um pai perfeito

capítulo 96

Apesar de toda boa vontade, quando se cruzaram no corredor, ele parou abruptamente. Ela também.

Pela primeira vez em duas semanas, Dulce olhou direto no rosto de Ucker. Apenas alguns passos os separavam. Quando os olhares se encontraram, Ucker sentiu que algo muito especial estava acontecendo entre ambos.

Os lábios de Dulce tremeram. Os olhos, aquelas duas gotas azuis que escureciam quando ele a provocava, estavam límpidos, meigos, doces, ansiosos...

Ucker recuou alguns passos. Fechando os olhos, sentiu um tremor sacudir-lhe o corpo. A alma e o co­ração de Dulce estavam refletidos naquele olhar. Dian­te da enormidade que Dulce revelava, ele respirou fun­do, aliviado.

Mas, quando abriu os olhos, o rosto de Dulce estava fechado, sombrio. Os ombros estavam rígidos. Ela pa­recia mais alta. A suavidade desvanecera-se e o olhar... parecia ver através e além dele.

Lentamente, ela se voltou para o Dr. Lowden, en­quanto continuavam a caminhar pelo corredor.

Já estavam muito próximos, quanto Lowden cumpri­mentou Ucker, que respondeu com um aceno de mão.

- Dulce - Ucker chamou-a gentilmente.

Ela o olhou e, inclinando a cabeça, cumprimentou-o.

-     Dr. Uckermann, estou contente por vê-lo de volta ao hospital - ela disse sem parar de andar.

Uma resposta polida, profissional em todos os senti­dos. Ucker sentiu-se frustrado. Voltando-se, Ucker viu-os afastando-se pelo corredor. Viu como Lowden pou­sou a mão nas costas dela quando abriu-lhe a porta dando-lhe passagem. Era o gesto de um marido. Ou de um amante em potencial. Ucker percebeu que Dulce se contraiu levemente, apesar de não ter recuado.

Ucker cerrou os punhos sem importar-se com o fato de alguém notar.

Dulce não estava apaixonada por Joe Lowden. Ainda não. Era ele, Ucker, quem a deixava perturbada. Lera a verdade nos olhos dela, nos lábios. Mas, isso não mudaria nada.

Parado no meio do corredor, Ucker, de repente, encarou a realidade. Admitiu o que estava escondendo desde o primeiro dia em que ela entrara na casa dele.