. Mas, não se preocupe. Charles alterou a lista muitas vezes, nas últimas semanas. Quando você for embora... depois que ele se acostumar com sua ausência, faremos novas alterações.


-Você está procurando alguém para casar-se? - A pergunta incomodou-o. Não conseguia imaginá-la procurando por um marido. Irritava-se só de pensar numa fila de homens, todos os tipos de homens, cortejando-a, tentando ganhar um lugar na vida de Dulce e de Charles. Não queria que esse pensamento che­gasse à conclusão lógica, mas, era impossível não pen­sar. Um dia, haveria alguém, um homem, preenchendo o lugar vazio naquela casa. E, esse homem teria di­reitos sobre Charles, sobre Dulce, sobre o tempo dela, os dias... e todas as noites.

um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora