capítulo 26

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Dulce dormiu mal naquela noite. Na ma­nhã seguinte, acordou com olheiras e os cabelos desgrenhados de tanto virar a cabeça no travesseiro.


Tudo porque tocara no braço de Ucker. Um pe­queno contato, um mero roçar dos dedos na pele dele, e seu sangue fervilhara, a visão embaçara e os lábios tremeram. E perdera um noite inteira de sono.


Agora, nem mesmo queria mirar-se no espelho. Mas, era um dia de trabalho. Tinha que encarar a rotina diária. Tomar banho, preparar o café da manhã, ves­tir-se, dar atenção ao filho.


Levantou-se e, apesar dos temores, aventurou-se a olhar para o espelho. Não conteve um gemido.


- Oh, não!


O rosto refletido era familiar. Definitivamente o seu. Porém, a expressão melancólica que seus olhos estam­pavam naquela manhã, lembravam o olhar de sua mãe, Blanca. Essa semelhança foi suficiente para que Dulce empalidecesse.


Sua mãe passara a vida envolvendo-se com homens errados. Homens que não a queriam, que a magoavam, enquanto Dulce a tudo assistia. Dulce cresceu e logo cometeu o mesmo erro. Com Poncho, o ex-marido.


-     De novo, não - murmurou, abrindo o armário de onde tirou uma aspirina. - Nunca mais.


O encanto se acabara. Ela aprendera a lição da ma­neira mais difícil. Não seria tola novamente. Não tinha a intenção de correr atrás de um homem que jamais teria, só porque ele era viril e bonito e provocava-lhe arrepios quando as peles se tocavam. Não tinha a in­tenção de fazer nada que envolvesse as palavras emo­ções, sentimentos, desejo.


Tinha que levar em conta sua auto-estima, seu or­gulho, que eram suas armas para manter a cabeça erguida. Mais importante de tudo, tinha que pensar em Charles. Eles eram uma família, inseparáveis. E, a palavra família fora censurada na vida de Ucker e bastava mencioná-la para que os olhos deles se tor­nassem mais escuros e sombrios. Ucker não era para ela e Charles. De jeito nenhum.

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